O ponto de vista dos carcereiros foi, primeiramente, enfoque da obra Carcereiros, de Drauzio Varella. Depois, virou série de sucesso tanto na Rede Globo quanto na plataforma Globoplay – que já conta com duas temporadas – e agora chegou às telas de cinema.
Caso você não conheça o livro ou tampouco a série, é perfeitamente possível entender a trama do longa – principalmente por conta da falta de complexidade do enredo. Mas sem o conhecimento prévio e mais profundo do protagonista, o filme se torna dispensável.
A história gira em torno de algumas horas do presídio em que trabalha o carcereiro Adriano e que recebe um terrorista (interpretado por Kaysar Dadour), acusado de matar crianças num bombardeio. Sua chegada causa revolta nos outros presos e dá início à toda a ação. Inclusive, ação é o que não falta nesse filme. A grandiosidade das inúmeras cenas de ação impressiona. Não é sempre que vemos produções brasileiras desse gênero, muito menos com tamanha qualidade.
Porém, ainda que as cenas sejam muito bem feitas no que diz respeito aos efeitos visuais, elas tomaram conta de toda a trama, deixando pouco espaço para o desenvolvimento dos personagens ou do próprio enredo.
O arco do terrorista é facilmente esquecido depois de alguns minutos de filme e, na verdade, é por muitas vezes difícil se lembrar do propósito de toda a história. O próprio carcereiro Adriano, que deveria ser o personagem principal, acaba sendo apagado – o seu papel no desenrolar da história é quase nulo, não tendo qualquer influência em nenhum dos grandes acontecimentos.
Tanto o livro de Drauzio, quanto à série de TV produzida pelo Grupo Globo, tratam de forma muito humana a relação dos carcereiros com o espaço do presídio e também com os presidiários, mas o longa peca nesse aspecto. Há algumas (poucas) tentativas de demonstrar a vida de Adriano fora do presídio, conversando com sua filha e com uma psicóloga, mas são diálogos rasos, insuficientes para que seja criada uma conexão ou empatia entre o personagem e o público que não acompanhou as obras anteriores.
A tentativa de representar a diversidade dos encarcerados é válida. São apresentadas as facções, os religiosos regenerados, os criminosos do “colarinho branco” e até os que possuem transtornos mentais e não deveriam estar num presídio normal, mas são esquecidos pelo sistema. A crítica ao sistema está presente durante toda a trama, mas assim como os outros temas não é desenvolvida de forma satisfatória.
Quanto ao elenco, todos cumprem bem seus papéis, incluindo Kaysar Dadour, que fez sua estreia como ator e logo depois já engatou em uma novela da Globo. Mas o destaque vai para os atores Rômulo Braga e Rainer Cadete que, apesar de chefes de facções, são responsáveis pela maior parte dos alívios cômicos.
Mesmo com um enredo raso, Carcereiros é válido para qualquer fã de filmes de ação e entretém sem exigir muita atenção, principalmente para aqueles que já estão familiarizados com o formato da série.