O ano de 2015 ficou marcado como o ano do feminismo, que por coincidência chegou a Hollywood. Quando ‘Carol’ foi exibido no Festival de Cannes, deu o que falar por causa de sua polêmica envolvendo um grupo de mulheres que foi proibido de assisti-lo por não estar usando salto alto – que faria parte do traje de gala. Pelo discurso feminista da “oscarizada” por ‘BoyHood’ Patricia Arquette e a afirmação feita pela revista Variety de que a atriz Cate Blanchett, tivera um relacionamento homo afetivo no passado. A atriz negou tal calúnia. Mas estes fatos só contribuíram para atiçar ainda mais o público a ver o novo trabalho de Todd Haynes, diretor de excelentes obras como ‘Longe do Paraíso’ e ‘Não Estou Lá’ (com Blanchett também no elenco fazendo de maneira peculiar Bob Dylan). Haynes é uma espécie de “faz de tudo”: é diretor, produtor e roteirista; e agora enche os olhos do público com mais uma adaptação de Patricia HighSmith, romancista que também teve livros seus adaptados por alguns diretores de peso como Hitchcock (‘Pacto Sinistro’) e Anthony Minghella (‘O Talentoso Riplay’).
‘Carol’ narra a história de duas mulheres que têm suas rotinas maçantes alteradas quando se conhecem, se tornam amigas e se descobrem apaixonadas. Carol Aird é uma mulher fina e caprichosa que está prestes a se livrar do marido obcecado e machista. Therese Belivet é uma jovem meiga que trabalha numa loja de departamentos e está de noivado marcado. Ambas almejam as mesmas coisas: não viver de aparências e se sentir livres para serem felizes com os desejos de suas naturezas. É de forma intensa que as duas vão se envolvendo e decidem deixar tudo para trás para viver a felicidade. O romance entre as duas não começa logo de cara, já que as duas estão com problemas pessoais e que antes de cair de cabeça no relacionamento, precisam resolver alguns assuntos, embora mostrem interesse uma pela outra.
Haynes exercita sua habilidade na direção e realiza mais uma obra encantadora e bonita, com estilo de filmes clássicos convergida numa fotografia em tons que realçam a beleza de uma bela Nova Iorque e sua poesia que fala por suas imagens. Sem recorrer a qualquer tipo de defesa ao feminismo ou homossexualismo, é perfeito na personagem-título, numa performance que Blanchett (vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por ‘O Aviador’ e principal por ‘Blue Jasmine’) faz de forma magnífica. Rooney Mara é uma ilustre e agradável presença que também faz bonito – com gestos delicados e agressivos nos momentos propícios. Embora o filme fale de amor, o espectador sente falta dele durante mais de uma hora de exibição. Paixão não é o foco, mas não dificulta no apreço que se tem por ele.
‘Carol’ compõe uma estética que pode ser comparada às formosidades dos filmes europeus, composto de uma belíssima fotografia de Eward Lachman (que trabalhou com Haynes em ‘Longe do Paraíso’ e ‘Não Estou Lá’. Ainda co-dirigiu o polêmico ‘Ken Park’) e que não deixa de ser uma linguagem cinematográfica moderna. Não apenas valorizado pela fotografia como, também pela direção de arte e todo o restante, como o figurino e a trilha acentuada perfeitamente, com misto de silêncio. Um grito de alforria em uma época que o preconceito era maior que nos dias de hoje.