O texto épico que finaliza a obra-prima “Os Imperdoáveis” (1992) pode muito bem ser comparado à vida épica de seu diretor Clint Eastwood, que completou 86 anos nesta terça-feira (31/5). Considerado pela revista Empire como o segundo nome mais importante entre os 100 maiores astros de todos os tempos, Clint nasceu em São Francisco, em 1930, mas passou a maior parte da adolescência em Oregon e se mudou para Seattle em 1951, já com 21 anos. Na cidade, Clint, Jr., como era conhecido, entrou para o exército onde conheceu o amigo que lhe indicou o primeiro trabalho no cinema, na Universal Pictures.
Na volta à Califórnia, fez sua estreia como ator em um papel não creditado em ‘Revenge of the Creature’ (1955). Mas foi apenas em 59 que conseguiu seu primeiro papel importante, como coadjuvante na série televisiva ‘Rawhide’. Clint atuou por seis anos na série onde acabou roubando o posto de protagonista.
Em seguida, viria o convite que mudaria sua carreira, em 1964. Sergio Leone, dos mais importantes cineastas italianos, chamou o ator para interpretar “o homem sem nome” de ‘Por Um Punhado de Dólares’, filme que deu início ao gênero ‘bang bang à italiana’ ou ‘western spaghetti’. Após a dupla Clint e Leone realizar ‘Por uns Dólares a Mais’ (1965) e ‘Três Homens em Conflito’ (1966), o ator já era considerado um astro.
Clint Eastwood em ‘Por Um Punhado de Dólares’
Nos anos 70, Eastwood se destacou no papel do detetive Harry Callahan, também conhecido com Dirty Harry, em ‘Perseguidor Implacável’, ‘Magnum 44’, ‘Sem Medo da Morte’, ‘Impacto Fulminante’ e ‘Dirty Harry na Lista Negra’. Na mesma época Clint fez sua estreia na direção com ‘Perversa Paixão’. No início, o ator estrelou a maioria dos filmes que dirigiu, como ‘Escalado para Morrer’, ‘Rota Suicida’, ‘Bronco Billy’ e ‘O Destemido Senhor da Guerra’.
Na década de 80, o agora ator e diretor Clint Eastwood se dedicou à política, sendo eleito prefeito da cidade de Carmel, em 1986, na Califórnia. Ele continuou sendo convidado para ser mais ativo no partido Republicano, mas preferiu se concentrar mais na carreira cinematográfica.
Em 1992, finalmente Clint dirige ‘Os Imperdoáveis’, considerado por grande parte da crítica como o último grande faroeste do cinema americano, filme que o consagrou como dos diretores mais importantes no país. A produção conquistou quatro prêmios Oscar, incluindo Melhor Diretor e Melhor Filme. Dois anos mais tarde, dirigiu e estrelou o drama romântico ‘As Pontes de Madison’, ao lado de Meryl Streep, que resultou em grandes números de bilheteria.
Clint Eastwood e Maryl Streep em ‘As Pontes de Madison’
Em 2003, o drama ‘Sobre Meninos e Lobos’ rendeu um Oscar de Melhor Ator para Sean Penn e um de Melhor Ator Coadjuvante para Tim Robbins. Provavelmente faz parte dos seus três filmes mais importantes, com uma crítica pesada à cultura e história americana, em uma época conturbada de início da Guerra do Iraque. No ano seguinte, mais um filme seu voltou a render duas estatuetas da Academia para seu elenco, desta vez para Hilary Swank e Morgan Freeman pelas atuações no forte filme ‘Menina de Ouro’, que também lhe rendeu uma nova estatueta de Melhor Diretor.
Clint Eastwood e Hilary Swank em ‘Menina de Ouro’
Clint ficou quatro anos sem atuar, voltando apenas no tocante ‘Grand Torino’ e seguindo com grandes filmes como ‘A Conquista da Honra’ e ‘Cartas de Iwo Jima’, em que trouxe a batalha entre EUA e Japão na Segunda Guerra sob ambas as perspectivas. O que lhe garantiria o reconhecimento dos orientais em 2009, ao conceder ao diretor ‘A Ordem do Sol Nascente’, prêmio honorário do governo japonês.
Clint Eastwood em ‘Gran Torino’
Clint Eastwood ainda abordou diversos temas diferentes com ‘Invictus’, ‘Além da Vida’, ‘J. Edgar’, ‘Trouble With the Curve’, ‘Jersey Boys’, ‘Sniper Americano’ e ‘Sully’, com grandes bilheterias e repercussão, o que podemos dizer que já haviam virado sinônimos dos filmes do astro.
Clint Eastwood no set de ‘Sniper Americano’, com Bradley Cooper
Mesmo marcado pelo jeito durão em que incorpora em seus filmes, Clint nunca afastou as pessoas do cinema, pelo contrário, provou que era um sujeito de sensibilidade artística única, com uma paixão por música, principalmente jazz e pela sua família. Eastwood foi casado duas vezes e tem cinco filhas e dois filhos, de cinco mulheres diferentes. Kimber (nascida em 1964), com Roxanne Tunis; Kyle (nascido em 1968) e Alison (nascida em 1972), no casamento com sua ex-esposa Maggie Johnson; Scott (nascido em 1986) e Kathryn (nascida em 1988), com a aeromoça Jacelyn Reeves; Francesca Ruth (nascida em 1993), com Frances Fisher, e Morgan (nascida em 1996) com Dina Ruiz, relação que acabou recentemente em 2013.
Podemos dizer que Clint Eastwood é um patriota fervoroso, sendo filiado ao Partido Republicano desde os anos 80 e tendo ilustrado isso em seus filmes, como na cena final de Os Imperdoáveis, quando no personagem William Munny ameaça matar todos que não cumprirem sua visão de moralidade, com a bandeira americana sutilmente no fundo. Mas Clint sempre foi razoável, cobrando igualdade social e étnica em seus filmes e sempre tentando estar do lado da justiça. Um homem sem igual e perdoável sobre qualquer questão.