Quem nunca se sentiu pressionado ao ser comparado a um primo bem sucedido, a uma tia que alcançou grandes distâncias em pouco tempo, ou a um irmão com talentos natos? Em um mundo cada vez mais competitivo, as pessoas tendem a se cobrar para ser – ou se sentir – melhores que as demais, deixando que a insegurança lhe consuma, mais e mais, até que os padrões, que já são altos, se tornem inalcançáveis a ponto de gerarem sérios problemas de saúde.
Não, esta não é uma crítica de um filme sério, denso e repleto de gatilhos que farão com que as pessoas saiam do cinema com uma sensação ambígua de tristeza e prazer. Em vez disso, viemos hoje falar sobre o mais doce lançamento da Disney, Encanto.
Não é novidade pra ninguém que a Disney gosta de retratar assuntos sérios e relevantes em suas obras, escondendo-os nas entrelinhas para que os adultos possam refletir enquanto as crianças se divertem e cantam as belíssimas melodias dos filmes. Felizmente, Encanto não é uma exceção.
A obra conta a história de Mirabel, uma jovem que faz parte da família Madrigal. Moradores de uma vila isolada na Colômbia, a abuela da família, foi presenteada com um milagre após perder seu marido muitos anos atrás, e desde então as próximas gerações da família tem adquirido poderes mágicos incríveis, que vão desde controlar o clima até super força.
Mirabel, entretanto, é a exceção. Enquanto seus familiares podem mudar de forma e até criar flores com o simples pensamento, Mirabel não possui poder algum, o que a faz se sentir totalmente deslocada da família. Dessa forma, se esforça muito mais do que seus primos e irmãs pra conseguir a aprovação de sua avó, temendo nunca ser boa o bastante.
Ainda que muitos filmes percam a linha e se esforcem demais para trazer uma carga épica e grandiosa, Encanto não sofre desse mal, sendo uma história bela, contida e espontânea, sabendo dosar suas propostas de reflexão com momentos de humor, fofura e mistério. Os personagens acabam sendo tão interessantes que, assim como as crianças da vila, o público se torna obcecado por conhecer mais sobre cada membro da família Madrigal e seus poderes.
Enquanto o público vai se encantando com cada membro da família, os mistérios que cercam a trama vão sendo desenvolvidos de forma divertida e bem pensada. Dentre todos os personagens, o que mais merece destaque é Bruno – não podemos falar sobre ele, mas se vocês não contarem, eu não conto –, o tio que “previu o futuro e foi para não voltar”. A cada ato, os mistérios que envolvem o exílio de Bruno vão se tornando cada vez mais envolventes, com pitadas de tensão que tornam a obra cada vez mais completa e divertida conforme o quebra-cabeça vai se completando, peça por peça.
E, para completar o pacote completo de uma obra que tem tudo para se tornar um clássico da Disney, a trilha sonora de Encanto é simplesmente fenomenal, alcançando a qualidade sonora de Frozen com músicas belíssimas que não só grudam na mente, mas trazem noções e significados ainda mais delicados e sucintos para a obra como um todo. Guiam o espectador através de descobertas e aprofundamento de personagens: os espectadores são apresentados aos membros da família Madrigal, aos problemas de Luisa e Isabela, às desavenças da família com Bruno e muito mais, tudo através de divertidas canções que se destacam mais a cada ato. Afinal, não dava para esperar menos da mente brilhante de Lin-Manuel Miranda, não é mesmo?
Dessa forma, Encanto se prova um dos melhores filmes da Disney desde Frozen, conquistando os espectadores com músicas incríveis, personagens cativantes e, a cima de tudo, mensagens profundas, mas delicadas. Mostra a importância da família, onde todos devem ter seu espaço e ser respeitados, indiferente dos talentos, ambições e conquistas de cada um. Indo um pouco além disso, ressalta a importância da autoconfiança e das necessidades de conhecer a si mesmo e ao próximo, tendo em mente que todos passam pela própria batalha, ainda que não pareça. Afinal, se a grama do vizinho é mais verde, quem dirá a grama dos primos e irmãos.