“Crimes em Happytime” | Comédia brinca com gênero policial de forma escrachada e nada fofa

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Nada de Caco, Miss Piggy ou Urso Fozzie. Nada de conversas fofas ou músicas infantis para alegrar a criançada. Crimes em Happytime adota seu perfil escrachado e faz uma comédia adulta, mas longe de ser madura.

Com o plano de explorar e brincar com o gênero policial, o roteiro de Todd Berger mantém o padrão de filmes clássicos dos anos 80 e 90 sem mudar uma vírgula. Há um mistério que força a união de dois policiais extremamente diferentes e que, com o tempo, vão se conhecendo para no final ficarem tão unidos que mostram muitas características em comum.

Por sua vez, o plano de Berger, junto com Brian Henson não é péssima. Afinal, o gênero e o estilo de filme fez muito sucesso em produções recentes, como Anjos da Lei (2012) e Bright (2017). O problema está na infantilidade do humor de Berger e Henson, que atrapalha no desenvolvimento da história e deixa tudo enjoativo e mais longo do que o necessário.

Apesar do escracho dos dois, suas críticas sociais funcionam – mas em partes. O primeiro ato estabelece bem as diferenças, servindo como metáfora para o racismo, xenofobia e homofobia, constantemente presente nos Estados Unidos. Fantoches são descriminalizados apenas por serem fantoches. A ambientalização e a realidade apresentada são estabelecidas de forma bem feita, com fantoches chegando a ficar mais parecidos com os humanos para se sentirem mais aceitos na sociedade.

Essa realidade se mistura também com a linguagem das inteligências artificiais, que se rebelam sobre os humanos sabendo que não devem trabalhar como escravos, e que possuem capacidade de viverem por conta própria. O problema é que a resolução da história de Berger, ao invés de passar uma mensagem de conserto, esquece totalmente da crítica e constrói uma clássica e fraca trama de vingança. E para piorar, a inconsistência na mensagem é misturada com um humor bobo muito mal trabalhado na maior parte.

Piadas de genitálias, sexo e humor de quinta série são constantes nas linhas de Berger e todas as piadas acabam tendo uma extensão desnecessária, ultrapassando o “limite do humor”, o que estraga qualquer possibilidade do longa ter algum potencial em se manter interessante. A trama em si, por explorar clássicos, também não ajuda ao se tornar previsível e banal.

Melissa McCarthy mantém seu nível de trabalho e não ajuda o filme a se desenvolver positivamente, conseguindo reforçar ainda mais como o humor do filme é mal escrito. Seu exagero na atuação aumenta a vergonha alheia que muitas cenas proporcionaram, fazendo o espectador só torcer para aquilo ter um fim. Mas, apesar de não parecer pelo texto, as risadas são dadas. Contudo, por pouco tempo.

No caso, Berger e Henson não se controlam nos momentos de piadas e exageram, fazendo o espectador ir criando essa vergonha alheia aos poucos, matando o prazer da história, o que, para uma obra que não encanta no humor, é péssimo. Afinal, reviver tramas clássicas, como de “Chinatown” (1974), nunca é demais. Mas essas só são bem vindas quando bem feitas, o que aqui é inexistente.

Entretanto, a proposta em ser algo despretensioso faz do longa ter o mínimo valor, junto com os personagens. Não na essência, mas no trabalho de fantoches. Seus designs seguem o padrão dos Muppets, mas de modo avançado. A direção de Henson explora bem os bonecos para ampliar o exagero, com cenas gore e chocantes, mas que, com fantoches, tornam o visual interessante para passar uma mensagem.

No fim das contas, a tentativa de ser uma comédia de qualidade é frustrada. Com seu humor de quinta série, Crimes em Happytime funciona poucas vezes, apesar de trazer uma narrativa costumeira que agrada por explorar uma trama já do nosso paladar. Em geral, a falta de fofura com fantoches só faz da nova obra de Brian Henson um erro.

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