Ana é uma mulher confusa, supersticiosa e com uma ambição por novidades, a sua separação é uma busca por um novo modo de enxergar a vida; já Fábio é totalmente contrário de Ana, ele vê a vida de uma forma ingênua e simples, entende as mudanças e convive com elas. Fábio é daquele tipo de pessoa que, quando um vaso se quebra, não o substituí por outro tão facilmente, mas sim tenta consertá-lo.
O filme de Luiz Villaça retrata com sutileza as mudanças que os anos nos trazem, tanto em nossas vidas, quanto nos locais urbanos da cidade de São Paulo, que estão cada vez mais abandonando a identidade histórica para serem tomados por prédios comerciais. O golpe de ver as coisas se transformarem é duro, e ver que não é possível ser a mesma pessoa depois de tanto tempo faz com que desistamos de coisas que prometemos eternizar, mas o filme vai nos mostrando que mudar nem sempre é acabar com alguma coisa, às vezes precisamos enxergar as coisas de forma diferente e encontrar um novo jeito de seguir sem perder nossa essência.
A construção de Ana sempre visa uma mudança visual, mostrando que a personagem sente falta daquela experiência capaz de reparar os pequenos detalhes. Tarefa árdua para Fábio, que acredita ter encontrado tudo que já existe na sua vida, sua ambição é apenas conviver com o seu cotidiano e deliciar-se com ele. A química entre os personagem é muito bem executada no filme, parece um casal do cotidiano que qualquer um de nós conhecemos ou que somos. No casal você enxerga um romance que perdeu sua validade, mas mesmo com esse vazio o espectador acredita realmente que existiu algo muito forte entre os dois e acredita que o desgaste existe, mas que o amor entre eles prevalece.
“Que dia você nasceu?” – Ana
“No dia em que eu conheci a minha esposa.” – Afonso (Juca de Oliveira), dono do Marabá.
Esse diálogo, que nos faz pensar sobre questões pessoais, os hábitos ganhos ou deixados pelo tempo por uma simples rotina, é uma pequena demonstração de que Juca de Oliveira e Laura Cardoso, que interpreta a Dona Yolanda, são donos das melhores frases do filme. As cenas no Marabá e no antigo restaurante demolido são lindas, repletas de significados que definem o filme muito bem. Destaque para a boa interpretação de Marisa Orth, que vive a personagem Olga, muito bem humorada, porém com muito ceticismo sobre a vida.
O sentimento de vizinhança e proximidade sentida vai pegar em cheio os paulistanos de plantão. Lugares como o Cinema Marabá, o Casarão do Ipiranga, os bairros Liberdade, Higienópolis, Bixiga e Bom Retiro, a Ponte Estaiada, a Pinacoteca, entre outros, estão no filme deixando o espectador à vontade e familiarizado com o ambiente.
Luiz Villaça brinca com o público mostrando que um dia você constroi coisas e no outro você está demolindo algumas delas. ‘De Onde Eu Te Vejo’ é uma história vista pela nossa janela todos os dias, mas que perdemos a noção do quão belo certas coisas eram e principalmente o quão incrível novas coisas podem se tornar. Um filme nacional fora da fórmula de comédias românticas feitas por aqui. Deve ser visto com toda sua leveza e linda mensagem. Representa um voto de confiança para que as coisas por aqui continuem sendo feitas com autenticidade e primor.