Comédias americanas estão numa fase bastante complicada quando falamos sobre credibilidade. Quase nenhuma produção consegue prender o espectador da forma como deveria, tanto por causa dos vários clichês utilizados, e que o público já não aguenta mais, quanto pelo receio dos produtores em tornar cômicas situações que podem vir a ser consideradas preconceituosas ou de mal gosto, fazendo com que eles optem por roteiros medianos e que encaixam em uma fórmula rentável, porém pouco eficiente à memória do público.
‘Dois Caras Legais’ une dois atores de enorme peso, como o veterano Russell Crowe, responsável pela interpretação de personagens aclamados como Máximus Décimus Meridius, de ‘Gladiador’ e John Forbes Nash Jr., de ‘Uma Mente Brilhante’, e Ryan Gosling, conhecido principalmente por seu papel como o motorista de ‘Drive’.
Crowe não é um ator comum nas comédias, com isso a publicidade de ‘Dois Caras Legais’ já ganha um reforço, afinal ver um ator desse nível embarcando em novidades é sempre interessante, ainda mais ao lado de um ator como Gosling.
Na comédia, que acontece em Los Angeles nos anos 1970, os detetives particulares Holland March, interpretado por Gosling e Jackson Healy, vivido por Crowe tornam-se uma dupla, porém um não tem nada a ver com o outro, nada mesmo. Juntos eles precisam encontrar Amelia, uma garota desaparecida e que está sendo procurada por muita gente nada boa. O caso de Amelia parece estar ligado ao da morte da estrela pornô Misty Mountain, que sofreu um acidente de carro. Durante a investigação, ambos começam a entender o que está acontecendo, e percebem que a situação é mais feia do que pensavam, podendo até levá-los à morte.
O longa, dirigido por Shane Black, é uma comédia policial que tem história. Por mais que isso pareça óbvio demais de se mencionar, acredite, não é. Tem muita comédia por aí que não tem uma história plausível. ‘Dois Caras Legais’ tem suas questões inacreditáveis, claro, mas tem um roteiro bom, e é em cima do roteiro no qual a comédia foi construída, e não de maneira contrária. O filme também se utiliza de clichês, mas os ironiza, utilizando-se de dois personagens muito bons, interpretados por atores melhores ainda.
O tom cômico no filme é mérito de Russell Crowe e Ryan Gosling, principalmente de Gosling que se utiliza de caras e bocas ótimas, o que cria uma identificação imediata com o público.
Não há aqui aqueles exageros insistentes, ou aquelas situações escrachadas e preconceituosas, e muito menos personagens sem personalidade, que só são introduzidos na história para a inserção de piadas estúpidas e que no fundo não fazem nenhum sentido para o desenvolver da história. Em ‘Dois Caras Legais’ a comédia é um personagem tanto como os detetives Holland March e Jackson Healy e que possui um peso tão proporcional quanto a história em que se encaixa, e é claro que esse equilíbrio tem total relação com a direção de Shane Black e também com o roteiro assinado pelo diretor, juntamente com Anthony Bagarozzi.
Outro ponto que merece destaque na comédia é a bem trabalhada direção de arte, assinada por David Utley, que honrou a época em que acontece a história, no caso, os anos 70. Tudo está de acordo, e a ambientação realmente acontece na visão do espectador, o qual é o grande alvo.
Por mais que as comédias americanas estejam com dificuldade em acertar o tom, produções como ‘Dois Caras Legais’ trazem uma espécie de luz para o gênero. Essa luz anda rara, mas quando aparece, é gostoso apreciá-la.