Ao aceitar um papel diferente do que está acostumado a interpretar, o ator Matt Damon retorna em “A Grande Muralha”, filme dirigido por Zhang Yimou (“O Clã das Adagas Voadoras”). O longa, de roteiro muito básico, não se esforça muito para que o espectador demore a entender a premissa e deixa-o curioso para conferir o que o diretor preparou, uma vez que Zhang conquistou o território ocidental com filmes esteticamente perfeitos.

A história gira em torno de William (Damon), um mercenário europeu que está no Oriente com seu amigo Tovar (Pedro Pascal) em busca de pó preto, isto é, a pólvora. Entretanto, seu grupo é atacado por uma misteriosa criatura e logo após se deparam com a Grande Muralha, que está sendo guardada por um grande exército. Ali, eles descobrem que a construção é uma linha de defesa contra uma legião de monstros, que atacam a cada 70 anos. Tentando sobreviver, os amigos entram nessa guerra sem saber se sairão vivos.

Pode parecer um filme de suspense, mas não é. Com esta premissa, meio “água com açúcar” e com muito clichê, o filme mostra exatamente aquilo que o espectador quer ver. A diferença deste filme para “O Último Samurai”, por exemplo, em que um estrangeiro precisa provar ao seu mestre que é apto a fazer parte do exército dos Samurais, é que rapidamente o personagem de Damon consegue conquistar a confiança do general. No primeiro ato, William mostra sua habilidade com arco e flecha e, logo, torna-se membro do grupo.

Outro destaque são as mulheres como instrumentos de guerra. Onde, em um exército, as mulheres seriam uma arma fundamental para derrotar bichos nefastos? É possível vê-las seguradas por cordas, empunhando lanças, cortando os monstros. A demonstração clara da criatividade do roteiro dispensa maiores complicações, fazendo da cena uma verdadeira arte.

Das flechas lançadas ao ar até o exército lutando bravamente contra os bichos peçonhentos, o diretor consegue caracterizar as sequências de ação, tornando cada uma delas diferente da outra. O filme torna-se dinâmico, evitando o excesso de cortes bruscos e focando nas cenas de luta e coreografias bem ensaiadas. O espectador consegue acompanhar cada cena, sem ficar confuso ou perder qualquer informação. Além disso, o cenário bem colorido transmite ainda mais emoção. Cada elemento está no seu lugar e pertence a um espaço-tema.

Para quem está acostumado a ver Matt Damon em atuações mais sérias, como na franquia “Identidade Bourne” ou “O Talentoso Ripley”, vai se surpreender com sua faceta de arqueiro. Suas longas madeixas até podem lhe fazer uma mera semelhança ao elfo Legolas da trilogia “O Senhor dos Anéis”. Entretanto, ele se perde no meio do exército como se fosse um “peixe fora d’água”. Em meio a soldados com armaduras coloridas a la Power Rangers, o personagem fica um pouco deslocado, mas se sai bem, de acordo com seu propósito.

O exagero na computação gráfica também é um agravante. A direção de arte peca no design dos monstros, tornando-os iguais, com apenas dois modelos de criaturas. Típico trabalho de colagem, em que os profissionais tornam-se resistentes ao tentar criar algo diferente. As cenas aéreas também não são novidades, mas não comprometem o resultado final. Sem contar os figurinos que dão uma repaginada aos filmes de fantasia medieval, fugindo do velho e surrado para o elegante e admirável.

Algo que não podemos esquecer é a trilha sonora. Composta por Ramin Djawadi, responsável pela música das séries “Game of Thrones” e “Westworld”, a trilha acerta em cheio ao se apoiar em melodias com tons orientais, apostando em mais que a imagem em si, transmitindo toda a fantasia presente na narrativa.

“A Grande Muralha” está longe de ser o melhor blockbuster do ano, mas consegue entreter, independente da mensagem real em que o filme gostaria de passar, que é a ganância falando mais alto. Assista e tire suas conclusões!

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