Exibido na Mostra Panorama no Festival de Berlim em fevereiro deste ano, Greta enfim estreia em território nacional. Inspirado na peça da década de 70 de Greta Garbo de Fernando Melo, o longa deixa de lado um pouco o tom cômico da obra original, pelo foco do diretor Armando Praça se manter no tom dramático, mas sem descartar o humor. E essa mudança funcionou perfeitamente sem afetar a mensagem que a narrativa passa com seu simpático e sensível argumento.
Praça faz bonito em seu primeiro longa-metragem, tornando Greta intenso ao conseguir tocar no âmago do espectador. Rodado em Fortaleza (onde se passa a história), o cineasta faz uma intenta reconstituição do medo da solidão na vida de um homossexual idoso. O filme se impõe pelo realismo deste detalhe, bem como se acentua pelo desempenho de seu delicado roteiro.
Pedro – interpretado pelo esplêndido Marco Nanini – é um enfermeiro de 70 anos em busca de um leito para sua amiga e vizinha transexual Daniela, que sofre de insuficiência renal no hospital em que ele trabalha. Com a superlotação, o único lugar com vaga é a ala masculina a qual Daniela se recusa a ficar. Apesar de entender as razões para sua rejeição (é perceptível que ela batalhou muito para ser reconhecida como mulher e por não se sentir confortável ao ficar despida na frente de homens desconhecidos), Pedro a coloca lá contra sua vontade.
Pedro decide ajudar Jean, um homem ferido e acusado de assassinato, a fugir do hospital para não ser preso, dando seu lugar de leito a sua amiga. Pedro então decide levá-lo para sua casa. Assim, o público passa a descobrir tanto sobre a intimidade do personagem, quanto o início da relação amorosa entre os dois.
No entanto, o enredo oferece muito mais que um tórrido romance, oferecendo dignamente uma história linear com resistência em situações vulneráveis – Daniela que está debilitada e doente, sempre se mantém maquiada e permanece de pé ou até mesmo o medo de Jean, que luta para não ficar encarcerado estando gravemente ferido – porém coleciona personagens com características viscerais.
Outra prova disto é a vigorosa atuação de Nanini, que passa uma verdade em seu protagonista. Nas mãos de Praça, o ator particularmente dá um show de interpretação. Apesar de ter um personagem título que ganha bastante destaque (Greta, como Pedro gosta de ser chamado quando está na intimidade), o filme dá espaço para os secundários.
Greta trata de temas de maneira impiedosamente adulta, de um jeito sério que não deixará ninguém impassível. Temáticas profundas tais como homossexualismo vetusto, marginalização, transexualismo, vaidade, solidão e aceitação, o filme consegue um ótimo resultado, apoiando-se numa história veemente.