O sucesso de La La Land em 2016 abriu as portas para que os críticos e Hollywood determinassem que a era dos grandes musicais havia voltado – e eles estavam certos. Esse ano, depois de alguns atrasos por conta da pandemia, temos previsão de lançamento de diversos musicais, entre eles Todos Estão Falando Sobre Jamie, Querido Evan Hansen, Amor Sublime Amor e ainda Tick, Tick… Boom!, esse último dirigido por Lin-Manuel Miranda, mas quem abriu essa temporada foi Em um Bairro de Nova York e vai ser muito difícil superá-lo.
Os cartazes do filme vão te dizer que a história é do mesmo criador de Hamilton, mas antes de Hamilton já existia Em um Bairro de Nova York, que surgiu como um musical que estreou na Broadway em 2008 e ganhou 4 de 13 indicações ao Tony Awards (o Oscar do teatro musical), entre eles o de Melhor Musical. Muitas coisas fazem de Em um Bairro de Nova York um musical especial, a música que mistura hip hop, música latina e música contemporânea e a celebração da cultura latina são algumas delas.
Lin-Manuel Miranda conta que criou o musical para que ele mesmo pudesse protagonizá-lo (ele fez o Usnavi na Brodway) porque não existiam musicais que encaixassem um protagonista latino como ele e seu plano deu certo. O musical com um elenco quase completamente composto de latinos afro-latinos marcou a história da Broadway e o filme segue para esse mesmo caminho.
Em um Bairro de Nova York conta a história de Washington Heights, um bairro em Nova York que abriga uma grande comunidade latina. É nesse bairro que mora Usnavi (e se o nome te parece estranho, é porque é mesmo, mas a explicação é hilária), um jovem latino nascido na República Dominicana e criado nos Estados Unidos, mas que tem o sonho de voltar para seu país de origem e para fazer com que isso aconteça, ele junta cada centavo que ganha trabalhando na sua bodega, onde também emprega seu primo mais novo Sonny. Junto com Usnavi mora a Abuela Claudia, que não é realmente avó de ninguém biologicamente, mas é avó de todos por consideração.
Muitas histórias de imigrantes latinos são representadas por outros moradores do bairro. Tem a Nina, filha de um imigrante que vendeu parte de sua empresa para ajudar a pagar pela sua faculdade, mas Nina volta para Nova York contando que nunca se sentiu acolhida na universidade de elite, onde chegou a sofrer racismo e preconceitos. Temos também a história de Vanessa, por quem Usnavi é apaixonado, mas que só tem um objetivo em mente: sair de Washington Heights e se mudar para o centro para tentar a carreira de estilista.
Essas são apenas algumas das histórias que compõem o musical, mas o que realmente importa, e que une todas elas são os sonhos. Desde seus primeiros minutos o musical fala sobre como aquele bairro é movido pelos sonhos de seus moradores, seja o sonho de mudar o mundo, de sair do bairro ou sair do país, de abrir seu próprio negócio ou de ganhar 96 mil na loteria, cada um tem o seu e luta do jeito que pode para tentar torná-lo realidade.
Se por um lado Em um Bairro de Nova York é sobre sonho, por outro é sobre latinidade. Toda a trama, os personagens e as músicas são uma celebração genial da comunidade latina e do que ser latino longe de casa significa para esses imigrantes. Ainda que o Brasil não tenha tanto em comum quanto os outros países da américa latina, principalmente por conta do idioma, é inevitável se sentir representado e completamente mergulhado na cultura latina assistindo a esse filme.
Durante as 2 horas e meia de musical, que passam voando, somos levados à uma verdadeira festa, com músicas animadas, coreografias elaboradas e divertidas, histórias emocionantes e personagens extremamente cativantes.
O elenco, inteiramente composto de latinos e afro-latinos, como na Broadway, traz alguns rostos novos, mas também alguns conhecidos de musicais, como o protagonista Anthony Ramos, que interpretou John Lauren e Phillip Hamilton em Hamilton, Corey Hawkins no papel de Benny e Olga Merediz como Abuela Claudia novamente (ela também fez a personagem na versão da Broadway e chegou a ganhar um Tony Award por sua performance). Tanto os novatos quanto os veteranos se encaixaram perfeitamente como a família formada pelos moradores do bairro, cada um com sua peculiaridade, mas todos igualmente talentosos.
Há muito tempo um musical não me marcava como Em um Bairro de Nova York marcou. É um exemplo perfeito de adaptação que deu certo e talvez tenha até mesmo conseguido superar a versão dos palcos. Em um Bairro de Nova York é para fã de musical nenhum botar defeito, mas as músicas modernas e enredo atual podem transformar qualquer um em fã de musical também.