Entre erros e acertos, ‘Matrix Resurrections’ abusa da nostalgia e metalinguagem

Matrix revolucionou o cinema com seus aspectos narrativos e técnicos, como a popularização do efeito cinematográfico bullet time, e as discussões filosóficas e religiosas sobre a nossa existência. Então é claro, que desde o anúncio de um novo filme da franquia, a volta desse fenômeno ficou totalmente aguardado.

“Matrix Resurrections”, dessa vez dirigido apenas por Lana Wachowski, pois sua irmã Lilly decidiu não fazer parte do novo projeto, traz de volta os icônicos personagens Neo e Trinity, mais uma vez interpretado por Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss.

A história do novo longa, mostra Neo novamente preso à Matrix, vivendo sob o nome civil Thomas Anderson (Keanu Reeves), que é um game designer bem-sucedido, que recriou os eventos da trilogia original de Matrix, como um jogo do mesmo nome. Ele, sem se lembrar do que aconteceu no passado, frequenta um analista (Neil Patrick Harris), que prescreve as pílulas azuis, impedindo seu despertar. Até que tudo muda quando ele cruza o caminho de Trinity (Carrie-Anne Moss), também presa à Matrix e que agora atende pelo nome de Tiffany, ativando assim um novo despertar sobre a realidade que eles vivem.

O primeiro ato reintroduz o universo ao demonstrar como o Neo se encontra em um estado psicótico sobre o que é real ou não, uma discussão primordial para a história de Matrix. É interessante ver o personagem com a mente perdida e manipulada por novas formas tecnológicas de controle.

É também o momento em que o filme faz uma autoanálise com comentários ousados sobre a cultura hollywoodiana de realizar remakes, sequências e reboots de clássicos de sucesso. Dessa forma, é usado elementos de metalinguagem para abordar a existência do próprio filme, criando até um tom cômico e piadista, algo bem diferente dos filmes antigos, que são bem mais sérios.

A história que se passa anos depois dos eventos dos longas anteriores, mostra positivamente o legado de paz que Neo conseguiu estabelecer entre os humanos e as máquinas, que agora até trabalham juntas. Vemos também, os avanços tecnológicos que aumentaram a qualidade de vida do povo de Zion, que agora é conhecido como “Io”. A diretora Lana Wachowski, consegue trazer um discurso totalmente repaginado para o mundo atual, onde discute o uso da tecnologia como parte do cotidiano das pessoas, o que explora uma realista e profunda discussão sobre a manipulação presente no digital.

Além disso, o filme abusa de cenas de flashbacks dos filmes passados, o que para qualquer fã da franquia são momentos arrepiantes. Mas ao mesmo tempo, a direção erra ao usar excessivamente referências nostálgicas, dificultando o andamento independente do quarto filme, que acaba não inovando por conta própria. E mesmo tratando de temáticas tão pertinentes ao nosso tempo, o filme tem um roteiro morno, que vai perdendo força ao decorrer da narrativa e não causa tanto impacto.

Vale destacar, que mesmo a franquia sendo conhecida por suas técnicas cinematográficas, esse filme pode não surpreender tanto nos efeitos visuais, onde toda a sua força fica por conta do elenco, que construíram uma dinâmica incrível. Destaco os novos personagens, Bugs (Jessica Henwick), Agente Smith (Jonathan Groff) e Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II). E claro, a química perfeita entre os atores Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss, reafirmando que os filmes também se tratam de uma história de amor.

O ato final de “Matrix Resurrections”, consegue resgatar o fôlego, principalmente, por finalmente entregar o merecido protagonismo para Trinity, uma das maiores figuras femininas de sci-fi, ao elevar o seu status para o mesmo patamar de poder de Neo, proporcionando um fechamento muito digno para a proposta do longa.

No fim das contas, o universo de Matrix é uma fonte inesgotável de teorias e elementos narrativos únicos, que é sempre preciso revisitar para relembrar a grandeza dessa franquia para o cinema. É claro que o novo filme não supera o clássico de 1999, pois acaba entregando menos do que esperado, mas ainda consegue trabalhar novos conceitos sobre o mundo digital, enriquecendo e atualizando a sua história.

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