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Diante das nossas formações, o cinema e a literatura trataram o romance constantemente da mesma maneira. Recheados de visões sonhadoras, o amor presente nas histórias construíram narrativas clássicas, que com o tempo foram se desgastando, até pela experiência única de viver e compreender que nada presente nos filmes e nos livros poderia existir. O sonho de encontrar o amor verdadeiro e de um constante uso do “felizes para sempre” fechou o olhar mais real sobre relacionamentos, o que justifica o espanto diante das separações entre William Bonner e Fátima Bernardes ou de Brad Pitt e Angelina Jolie, por exemplo.
Através de um momento da busca por algo mais sincero sobre a vida, Um Amor Inesperado é um reflexo do verdadeiro sentido do relacionamento no mundo moderno.
Apesar de sua impressão mais alegre, com cores saturadas no cartaz, o longa surpreende em ser diferente de tudo aquilo que ele transmite em primeira visão. No conceito de fugir do convencional e trazer uma visão mais realista, La La Land – Cantando Estações (2016) conseguiu trabalhar isso de uma boa maneira, ao mostrar como determinadas decisões geram diferentes rumos da nossa vida e podemos não terminar a história da maneira como imaginávamos ou com quem imaginávamos.
No entanto, a trajetória do longa de Damien Chazelle termina nesse ponto, enquanto Um Amor Inesperado vai além e é o que transforma sua narrativa em um estudo sobre o amor. O primeiro grande choque do longa está em seus próprios protagonistas. Da mesma maneira como as histórias trabalham o amor de uma maneira infinita, a maioria é retratada a partir de um casal jovem, mostrando como o amor pode nos atingir cedo. Porém, a história aqui foca em um casal mais maduro, com seus quase 30 anos de casamento.
O que em primeira instância choca, também agrada por ser uma característica fundamental para a trama ser o que ela é. A partir da exploração de dois personagens mais velhos, a realidade é trabalhada melhor, provando que o “para sempre” não existe. Por mais que um casamento dure décadas e décadas, uma hora ele pode não existir mais. A narrativa trabalha um conceito de amor cíclico de maneira muito honesta e consegue trazer sensatez na história, sem forçar pontos específicos para a história ganhar o seu rumo certo.
O texto de Juan Vera e Daniel Cúparo conseguem trabalhar seus personagens e a história de forma bem direta, com tiradas nada maçantes, trazendo uma visão analítica de determinada situação sem ser engessado ou com frases prontas. Isso traz naturalidade na relação de todos os personagens, tornando tudo facilmente relacionável, seja por histórias pessoais ou por histórias de conhecidos. Os dilemas colocados em prática trazem um equilíbrio muito bem trabalhado sobre a sociedade atual – com um conceito de um amor menos fantasioso – mas também trabalha o lado mais convencional dos personagens, devido suas ideologias desenvolvidas pela idade.
Neste quesito, a narrativa de Vera e Cúparo sofrem seus principais defeitos. A jornada transmite uma mensagem única e que conversa muito bem com o público atual. Porém, a conclusão do longa segue uma linha diferente do filme de Chazelle e traz o convencional esperado. Por um lado, o final passa uma mensagem positiva sobre o amor e que, ainda haja existência de conflitos, haverá o momento de encontro com a pessoa da sua vida, reforçando a ideia do amor cíclico. Pelo outro lado, há uma quebra na mensagem proposta, o que consegue desagradar o espectador que estava imersivo.
Ainda assim é possível enxergar uma proposta parecida com a explorada na série cômica How I Met Your Mother, sobre a importância da jornada e não da conclusão. No entanto, a trajetória da sitcom conquista mais o espectador, até pela longa duração presente em Um Amor Inesperado, que se demonstra desnecessária, principalmente por repetir conceitos já muito claros em tela. Por sorte, Ricardo Darín e Mercedes Morán brilham como uma dupla perfeita. O longa se sustenta de forma natural pela presença dos dois em tela, que encantam com toda atuação madura, conseguindo carregar toda a história de maneira muito agradável.
Tudo isso faz de Um Amor Inesperado uma surpresa agradável pelo gênero, principalmente pelo tom cômico diante uma leitura mais madura e realista do que é o amor nos tempos atuais.
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