Baseada na série de livros de fantasia ‘As Crônicas de Gelo e Fogo’, escritos por George R. R. Martin, ela se passa na “Era Medieval”, no reino de Westeros. Inspiradas em períodos históricos, principalmente da Inglaterra da “Idade Média” e em universos mitológicos como o de ‘O Senhor dos Anéis’ de J. R. R. Tolkien, tanto a obra literária, quanto a televisiva, se destacam por seu foco maior no “contexto político”, do que nas batalhas e seres míticos. Em suas cinco primeiras temporadas ela era uma adaptação dos primeiros livros já lançados, com algumas alterações, chegando a ultrapassar o enredo do material escrito na obra original, ainda nos episódios finais da quinta temporada.
Na temporada seis, exibida neste ano de 2016, os produtores já não tiveram mais um “texto-base” para guia-los (ainda que tenham algumas indicações de Martim, sobre alguns desfechos), e a série assumiu o posto de única referência, por enquanto, para os fãs saberem o que acontecerá a seguir com os personagens. De certa forma essa nova condição aumentou ainda mais a atenção sobre o seriado, pois os “fãs-leitores” se deram conta de que provavelmente veremos um final na série, muito antes do que na versão impressa, o que encorpou ainda mais o número de telespectadores. Se ‘Game of Thrones’ já causou um frisson em suas temporadas anteriores, as sétima e oitava temporadas prometem serem ainda mais emocionantes para os espectadores.
A HBO já anunciou que em 2017 e 2018, as temporadas finais terão apenas sete e depois seis episódios. Como há muito ainda a ser resolvido da trama é provável que cada episódio traga acontecimentos importantes mantendo o interesse alto do primeiro ao último capítulo. O público mais atento já se acostumou a esperar episódios mais relevantes (que movem a narrativa), sempre no final de cada temporada, geralmente nos 9 e 10. Porém como a “last season” vai contar com um número reduzido de apenas seis episódios, a expectativa é de que cada acontecimento seja decisivo, fazendo com que seja a temporada final mais aguardada de um seriado, desde ‘Lost’.
Numa era pós-internet, onde as redes e canais de TV a cabo, como a HBO, tem que competir com o Netflix, surpreende que uma série, por melhor que seja, consiga perpetuar um último suspiro, de um modo quase instinto de se assistir seriados. Em uma época onde o canal de streaming mais acessado oferece séries de excelente qualidade como ‘House of Cards’ e ‘Demolidor’ com um preço relativamente baixo é um feito notável que alguns consumidores continuem adquirindo pacotes de TV por assinatura caros, apenas para acompanhar em primeira mão o período em que ‘Game of Thrones’ é exibido, protegendo-se dos “spoilers” pós-episódios, que infestam as redes sociais.
Em uma época em que os espectadores já estão acostumados a receber todos os episódios de uma série, de uma só vez, é no mínimo curioso que eles ainda se interessem por seriados em que tenham de esperar semana após semana pelo episódio seguinte. Essa espera semanal parece atribuir um toque especial para quem assiste, pois, cada episódio é um evento onde muitos espectadores reservam o horário das 22 horas de domingo, para acompanhar o novo episódio e depois debater em fóruns pela internet; e durante a semana discutir com os amigos nas escolas e no trabalho. Entretanto, ainda que ‘Game of Thrones’ tenha uma elevada qualidade cinematográfica em relação a séries de fantasia, isso significa que ela é “praticamente perfeita”, como afirmam os fãs mais fanáticos?
É inegável que ela é tecnicamente uma das melhores já produzidas, sucesso entre o público e a crítica especializada, mas isso não significa que ela não tenha muitos defeitos, muitas vezes ignorados pela maioria dos espectadores. O fato de ela ter um elenco extremamente qualificado, não diminui o erro de ele ter sido muitas vezes subaproveitado na maioria dos últimos episódios. Se nas primeiras temporadas a série se destacou por um conteúdo mais “adulto”, com sexo e violência sem nenhum pudor, é inegável que em algumas partes esses recursos foram utilizados de forma exagerada. Consequência disso é que na temporada cinco, uma parte da audiência se indignou com o excesso de cenas de violência contra mulheres, em especial numa especifica com a personagem Sansa.
‘Game of Thrones’ é certamente superior em qualidade técnica e em valor de entretenimento, quando comparamos com sua concorrente mais próxima no universo das séries, ‘The Walking Dead’. Infelizmente não se pode afirmar o mesmo, quando ela é comparada como obra cinematográfica com outras recentes, como ‘Roma’, ‘Os Sopranos’, ‘Breaking Bad’ e ‘Mad Men’. Mesmo que seja um pouco esdrúxulo comparar produções de gêneros e temáticas tão diferentes, não se pode negar que mesmo que a série baseada nos livros de R. R Martin consiga manter a empolgação do público, seu tom “novelesco” revela muitos defeitos, após uma análise mais apurada.
Ainda que muitas críticas das quais ‘Game of Thrones’ tem recebido sejam demasiado severas, a maioria delas se deve pelo fato de que a série tinha um potencial para ser ainda melhor. Ela já trouxe muitos avanços ao demonstrar que existe um espaço, também na televisão, para um público entusiasmado com obras baseadas na literatura fantástica. Por isso ela empolga tanto os fãs que já esperavam por um produto com essa qualidade, desde o filme ‘O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei’ e que agora podem encontrar também nas séries de TV. Por isso, esperamos que as duas últimas temporadas, como dizem os espectadores mais fascinados, sejam “épicas” e consigam explorar o que de melhor ela já nos apresentou até aqui.