Crossover é definido como um evento onde dois (ou mais) personagens de diferentes histórias ou mundos são unidos em um único produto. A televisão é uma amante do evento e já causou encontros épicos como Power Rangers e Tartarugas Ninja ou Scooby-Doo e Batman. O cinema também tem seus poderosos representantes e futuramente, duas franquias grandiosas podem entrar para o time.
Na última quarta (10), o ator Tyrese Gibson postou em seu Instagram um pôster de ‘Fastformers’. Sim, um crossover entre ‘Velozes e Furiosos’ e ‘Transformers’. O pôster já foi declarado arte de um fã, mas devido as duas franquias estarem no mesmo estúdio, esse sonho antigo dos atores (e do público) pode ser realizado. Para não ficarmos entediados enquanto ‘Fastformers’ não chega nas telonas, vamos conferir alguns crossovers que já invadiram a sétima arte.
A Marvel ficou marcada com a construção de seu universo compartilhado e com isso realizou vários crossovers, onde diferentes super-heróis se uniram para lutarem lado a lado. Mas bem, a Universal é pioneira no quesito crossover. Na década de 30 e 40 o estúdio ficou marcado por seus filmes de monstros, que com o tempo, tornaram-se clássicos do gênero terror e do cinema. No ano de 1931, o estúdio lançou ‘Frankenstein’ e ‘Drácula’. Entre 1931 e 1943, a Universal realizou mais três filmes do personagem de Mary Shelley e mais dois do vampiro de Bram Stoker. Em 1941, um novo monstro entrou para fazer parte da equipe da Universal, ‘O Lobisomem’. Cada um dos monstros tinha seu filme próprio, mas tudo mudou no ano de 1943.
‘Frankenstein Encontra o Lobisomem’ foi um crossover marcante na história do cinema e conta a história de Lon Chaney Jr., agora um lobisomem, a procura do Dr. Frankenstein na esperança de que este o liberte de sua maldição. Lon encontra o cientista morto, porém encontra sua criatura viva e causando o terror. Em 1944, a trindade do horror foi reunida em ‘A Mansão de Frankenstein’ onde conta a história do cientista Gustav Niemann e do corcunda Daniel, que ao fugirem da prisão e em busca de vingança, encontram o professor Lampini, que possui o esqueleto real do Conde Drácula. Niemann traz o vampiro de volta a vida, que aceita participar do plano de vingança do cientista, mas ao chegarem nas ruínas do laboratório do Dr. Frankenstein, encontram seu monstro e o Lobisomem congelados. A trindade também seguiu com ‘O Retiro de Drácula’ (1945) e com a comédia ‘Abbot e Costello Às Voltas Com Fantasmas’ (1948). Os monstros só voltaram a se encontrar em 1987 com o longa ‘Deu a Louca nos Monstros’, filme que conta com os monstros da Universal formando uma equipe, liderada por Conde Drácula.
Falar de monstros e não falar do combate entre os maiores monstros do cinema, seria no mínimo injusto. É perfil do Japão nos surpreender, ainda mais quando o assunto é cinema, e no ano de 1962 fomos surpreendidos com o encontro mais épico de todos: ‘King Kong vs Godzilla’. Após King Kong ser retirado de sua ilha e levado ao Japão, foi iniciado um embate monstruoso com o rei dos kaijus. O crossover é tão significante para a história do cinema que em 2020 teremos o mesmo embate entre os dois monstros em suas versões mais modernas. Em quem você aposta?
Animação é outro universo que adora realizar crossovers, e não é só na televisão. O cinema trouxe reuniões divertidas e curiosas para o público. Dirigido por Robert Zemeckis e produzido por Steven Spielberg, ‘Uma Cilada Para Roger Rabbit’ (1988) levou ao cinema um mundo onde animações e seres humanos se interagem, no estilo ‘Space Jam’ (1996), e muitos personagens de desenhos animados fizeram sua participação. A história se passa em Hollywood, exatamente no ano de 1947, onde o detetive particular Eddie Valiant é contratado para resolver um mistério que envolve Roger Rabbit, um astro dos desenhos animados, que foi acusado de homicídio. Nesse mundo animado, Pernalonga, Mickey, Patolino, Pato Donald, Pica Pau, Bety Boop, entre outros personagens, participam da história, mesmo que por pouco tempo. Outra reunião no universo animado é entre a família da cidade e a família da natureza: ‘Os Rugrats e os Thornberrys Vão Aprontar’ (2003). As duas animações da Nickelodeon são unidas após o navio, em que a família Rugrat ser tombado e eles pararem na ilha da família Thornberry. Ambos os desenhos foram um grande sucesso do canal e os dois ganharam longas próprios.
Como combate entre monstro não é novidade em Hollywood era de se esperar estes dois grandes embates: ‘Freddy vs Jason’ (2003) e ‘Alien vs Predador’ (2004). Os dois serial killers apaixonados por adolescentes com os hormônios a flor da pele, entraram em conflito após Freddy enfraquecer, já que ninguém tem mais medo dele, e utiliza Jason como instrumento para este medo voltar, mas a situação complica quando Jason passa a roubar as vítimas de Freddy e ele não deixou barato. O encontro dos dois já estava sendo “cozinhado” há alguns filmes, tanto que o confronto serve como a décima-primeira sequência da franquia ‘Sexta-Feira 13’ e a oitava de ‘A Hora do Pesadelo’. ‘Alien vs Predador’ é outro que também vinha sendo “cozinhado”. O conceito do crossover nasceu, primeiramente, nos quadrinhos, em 1989, e em 1991, o roteirista Peter Briggs vendeu o conceito para a Fox, que só iniciou o projeto em 2002. No ano de 1990, ‘Predador 2’ estava chegando aos cinemas, e em uma de suas cenas, o crânio do Alien aparece na sala de troféus do Predador, diante disso, nasceu uma chama que resultaria no encontro. Além de quadrinhos, o confronto já foi linha de brinquedos, videogames, jogos de cartas, e claro, filmes.
O mundo do crossover é um mundo apaixonante para o fã, principalmente pela surpresa ao ver dois universos distintos se unirem, se bem que, ao parar para pensar, porque necessariamente duas séries ou dois filmes fazem parte de mundos ficcionais diferentes? Isso é tratado pelos psicólogos Deena Skolnick e Paul Bloom, que chamam isso de “cosmologia intuitiva dos mundos ficcionais”, onde o fã assume que mundos ficcionais estão, realmente, separados.
Esses mundos ficcionais fazem parte da vida de muita gente, e ganhou forças há milhares de anos, quando a cultura oral era predominante. Com a voz como única opção, histórias eram contadas de povos em povos, e não havia uma autoridade sobre ela, cada um poderia mudar ou acrescentar os pontos que gostaria, sendo chamado de mundo ficcional aditivo. Com o nascimento da escrita, nasceu com ela os autores, e a partir daí nasce uma autoridade, um dono daquele universo, tornando-se o mundo ficcional auto-contido, aquele mundo que só pode ser alterado pelo autor ou pela empresa a qual o mundo faz parte.