Internacionalmente conhecido como o mês das mulheres, março já está chegando ao fim, e o Pipoca de Pimenta não poderia deixar de fazer uma pequena homenagem para grandes mulheres do cinema.
Apesar de todo avanço técnico que a indústria cinematográfica vem passando, certas injustiças ainda ocorrem, e principalmente com as diretoras, um exemplo está nas produções americanas de 2016, onde dentre as 250, apenas 7% eram dirigidos por mulheres. Essa injustiça também é possível observar no Oscar, que, apesar das categorias fixas de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, é possível observar o baixo número de mulheres em outras categorias, sempre dominadas por homens.
Mas, com o tempo, certos passos estão sendo dados, e se nos Estados Unidos, 2016 foi ruim para as diretoras, no Brasil o ambiente foi um pouco diferente já que, segundo a Ancine, filmes exibidos dirigidos por mulheres aumentou de 14,7% para 20,3% em um ano, no Brasil. Em 2016, foram 29 filmes dirigidos por mulheres nos cinemas brasileiros, incluindo documentário, curta-metragem e longa-metragem.
Com isso, o Pipoca de Pimenta decidiu escolher grandes filmes dirigidos por grandes diretoras que mudaram o cenário cinematográfico.
O Triunfo da Vontade (1935), Leni Riefenstahl
Além de diretora Leni Riefenstahl também era bailarina, atriz, fotógrafa e mergulhadora
Considerado um dos filmes de propaganda política mais conhecido da história do cinema, o documentário de Leni retrata o sexto Congresso do Partido Nazista e mostra muitos encontros governamentais, soldados marchando, cantando, jogando e cozinhando, e alguns discursos de Hitler, para mostrar o quanto a Alemanha era leal ao seu líder.
Com um filme influenciador, elogiado pelo próprio Hitler que disse que era “a incomparável glorificação do poder e da beleza do nosso movimento”, Leni recebeu grande reconhecimento de suas técnicas, que, com o tempo, influenciaram outras cineastas. O reconhecimento veio também com o recebimento da medalha de ouro na Feira Mundial de Paris em 1937, além de também ter recebido premiações nos Estados Unidos e Suécia.
Encontros e Desencontros (2003), Sofia Coppola
Filha do cineasta Francis Ford Coppola, abandonou a atuação após não obter sucesso e se dedicou a direção
Logo em seu segundo filme como diretora, Coppola surpreendeu tanto público quanto a crítica, sendo indicada ao Oscar de Melhor Diretora e ganhando como roteirista, além de seu filme ter ganho indicações no BAFTA, César e Globo de Ouro.
Vindo de ‘Virgens Suicidas’ (1999), considerado por muitos o melhor filme da diretora, Coppola trouxe em ‘Encontros e Desencontros’ (2003) uma história sobre solidão e a dificuldade de compreensão, em meio a uma ambientação asiática de brilhar os olhos através da parceria memorável de Bill Murray e Scarlet Johansson. Com uma direção simples, Coppola provou de uma vez que honrou o nome da família e que não é preciso, em meio ao início de tantas grandes produções naquela época, uma produção milionária cheia de efeitos para se contar uma boa história.
Psicopata Americano (2000), Mary Harron
Mary iniciou carreira como jornalista e entrou para o mundo do cinema com documentários para a BBC TV
Adaptação do elogiadíssimo e polêmico livro de Bret Easton Ellis, Mary Harron apresentou para o público um filme chocante e perturbador, mas com uma crítica tão atual quanto em seu lançamento no ano 2000.
Marcado pela polêmica, ‘Psicopata Americano’ surpreende com fortes cenas de violência e com um dos melhores papeis da carreira de Christian Bale, que muitas vezes foi aconselhado a deixar o projeto por chances de “manchar a carreira”. Mary não só trouxe cenas de violência bem filmadas como mostrou seu ótimo trabalho com atores, tornando ‘Psicopata Americano’ o filme mais marcante de sua carreira.
Bicho de Sete Cabeças (2001), Laís Bodanzky
Laís, ao lado do marido, também cineasta, Luiz Bolognesi com o projeto de exibição gratuita de filmes, Cine Tela Brasil
Trazendo um pouco do nosso Brasil, não poderia deixar de listar aqueles que muitos críticos consideram uma obra prima do cinema brasileiro, não só por abordar temas pesados como os abusos realizados em hospitais psiquiátricos, mas também sobre drogas e relações familiares, muito se deve também a atuação de Rodrigo Santoro e a direção de Laís.
‘Bicho de Sete Cabeças’ foi o primeiro longa de ficção da diretora, que antes havia dirigido um curta e o documentário ‘Cine Mambembe – O Cinema Descobre o Brasil’ (1999). No período das filmagens, Laís sofreu muito para receber recursos para produzir o filme, já que a maioria das produtoras não queria seu nome ligado a um filme sobre drogas, preconceito e “loucos”. ‘Bicho de Sete Cabeças’ pode ser considerada a obra prima da diretora, que voltou a ser elogiada em 2010 com ‘As Melhores Coisas do Mundo’.
Guerra ao Terror (2008), Kathryn Bigelow
Kathryn durante as filmagens de Guerra ao Terror
Cinema e guerra têm uma relação linda e bem admirada pelo público e crítica, e com ‘Guerra ao Terror’ não foi diferente. Procurando apresentar uma espécie de cotidiano da guerra, Kathryn conseguiu envolver o espectador na trama trazendo uma tensão e algo importante para o cinema, uma sensação de veracidade.
Dirigindo desde 1982, Kathryn passou pelo terror ‘Quando Chega a Escuridão’ (1987) e pelo clássico ‘Caçadores de Emoção’ (1991) até chegar em ‘Guerra ao Terror’ e deixar sua marca na história do cinema se tornando a primeira mulher a ganhar o Oscar na categoria de Melhor Diretor.
Elena (2012), Petra Costa
Atriz desde os 15 anos, ganhou com ‘Elena’ prêmios na França, Estados Unidos, Cuba e Polônia
Buscando um pouco mais de nosso país encontramos mais joias escondidas, e nesse caso estamos falando do filme mais pessoal da lista. Petra trata em seu documentário a curta história de sua irmã, que viajou aos 20 para Nova York com o sonho de ser atriz, mas morreu de forma trágica. Elogiado por muitos críticos, incluindo os diretores Walter Salles e Fernando Meirelles, Petra traz, através de pinceladas, encenações para resgatar as lembranças de sua irmã.
Ganhando quatro prêmios no Festival de Brasília, o primeiro longa de Petra Costa amplia sua imersão em seu universo íntimo, já muito bem retratado no curta ‘Olhos de Ressaca’ (2009), no qual apresentou um retrato sobre envelhecer no ponto de vista de seus avós. Atriz e antropóloga, Petra tem como influencia outro grande nome feminino do cinema, a cineasta e fotógrafa belga Agnès Varda.