Nas últimas críticas de grandes sucessos do gênero de terror – como Nós (2019) e Hereditário (2018) – foi comentado sobre uma nova fase do terror – apesar do termo ser completamente equivocado. Novos cineastas andam se aproveitando do estilo cinematográfico que o terror proporciona para contar histórias diferentes e realizar reflexões e análises também de maneiras diferentes. No entanto, algumas obras chegam com seu frescor nostálgico justamente com o intuito de se manter diferente da realidade e ainda atingir os espectadores mais saudosistas, como foi o caso da sequência de Halloween (2018), da série Stranger Things e claro, Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro (que daqui para frente será chamado apenas de Histórias Assustadoras). 

A intenção do cineasta norueguês, André Ovredal, não era de toda ruim. Dar vida à série de livros escrita por Alvin Schwartz – que lembra bastante o conceito de Goosebumps – não era uma tarefa fácil, ainda mais em conseguir dar o tom certo. Há sim uma boa proposta de narrativa, com bons conceitos de terror adolescente que enaltecem o poder da história. Entretanto, o longa explora uma jornada nada original – que muito lembra a narrativa de A Morte do Demônio (1989) e Mansão Mal-Assombrada (2003), por exemplo – que até funciona dentro de sua proposta, porém, faltou alma em sua direção para cumprir o papel esperado.

Ainda que o roteiro de Kevin e Dan Hageman (com participação de Guillermo Del Toro) deixe a desejar, o potencial desperdiçado está justamente no ritmo escolhido pelo norueguês. Seja por sua falta de experiência ou segurança para entregar algo bem feito, não há tomada de riscos ao contar uma história já muito explorada e tudo fica no quase, da mesma maneira que acontece com Trollhunters (2010) e A Autópsia (2016), obras nas quais Ovredal entrega um bom conceito, mas não vai além. Isso fica muito claro na construção do texto dos Hageman. Ao explorar a ambientação do final dos anos 60 – durante a Guerra do Vietnã – houve uma preocupação em estabelecer o contexto da época para conversar paralelamente com o terror fantástico e estipular a analogia que o gênero sempre trabalha.

Entretanto, as constantes informações sobre a candidatura de Nixon e detalhes sobre o andamento da guerra, além de repetitivas, não levam a algum lugar além da superficialidade. A escolha, além de manter a história presa em sua mesmice, torna o texto expositivo e, consequentemente, mais fraco. 

A presença do cineasta mexicano como produtor aparentava dar um gás a mais em Histórias Assustadoras. Ainda que sua participação tenha realmente feito a diferença, não dura muito tempo. Apesar dos créditos adotarem Del Toro como um dos roteiristas, fica quase irreconhecível sua participação. Por sua vez, quando o filme adota seus momentos de terror, que conta com a presença das criaturas, é então chegada a hora de ver a essência do cineasta presente em tela. O conceito visual de todos os monstros presentes – que exploram muito os efeitos práticos – dão o espírito fantasioso e assustador do mexicano à narrativa valer a pena.

Infelizmente, o que é bom dura pouco. Além de poucos bichos apresentados, todos funcionam como meros detalhes e tornam a jornada ainda mais decepcionante, já que se esperava muito de suas presenças, para, no fim, manterem-se como meras histórias. O que torna Histórias Assustadoras um paradoxo de seu próprio conceito, já que sua narrativa trata do poder da história, mas a sua própria não tem força alguma. 

Além da direção visual de Ovredal decepcionar por grande parte do longa, há um trabalho mal realizado com seu elenco. Apesar do uso de adolescentes fazer parte da proposta, nenhum dos atores “mirins” entregam a qualidade e o carisma necessário para haver conexão entre personagens e público – diferente de Stranger Things, por exemplo. Zoe Margaret Colletti é a que mais se aproxima de um profissionalismo, porém, perde muito por não ter um elenco de apoio de qualidade, principalmente o jovem Michael Garza – mesmo sendo ele o responsável por estabelecer uma analogia histórica importante para reflexão. 

No fim, Histórias Assustadoras se provou um bom potencial desperdiçado. A falta de coragem de Ovredal fez sua direção engessada algo enjoativo e cansativo diante conceitos interessantes, o que torna sua história algo nada próximo do poder esperado.

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