Homenagem a “Rodin” poderia ser mais apaixonante, mas ainda assim, tem o seu valor

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Auguste Rodin foi um dos artistas franceses mais famosos de sua geração e de todos os tempos. Mesmo rejeitado pela principal escola de arte em Paris, é considerado o pai da escultura moderna. Por ser um escultor bastante ousado para o método artístico da época, algumas de suas obras foram bastante criticadas, e ele era um tanto sensível a recepções negativas, criando a fama de ter um temperamento “difícil”.

Caso seu nome não lhe seja familiar, provavelmente você já ouviu falar na escultura “O Pensador” e sua pose icônica, ou até a “Porta do Inferno”, que levou 37 anos para ser concluída e retratava a “Divina Comédia”, de Dante. Não é por acaso que seu trabalho mais reconhecido tenha surgido inspirado na Mitologia e em alegorias. Rodin ficou conhecido por nem sempre querer passar uma mensagem, mas “dar voz ao corpo humano” através das suas obras de arte e esse ano, completamos o centenário de sua morte.

A adaptação da sua biografia para o cinema ficou a cargo de Jacques Doillon, diretor francês premiadíssimo pelos principais festivais de cinema do mundo, como Berlim, Cannes e Veneza. O último trabalho do diretor de 73 anos, no entanto, havia sido em 2013. Em “Rodin”, Doillon retrata o artista (competentemente interpretado por Vincent Lindon) durante o processo da criação da sua “Porta do Inferno”, enquanto na vida pessoal passava pelo dilema de se envolver com sua futura esposa Rose (Séverine Caneele) – uma mulher simples – e Camille Claudel (Izïa Higelin), uma bela e apaixonada assistente, que também era artista e musa.

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Enquanto algumas biografias focam na ascensão e queda do seu protagonista, “Rodin” vai direto ao ponto e mostra o artista já com grande prestígio dentro da comunidade. Tal qual a paciência do artesão para terminar suas obras, a sutileza na direção permite ao espectador conhecer com calma as características do personagem principal, seu olhar observador, a forma como ele enxerga a arte e a vida. “Tem mais compaixão do que Dante”, Camille fala a Rodin, dando indícios do traço calmo e relaxado do escultor, que futuramente lhe ocasionaria problemas.

O filme é bem-sucedido justamente quando explora essa genialidade do artista, como seu método de esculpir modelos ao vivo – ressaltando a forma como é exigente -, sua verdadeira adoração pelo corpo humano e até a memória fotográfica, cenas que, para amantes da arte, são fascinantes. A maneira (pouco compreendida na época) como queria expressar a essência do modelo e não apenas a aparência e sua relação com a natureza também ganham espaço, enriquecendo o desenvolvimento do personagem.

No entanto, “Rodin” não está livre de críticas. Mesmo que se trate de um filme de arte, onde já se espera silêncio, planos lentamente construídos e nenhum evento “anormal” – afinal, não é um filme de ação -, geralmente o sucesso em biografias depende muito do quão interessante são os acontecimentos na vida do homenageado, e se tratando de uma figura tão importante como Rodin, a escolha do período da sua vida pode não ter sido a mais “empolgante” – na falta de palavra melhor.

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“A Porta do Inferno”, de Auguste Rodin

Isso resulta em uma obra um tanto monótona e arrastada, que vai requerer do espectador bastante paciência. Outro ponto negativo, é que o filme evita assuntos e momentos mais polêmicos da vida do artista, que poderiam agregar uma boa dose de conflito à trama – como a repercussão polêmica de suas obras ou seus problemas de paternidade. Sua relação com outros ícones artísticos como Monet e Cessane, também é abordada de maneira bastante superficial.

Embora a dupla principal Vincent Lindon e Izia Higelin entreguem atuações convincentes e sejam muito importantes para sustentar o interesse no filme, infelizmente a trama gira bastante em torno do “triângulo amoroso” e pouco nos problemas de fato que seu envolvimento conturbado com Camille Claudel renderam à sua carreira. Se podemos tirar algo de positivo nisso, é interessante perceber como Rodin, a princípio, se dirige a Rose sempre falando do passado, como se do seu romance com ela, restassem apenas memórias.

Memórias que ele poderia reviver numa relação com uma mulher mais jovem. Entretanto, após desavenças e a perda de Camille, o protagonista, assim como seu trabalho, se transforma, e ele passa a ficar mais aberto a experimentações – deixa esculturas incompletas (mutiladas) e admira as obras inacabadas, como reflexos das suas relações na vida pessoal.

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Sendo assim, como sempre é interessante conhecer o lado humano de um artista genial, “Rodin” tem tudo para agradar amantes da arte como um todo. Acredito que pode até ser apreciado como uma tragédia de amor impossível, mostrando que o suor e dedicação desses artistas nunca será tão importante para as pessoas quanto para eles mesmos, afinal, eles vivem aquilo intensamente. Infelizmente, o ponto frustrante que fica é que poderia ter sido uma homenagem muito mais apaixonante, assim como foram a vida e obra do seu homenageado.

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