‘A justiça está chegando’.
Panorama geral: Quatro anos após os eventos do primeiro filme, o agora ex-militar Jack Reacher (Tom Cruise) retorna ao seu antigo quartel general para conhecer sua sucessora, a major Turner (Cobie Smulders). Só que ao chegar descobre que há uma enorme conspiração dentro do próprio governo para incriminá-lo de assassinato. Quem substitui o diretor do primeiro filme Christopher McQuarrie é Edward Zwick, revivendo a parceria com Tom Cruise em ‘O Último Samurai’. Para compor o tom de ‘Jack Reacher: Sem Retorno’, o versátil diretor parece tentar achar um equilíbrio inspirado em dois outros filmes seus, a corrupção de ‘Diamante de Sangue’ com a atmosfera política de ‘Nova York Sitiada’. O roteiro, adaptado do décimo oitavo livro da franquia ‘Jack Reacher’ de Lee Child, é escrito pelo próprio diretor em parceria com Marshall Herskovitz (‘O Último Samurai’) e Richard Wenk (‘O Protetor’).
Quais temas o filme aborda? Como quase todo filme de ação, um dos maiores atrativos do filme é exaltar o heroísmo de um personagem disposto a arriscar tudo para proteger o mundo onde vive e as pessoas que são importantes para ele. Portanto, ‘Jack Reacher: Sem Retorno’ aproveita esse panorama para tocar em assuntos como o peso da responsabilidade que um militar, agente ou policial tem para com seus companheiros de trabalho, superiores ou subordinados que estão todos os dias enfrentando o perigo e a criminalidade. O filme também nos faz pensar se algumas profissões mais arriscadas ou que demandam muitas viagens realmente podem privar alguém de ter uma família ou relacionamento, pensando na sua segurança, além de estabilidade, atenção e outros fatores. No filme, isso vai ficar mais evidente quando Jack descobre que pode ser pai de uma garota de 15 anos de idade e a complexidade da situação vai bagunçar totalmente seu status quo de homem solitário.
Tom Cruise e Lee Child, criador da franquia ‘Jack Reacher’
É só tiro, porrada e bomba? Esse novo filme consegue ser mais leve que o anterior e ao mesmo tempo alcançar um público mais abrangente. Contrariando os estereótipos do gênero – que dizem que filmes de ação são para homens – a inclusão de duas personagens femininas em papéis importantes como a major Turner (Cobie) sendo parceira de Jack nas investigações e Samantha (Danika Yarosh), como a esperta e corajosa possível filha do ex-militar, o filme acaba se tornando mais interessante para mulheres e adolescentes, por conta de papéis com os quais elas podem se identificar melhor. Quando o protagonista precisa confrontar a paternidade indesejada, ‘Jack Reacher 2’ também ganha alguns momentos mais cômicos por conta da inusitada situação. Mas há sim elementos muito comuns ao gênero, como o surgimento de um letal mercenário que vai fazer o tradicional jogo de gato e rato com os personagens principais.
Ciente de que filmes de ação dependem muito do ritmo para funcionar, o roteiro é bem dinâmico e logo trata de apresentar a ameaça principal, que é uma suspeita de corrupção interna no governo juntamente com uma conspiração para fazer Jack Reacher abandonar sua breve aposentadoria. Edward Zwick não é considerado um grande diretor de ação, mas tenta tratar todas as grandes sequências da forma mais tensa possível. E o filme tem muitas grandes sequências pontuais de ação (também chamadas de set pieces), como a que vai da prisão até o estacionamento, outra em um aeroporto, ou em um galpão, etc. Esses são vários momentos que o diretor utiliza para ancorar a ação com cenas muito bem coreografadas, servindo também para ‘disfarçar’ as fracas motivações dos personagens e a previsibilidade da trama.
Performances do elenco: O papel não é nenhuma novidade para Tom Cruise, que desde o primeiro ‘Missão Impossível’ em 1996 se tornou uma grande estrela de filmes de ação. Só que agora, com mais de 50 anos, suas performances são bem mais econômicas. Quem surpreende é Cobie Smulders – que muitos conhecem pela sitcom ‘How I Met Your Mother’. A atriz realizou todas suas cenas de ação no filme, resultado de oito semanas intensas de treinamento em várias artes marciais na sua preparação para o papel. O fruto de todo esse esforço compensou bastante, pois a atriz passa muita credibilidade à personagem. Infelizmente, o vilão vivido por Patrick Heusinger é um sádico bastante caricato que, para ser sincero, se fosse interpretado por qualquer outro ator talvez não fizesse diferença alguma.
A durona Cobie Smulders e o caricato vilão
Atributos técnicos e direção: Esse é um dos únicos três filmes em toda a carreira de Zwick que não foi montado pelo seu colaborador frequente Steven Rosenbaum. Mas a edição de Billy Weber faz jus as suas duas indicações ao Oscar (por ‘Top Gun’ e ‘Além da Linha Vermelha’), pois embora o filme não tenha tanta ação, os cortes ágeis estão sempre movendo a história adiante. E há outro diferencial que dá um resultado interessante ao filme, são várias cenas em restaurantes, cafeterias, lojas e etc. que ao invés de deixarem o filme mais repetitivo, acabam ‘humanizando’ os personagens, auxiliando tanto na subtrama de paternidade de Jack quanto nos flertes dele com Turner. Os três juntos em cena realmente parecem uma família, coisa que nenhum deles realmente têm (Samantha não tem pai, Turner não tem filha e Jack não tem uma esposa), mas talvez quisessem. Portanto, há um simbolismo interessante nessa relação.
Outro elemento que sem ele o filme estaria perdido de vez é a trilha sonora de Henry Jackman (de ‘Kingsman’ e ‘Capitão América: Guerra Civil’). Suas notas pulsantes e crescentes ditam totalmente o clima das grandes sequências de ação, enfatizando o efeito da cena sobre o espectador. Como mencionei anteriormente, a direção de Zwick traz consigo uma abordagem mais ‘realista’ ao filme, especialmente nos dois primeiros atos. Há uma cena em particular que chama a atenção, um beat dramático na cena do quarto de hotel, onde por meio de uma ‘queda de braço’ entre Jack e Turner há uma mudança de clima repentina e muito bem dirigida.
Grande explosão no set de filmagem
Veredito final: ‘Jack Reacher: Sem Retorno’ é um filme que tem os elementos para agradar a seu público alvo e acerta em termos de atuações e direção. Mas seu problema principal está na história, com pouco mistério e previsível demais. O filme encaminhava para uma resolução mais econômica e interessante, mas não resistiu e se rendeu a grandiloquência de um desfecho após uma perseguição no meio de uma multidão comemorando o Halloween nas ruas (aliás, o filme não faz nenhuma menção de que o feriado está chegando, exceto na sequência final). Sendo assim, é um daqueles típicos filmes que não chegam a fazer você perder duas horas de sua vida, mas que caso você não veja, certamente não fará diferença alguma da mesma forma.
O filme não precisava se render a um final espalhafatoso e clichê
UM MOMENTO APIMENTADO: Turner encurrala um suspeito no aeroporto e ordena que verifiquem a carga do avião. Com luzes de sirenes piscando ao fundo, a cena ganha um grande momento de tensão.