‘Lembranças de bons tempos que já fazem muito tempo’.
Se passando nos anos 80, um grupo de universitários jogadores de baseball divide uma casa onde moram sem a supervisão de adultos, e enquanto aguardam o início das aulas dedicam toda sua liberdade àquilo que mais gostam: belas garotas, bebidas e muita zoação. Uma premissa que poderia resultar em um filme extremamente fútil, nas mãos do renomado diretor Richard Linklater (de ‘Boyhood’ e da trilogia ‘Antes do Amanhecer’) se torna uma verdadeira e sincera viagem de volta aos anos 80 por meio de personagens que apenas querem aproveitar o momento único de suas vidas, o frescor vivo da plena juventude. O filme serve como uma sequência indireta a outro grande sucesso do diretor, ‘Jovens, Loucos e Rebeldes’, de 1993, que se passa em um colégio em meados dos anos 70. O filme conta com um elenco bem numeroso, com alguns rostos mais conhecidos do que outros, por exemplo, Tyler Hoechlin (o Superman da série ‘Supergirl’), Blake Jenner (talvez o ‘protagonista’ do filme), Juston Street (um dos mais experientes e pirados do time), Glen Powell (o mais filosófico) e entre as garotas, Beverly (interpretada por Zoey Deutch, de ‘Tirando o Atraso’).
Existem alguns filmes que resgatam em nós uma sensação incrível de nostalgia. Uma das formas mais comuns de sentirmos isso é quando um filme homenageia uma trilha sonora, personagens ou até o tema de uma história de outro filme que tenha nos marcado em algum momento de nossas vidas. Mas ‘Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!’ consegue ir um pouco além, pois parece refletir não apenas uma possível experiência pessoal do diretor (que tinha seus 20 e poucos anos durante a época em que o filme se passa), mas também gerar no espectador – de preferência que vivenciou aquela época ou ao menos passou por experiências similares com um grupo de amigos – uma conexão pessoal muito forte. Acima de tudo, o significado que o filme tenta transmitir é uma forte mensagem de amizade e relacionamento com outras pessoas, ter paixão por alguma coisa e vivenciar pra valer aquela experiência. Aqui vale uma ressalva: é claro que essa nostalgia deve ser muito mais evidente no público masculino, mas de certa forma isso é muito bacana, pois demonstra que a preocupação principal do diretor foi de contar sua história sem receio de querer agradar a gregos e troianos. O resultado é uma história bem mais orgânica e sincera, um verdadeiro cinema autoral, com a cara de Linklater.
Algo interessante sobre a narrativa de ‘Jovens Loucos e Mais Rebeldes!!’ é que basicamente o filme é conduzido pelos personagens e não pela trama em si, ou seja, desta forma não é exatamente o que acontece aos personagens que realmente importa (ao contrário do que a maioria dos filmes faz), mas quem eles são, quais são suas motivações interiores e o relacionamento deles com os outros personagens e com o mundo onde vivem é que nos desperta o interesse ao longo do filme. O roteiro gasta pouco tempo nos apresentando a equipe e a personalidade de cada um, e seus comportamentos e diálogos (que aparentemente são fúteis) traduzem muito bem seus pensamentos e visões de mundo. Falando sobre artes, música, esportes e até Sagan, cada cena se abre como uma janela para o universo interior daqueles personagens. Com exceção da subtrama de romance entre Jake e Beverly, que é o tradicional ‘garoto encontra garota’, a estrutura do roteiro parece bem solta, muitas vezes dando a entender que não vai chegar a lugar algum, mas funciona, tanto pela proposta de liberdade e descoberta que o filme quer passar, quanto pelo início das aulas, que serve involuntariamente como uma ‘contagem regressiva’ para o filme, automaticamente empurrando-o rumo a um desfecho.
A recriação da época e a estética do filme são impecáveis, em todos os aspectos e ambientes do filme, desde as bandas de sucesso na época, até locações como fliperamas (marca registrada de Linklater) e as já mencionadas discotecas. Entre disco, country e punk, as ‘loucuras’ de uma época são retratadas de forma simples, inteligente e divertida. Contando com um elenco muito talentoso e uma trilha sonora espetacular, Linklater compõe uma obra que remete bastante a ‘O Clube dos Cafajestes’ e ‘Porky’s – A Casa do Amor e do Riso’, mas com a sofisticação de sua direção e seus diálogos bem afiados e contemplativos, muito presentes na sua ‘trilogia do Amanhecer’ ou em ‘Waking Life’. ‘Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!’ acerta muito ao explorar com sinceridade uma época de experimentação, onde bem ou mal não importa, apenas mergulhar de cabeça.
UM MOMENTO APIMENTADO: Todas as cenas das boates são divertidíssimas e incrivelmente nostálgicas.