David O. Russell já havia mostrado sua predileção pelas personagens femininas como mola propulsora de seus roteiros em produções anteriores. ‘O Vencedor’ (2010) tinha a ferina e dominadora Alice Ward (Melissa Leo), mãe dos personagens centrais interpretados por Mark Wahlberg e Christian Bale. Em ‘O Lado bom da Vida’ (2012) Tiffany Maxwell (Jennifer Lawrence) era a auxiliadora enlouquecida de Bradley Cooper para lidar com a separação da ex-mulher e sua bipolaridade. Sidney (Amy Adams) e Rosalyn (Jennifer Lawrence novamente) respectivamente amante e esposa de Irving (Bale) eram fundamentais para ascensão e queda em sua vida no mediano ‘Trapaça’ (2013).
Finalmente o diretor encontrou uma heroína central em um roteiro claramente fabulista sobre a biografia de uma mulher forte, porém real. Joy Mangano, inventou entre outras coisas o ‘Miracle Mop’, uma espécie de esfregão prático que virou fenômeno de vendas por telefone em canais de TV nos anos 1980. Nascida em East Meadow, Nova Iorque, teve uma vida que se confunde com qualquer mãe-solteira média de subúrbio ou periferia. Um casamento falido com um aspirante a cantor latino Tony Miranne (Édgar Ramírez), um pai saindo do segundo casamento (Robert DeNiro), e uma mãe (Virgínia Madsen) alienada, que não sai de seu quarto nem de sua telenovela por nada.
Seu único norte para tentar sair da mediocridade está na avó (Diane Ladd) que a inspira a nunca esquecer seu talento natural de infância para construir coisas e ter ideias originais. Pronto, teríamos uma cinebiografia ao estilo Erin Brockovich e uma promoção a outra indicação fácil ao Oscar para Lawrence.
A questão é que o filme sofre de dois sérios problemas. Seguindo sua tendência de cair na “dramédia” como em ‘O Lado Bom da Vida’, Russell disputa com seus personagens mais atenção na câmera e não deixa a história ser contada. Outro problema está na protagonista que em seus 25 anos é bonita demais e inexperiente para dar credibilidade a uma mulher comum na tela.
Joy acumulou anos de pequenos problemas e frustrações cotidianas, e foi empurrada a liderar uma família de inaptos e excêntricos. Isto exige da atriz um tato minimalista e complexo de resiliência e raiva, o que não vemos com sutileza no filme, além de no passar dos anos não vermos nem envelhecimento ou maturidade palpável na atuação dela. Usando planos ousados de enquadramento e closes em cenas as vezes geniais e belas, mas outras banais e desnecessárias, Russell prejudica a fluência da narrativa. Em uma entrevista teve a pretensão de compará-lo a clássicos como Cidadão Kane, o que não ajudou a entender sua intenção na história. Joy não é a essência da ambição como Kane, nem tão pouco tem sua importância e influência. O que deveria haver era empatia pura entre público e personagem, pois estamos falando de uma mulher de classe média.
Tirando os poucos momentos entre os atores e seus dramas bem explorados e humanizados, ‘Joy: O Nome do Sucesso’ que estreia dia 18 por aqui, pretende ser mais do que realmente é.
Robert DeNiro novamente encontra um bom personagem no pai micro empresário de Joy, Virgínia Madsen comove e convence, Ramírez é carismático, mas não dá para entender a opção de contar a história do ponto de vista da avó Diane Ladd, quase inútil no filme.
Desta forma, a produção torna-se vazia por ambicionar demais, sem tanto conteúdo para isto.