Giuseppe Tornatore já se tornou uma espécie de “mito” do cinema mundial ao nos presentear com o inesquecível ‘Cinema Paradiso’ (‘Nuovo cinema Paradiso’, 1988), por isso todo novo trabalho seu merece uma atenção especial da indústria cinematográfica e do público. Depois de seu filme mais famoso, dirigiu outros longas-metragens de excelência, como ‘Malena’ (2000) e ‘A Lenda do Pianista do Mar’ (‘La Leggenda del Pianista Sull’oceano, 1998). Teve um de seus longas refilmado, o drama ‘Estamos Todos Bem’ (‘Stanno Tutti Bene, 1990, Itália) / ‘Estão Todos Bem’ (‘Everybody’s Fine’, 2010, EUA), o que de certa forma é uma valorização do seu trabalho.
Seu último filme, ‘O Melhor Lance’ (‘La Migliore Offerta, 2013’), passou quase despercebido pelas salas de cinema em 2015, sem despertar muito alarde nem indicações a prêmios fora da Itália, apesar de ter ganhado sete categorias no Prêmio David di Donatello, principal premiação de cinema italiana. Estrelado por Geoffrey Rush, a obra retratava um avaliador de obras de arte, colecionador de quadros com retratos femininos, que ao ser contratado para avaliar uma coleção, fica obcecado por uma de suas clientes, muito mais jovem do que ele. Em ‘O Melhor Lance’ apresentou uma cinematografia muito interessante, que explorava belas pinturas e que apesar de não ter se destacado na mídia, agradou os cinéfilos que souberam reconhecer suas qualidades.
Este ano o diretor italiano retorna com ‘Lembranças de um Amor Eterno’ (La corrispondenza, 2015) novamente retratando uma relação amorosa entre dois personagens com idades bastante diferentes entre si. Interpretada por Olga Kurylenko, a estudante universitária e dublê de cinema Amy, tem um caso com o professor de astrofísica Edward, vivido por Jeremy Irons, casado e pai de família. Os dois vivem em países diferentes e se encontram pessoalmente apenas esporadicamente, por isso se comunicam por mensagens, e-mails e vídeo-chamadas. Tudo muda quando o cientista falece e a duble só descobre durante uma conferência. Estranhamente ela continua recebendo mensagens e vídeos do amado e conselheiro intelectual, mesmo após a sua morte.
Além de terem um relacionamento afetivo, eles têm uma espécie de ralação de professor e aluna, pois o professor/cientista a orienta e a incentiva a estudar física astronômica, área de interesse de ambos e que de certa forma foi o que fez com que eles se conhecessem e se apaixonassem. No entanto, essa mistura de romance, com tragédia e mais a filosofia científica-astronômica, não consegue manter a atenção do espectador, se tornando maçante durante o transcorrer da narrativa. Com uma estrutura semelhante ao filme ‘P.S. Eu Te Amo’ (P.S. I Love You, 2007), onde o amado falecido, também, deixa recados para a namorada, em ‘Lembranças de um Amor Eterno’ o casal não tem uma química natural e sua interação em tela não é efetiva em convencer o espectador da sua paixão. Além de algumas poucas, nos primeiros minutos do filme, faltam cenas que os estabeleçam como um casal, antes de eles se comunicarem exclusivamente de forma online e póstuma.
A direção de Tornatore é visivelmente de um diretor experiente que ousa se aventurar em outros formatos. Filmadas em “widescreen”, ele nos oferece belas composições cênicas, como uma das iniciais em que Jeremy Irons caminha pelo corredor de um hotel. Temos outras muito criativas, em que a duble participa de cenas de filmes onde ela tem que sempre escapar da morte em ações arriscadas. Infelizmente, mesmo intercaladas com os diálogos do casal e o suspense onde ela tem que se esforçar para continuar recebendo as correspondências dele, nenhum dos recursos é efetivo o suficiente ao ponto de despertar emoções em quem assiste. As conversas por vídeo retratadas aparecem em excesso, um recurso que deveria contribuir visualmente, acaba cansando e retirando o espaço que deveria ser disponibilizado para os atores se expressarem.
O resultado passa a impressão de que o roteiro seria melhor desenvolvido se retratasse uma relação pai e filha ou mestre e pupila, no máximo com um envolvimento platônico. Quando os familiares do falecido entram no enredo, parece ser um recurso utilizado meramente para forçar uma emoção que não foi efetivamente construída e suas presenças não contribuem para a história, até por que aparecem por pouco tempo. Olga Kurylenko não consegue oferecer uma atuação que segure sozinha e na maior parte do tempo a atenção do espectador; e o papel de Jeremy Irons não permite que ele contribua mais ativamente, por sua limitação em tempo de tela, o que torna o filme por demais monótono. ‘La Corrispondenza’ tenta utilizar uma linguagem visualmente moderna, mas que se perde no desenvolvimento narrativo e na expressão dos atores, que estão subutilizados. Nem mesmo a trilha sonora do lendário Ennio Morricone, parceiro de longa data de Tornatore, consegue elevar o longa-metragem acima do meramente mediano.