LICORICE PIZZA | ELENCO CARISMÁTICO E HISTÓRIA APAIXONANTE FAZEM UM DOS MELHORES FILMES DO ANO

Acabando com o mistério, mas sem dar spoiler, já que o título nunca é mencionado ou visto no filme, “Licorice Pizza” é o nome de uma franquia de lojas de discos que existia na Califórnia nos anos 70 e, mesmo que nunca mencionado, consegue ser um título apropriado para a história. Licorice Pizza grita os anos 70, desde as situações mais óbvias até os menores detalhes, a trilha sonora, o figurino, as personalidades e sobretudo os cenários te transportam para o sul da Califórnia no auge dos anos 70 com tamanha imersão que tudo lhe parece extremamente família, ainda que você (como eu) nem estivesse vivo nessa década ou próximo dela.

Licorice Pizza é, acima de qualquer coisa, uma história de amor, mas certamente não se trata de um romance convencional ou uma comédia romântica clichê, também não é um drama ou uma história apenas de amadurecimento, é tudo isso junto, com mais um pouco de comédia e tantas outras coisas difíceis de se definir. A parte do romance fica por conta de Alana e Gary. Alana (Alana Haim) é uma jovem de 25 anos trabalhando como ajudante de fotógrafo no dia de foto de uma escola, enquanto Gary (Cooper Hoffman, filho do saudoso ator Philip Seymour Hoffman) é um adolescente de 15 anos que está na escola e terá sua foto tirada. Alana chama a atenção de Gary logo de cara e apesar da diferença de idade, é bastante óbvio desde sua primeira interação que Gary não é um adolescente comum.

Gary é um ator mirim, extremamente independente e possui a autoconfiança de alguém que já é bem-sucedido, ou pelo menos que tem certeza de que o sucesso virá de um jeito ou de outro. Suas falas são rápidas e inteligentes e ele é levado a sério por todos os adultos que o cercam, incluindo a mãe, que trabalha para ele em um de seus negócios, já que Gary é também um jovem empreendedor em série. Eu poderia dizer que ele é um miniadulto, mas essa descrição não estaria tão acertada, apesar de ter uma qualidade adulta em sua personalidade, Gary nunca deixa de lado sua leveza infantil e o modo sonhador adolescente, o que só acrescenta em sua personalidade absurdamente carismática. Alana também é inteligente e rápida em suas respostas, mas não poderia ser mais diferente de Gary nos outros pontos, ela tem 25 anos, mas ainda mora com seus pais e suas irmãs (e seus pais e suas irmãs são sua família também na vida real), tem um trabalho sem qualquer perspectiva de futuro e ainda está perdida em relação ao seu lugar no mundo. Mesmo com todas as diferenças, Alana é inevitavelmente atraída pelas ideias e personalidade de Gary e, em pouco tempo já está completamente absorta em seu mundo, que acaba se tornando lar para ela também.

Vale muito mencionar também quão incrível é o elenco, desde participações rápidas, mas marcantes e supreendentemente charmosas de grandes nomes como Bradley Cooper no papel de Jon Peters, uma figura excêntrica – e real – que namorou Barbra Streisand nos anos 70 e Sean Penn como Jack Holden, um figurão de Hollywood que aparece na vida de Alana brevemente, mas em Licorice Pizza os holofotes são todos para os novatos, tanto Cooper Hoffman quanto Alana Haim estão fazendo sua estreia nas telonas, mas não poderiam parecer mais à vontade em frente as câmaras e não deixam qualquer dúvida de que nasceram para isso. Alana inclusive, faz sua estreia não só em filmes, mas na atuação em geral, apesar de já ter uma carreira artística consolidada com sua banda Haim (das quais suas irmãs também fazem parte) tendo, inclusive, diversos videoclipes dirigidos por Paul Thomas Anderson (diretor e roteirista de Licorice Pizza), é a primeira vez que Alana aparece como atriz e seu talento é inegável, ela mescla simplicidade e um fator de girl next door ao mesmo tempo que prende sua atenção com um carisma impressionante, não tem um sequer momento do filme em que não torcemos para Alana ou Gary se darem bem.

Tanto o cenário quanto a década de 70 são personagens nessa trama e tão convincentes – ou carismáticos – quanto os demais. Desde os negócios de Gary, que se mantém visionário, ainda que sonhador e inocente, do começo ao fim, às autodescobertas de Alana, que muda de roupa, de profissão e de ambições a todo momento tentando se encaixar no mundo adulto e ser levada a sério perante à sociedade ao mesmo tempo que não consegue se desligar do ambiente jovem e descontraído de Gary, em que tudo é possível não importa a gravidade da situação, tudo isso se junta e culmina num filme doce, agradável do começo ao fim, engraçado e leve, justificando completamente sua indicação ao Oscar desse ano e, se dependesse de mim, sua estatueta de Melhor Filme já estaria garantida.

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