Muitas vezes esquecemos que vídeos são uma sequência de fotografias, apresentadas em movimento, que assistimos em uma tela. A forma como nos relacionamos com o cinema atualmente, através da internet, também nos faz ignorar a importância que outras mídias tiveram na divulgação de determinados artistas, ainda mais nas primeiras décadas da indústria cinematográfica. Ensaios fotográficos para revistas como a ‘Life’ já foram extremamente importantes para a fama de atores, principalmente antes de a tecnologia da informação democratizar o consumo de fotos e vídeos, através da internet.
Filmes também são um produto de mercado, que dependem de diferentes tipos de propaganda para obterem sucesso comercial e para tornarem seus astros famosos. Fotos publicadas em revistas já foram uma forma muito popular de o público se relacionar com o cinema e conhecer um pouco mais da vida de seus atores e atrizes preferidos e conhecer novos talentos em potencial. Muitas imagens já foram decisivas na carreira de artistas, tanto para melhorá-los aos olhos do público, quanto para denegri-los. Mesmo na nossa atual era digital, revistas como a Entertainment Weekly, ainda geram um frisson coletivo, quando lançam alguma imagem exclusiva em suas capas, principalmente quando são de filmes adaptados de quadrinhos.
Ninguém melhor do que um diretor, que também é fotógrafo, como Anton Corbjin, para abordar uma relação entre cinema e fotografia que ainda é muito importante e que teve relação direta na construção de ícones do cinema como James Dean. Corbjin já impressionavam com a bela fotografia, em preto e branco, de seu primeiro longa-metragem como diretor ‘Controle: A História de Ian Curtis’ de 2007, sobre um outro artista símbolo da juventude, só que da música, que também morreu precocemente, aos 23 anos. Ainda que ele não fosse o único responsável, pois quem assinou a direção de fotografia foi Martin Ruhe, parceiro também em seu segundo longa ‘Um Homem Meisterioso’ de 2010. Em ‘O Homem Mais Procurado’ de 2014, a fotografia também foi um dos pontos fortes, assinada por Benoît Delhomme.
Então, já ficou estabelecido que filmes competentemente fotografados e deslumbrantes são uma constante na carreira de Anton Corbjin e em ‘Life: Um Retrato de James Dean’ isso não é diferente. Porém, neste seu trabalho mais recente ele foi além, retratando a importância que as fotografias de Dennis Stock, para a revista ‘Life’, tiveram no estabelecimento de James Dean como um ícone no imaginário do público. Mais do que isso, ‘Life’ é um recorte dos poucos dias que Stock e Dean passaram juntos, mas que revelaram muito do pouco que sabemos do astro, “encarnação” da rebeldia e angústias da “juventude transviada” da década de 50.
James Dean simboliza uma geração, que se viu representada no cinema através de seus personagens, mesmo que ele tenha atuado em apenas seis longas-metragens, sendo que apenas três como personagem principal, até sua morte em um acidente de carro, em 1955 aos 24 anos. Para quem nunca pesquisou a respeito e se pergunta, por que ele é tão cultuado no mundo cinéfilo, o fato de que ele é um dos cinco atores que recebeu uma indicação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na categoria de melhor ator em uma de suas cinco primeiras aparições no cinema, exemplifica seu destaque na época.
Além disso, sua indicação por ‘Vidas Amargas’ de 1955 foi a 1ª indicação póstuma de um ator na história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Sua indicação por ‘Assim Caminha a Humanidade’ de 1956, foi a 2ª. É o único ator a ter recebido mais de uma indicação póstuma ao Oscar na história da premiação. Ficou em 33º lugar na lista das 100 maiores estrelas do cinema de todos os tempos, realizada pela revista britânica Empire. Possui uma estrela na Calçada da Fama, localizada em 1719 Vine Street.
Dane DeHaan seria um James Dean improvável, pois, os dois são fisicamente pouco parecidos – caso os espectadores que se incomodam com isso queiram conferir, James Franco em ‘James Dean’ de 2001, apresentava um biótipo mais parecido. Entretanto, a interpretação de DeHaan, ao lado de Robert Pattinson, que vive o fotógrafo Dennis Stock, superam qualquer estranhamento inicial e logo estabelecem uma relação crível. Os dois transmitem o tipo de amizade naturalmente desconfortável entre quem se conhece pouco, vinculo que se fortalece cena a cena, sem muitas palavras, a cada clique da máquina fotográfica. E essa conexão dos dois, assim como o próprio ato de fotografar, são muito bem expressados na frase do próprio fotógrafo-personagem, “a fotografia é uma maneira de dizer: eu estive aqui, você esteve aqui”.
A ambientação cênica dos anos 50, também é muito bem recriada e inspirada pelas próprias fotos que Stock bateu de Dean. Certamente que o longa-metragem é muito eficaz em induzir o interesse do espectador, em sair da sala de cinema com vontade de ver as fotos originais, para comparar com as cenas do filme, desejo que é concedido durante os créditos finais. Uma obra que tem o poder de despertar no público uma antiga forma de se relacionar com o cinema, sem dúvida um filme aprazível, que merece ser assistido e aplaudido.