A Pixar conseguiu, ao longo das últimas décadas, um status tão consolidado como um estúdio de ótimas produções que quando ouvimos que tem um filme da Pixar a caminho, já associamos com qualidade. E isso continua sendo justificável, os últimos três filmes do estúdio, Soul, Lucca e Red: Crescer É Uma Fera, foram sucesso de crítica. Lightyear também é um filme muito bom, apesar de estar bem longe do ápice da Pixar. O fato de, entre todos esses lançamentos, Lightyear ter sido o escolhido para estrear diretamente nos cinemas e não no Disney+ tem a ver com “alívio” da pandemia, mas também com a ambição comercial do filme. O astronauta melhor amigo de Woody já é um velho conhecido da audiência e, ironicamente, surgiu justamente como merchandising, assim como somos lembrados desde o início.
Antes mesmo do filme começar, recebemos um anúncio: esse é o filme “live-action” que o Andy foi assistir e amou em 1995 e que deu origem ao boneco do Buzz que ele ganhou. Por isso esse Buzz é mais “humano” que o que conhecemos, simulando um live-action, e é por isso também que ele tem um novo narrador, aqui no Brasil quem dava voz ao boneco era o dublador Guilherme Briggs e quem dubla a versão humana do astronauta é o apresentador Marcos Mion, o mesmo aconteceu nos EUA com Tim Allen agora dando lugar ao Chris Evans.
É uma jogada inteligente por parte da Disney e do diretor Angus MacLane. Lightyear poderia ser uma história sobre absolutamente qualquer astronauta, o filme anda sozinho e não tem qualquer relação com os 4 filmes da franquia Toy Story (apesar de contar com diversas referências, é claro), mas utilizando a figura do astronauta mais amado do mundo animado vem com a garantia de levar um bom público nostálgico aos cinemas e é certamente isso que vai acontecer.
O filme que Andy assistiu e que agora estamos assistindo também, começa com Buzz, sua amiga Alisha Hawthorne e um recruta desbravando um planeta desconhecido, eles aparentemente têm a missão de levar toda a tripulação que viaja com eles para colonizar um novo planeta. Buzz aqui é bem parecido com sua versão boneco que conhecemos em Toy Story, ele narra seus passos como se fosse um herói, mas ninguém se importa, além dele mesmo e ele carrega consigo um certo nível de arrogância que o faz crer que ele não precisa da ajuda de ninguém. Enquanto fazem o reconhecimento do planeta, acabam sendo atacados pela flora e pela fauna do lugar e Buzz vê na situação uma oportunidade de ser o herói que sonhava, mas ele falha ao tentar fazer uma manobra bem no estilo Top Gun: Maverick (só que Maverick tem sucesso na sua vez), quebrando o uma parte da nave que os impossibilita de sair do planeta.
O incidente não foi exatamente culpa do Buzz, mas ele toma para si a responsabilidade de levar todos para longe dali, tentando incessantemente consertar a nave, mas para isso ele tem que fazer voos utilizando “hipervelocidade” e cada 60 segundos de voo no espaço equivalem a 4 anos no planeta em que se encontra a população (algum fã de Interestelar por aí?). Diante do contínuo fracasso das tentativas de Buzz, os outros astronautas desistem de tentar deixar o planeta e encontram formas de habitá-lo ao invés. Cada vez que Buzz volta de seus testes (e são muitas), ele encontra um mundo diferente, sua amiga Alisha vive uma vida completa, encontra uma mulher com quem se casa e tem uma filha e até mesmo uma neta, enquanto Buzz continua exatamente como chegou – só que agora mais solitário.
Quando seu plano enfim dá certo, ele retorna de seu voo de teste para descobrir que um grande vilão robô chamado Imperador Zorg tomou conta do planeta, então Buzz toma para si mais uma missão, dessa vez ao lado de uma nova equipe, incluindo Izzy, a neta de sua antiga amiga Alisha e Sox, um gato robô que faz as vezes de alívio cômico e está lá obviamente para vender bonecos depois do filme – e vai funcionar, é um ótimo personagem.
Lightyear pega emprestado um pouco dos grandes clássicos sobre o espaço com referências divertidas e um toque de nostalgia. A história entretém, mas tem seus momentos mais expressivos nas cenas em que Buzz lida com sentimentos mais profundos e complexos. Honrando seu status de filme Pixar, sentimentos são importantes aqui e muitas vezes acaba beirando a melancolia e talvez pudesse ter sido muito interessante ver esse aspecto ser mais abraçado pelo enredo, mas ainda é um filme infantil sobre um astronauta e essa seriedade acaba sendo não tão explorada.
O filme está dentro de tudo que se espera de um filme da Pixar e talvez seja esse o porquê de ser um filme bom, mas não incrível, já que nada de realmente inesperado acontece. O personagem fofo e engraçado para vender merchandising, o grupo de deslocados que acabam virando uma família e as lições de vida que o protagonista aprende para passar pela sua transformação. O visual é incrível, mas acho que não esperaríamos outra coisa da Pixar, não é mesmo? Ainda assim, vale o elogio, principalmente nas cenas em que vemos o espaço, é impressionante o que o estúdio conseguiu realizar com CGI, seja nas cores, nos movimentos ou na textura, então talvez valha a pena escolher uma telona para conferir.