“Mais Que Especiais” mostra as dificuldades de lidar com os transtornos de autistas com muita empatia.
O ser humano tem uma enorme dificuldade de conviver com tudo que difere a sua aparente normalidade. Tudo que é diferente causa estranhamento e consequentemente rejeição.
O autismo é um transtorno que reúne diversas desordens do desenvolvimento neurológico desde o nascimento ou o começo da infância. Dentro desse espectro de transtorno há uma dificuldade de comunicação e interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos, hipo e hipersensibilidade a estímulos sensoriais e atinge uma a cada 160 crianças no mundo.
E lidar com essas diferenças foi a missão que Bruno (Vincent Cassel) escolheu para sua vida ao lado de Malik (Reda Kateb) criando duas ONGs onde atende e acolhe os casos mais severos de Autismo, em “Mais que especiais”, drama francês baseado em fatos.
Enquanto algumas instituições reagem aos pacientes com incompreensão e violência, amarrando pacientes e dopando eles até torná-los quase vegetais, a dupla usa da humanidade e muita paciência para cuidar de jovens em casos extremos e agressivos levando amor e esperança para eles e suas famílias.
A jornada profissional e da vida de Bruno começa por causa Joseph (Benjamin Lesieur) um garoto de quadro agressivo que graças a atenção e paciência dele parou de agredir a mãe e tenta ter uma vida normal trabalhando e andando de metrô. Mas, sua rotina é de altos e baixos e mesmo causando problemas por causa do seu comportamento, o personagem de Cassel nunca desiste dele.
Além de lidar com os problemas de seus pacientes Bruno tem de enfrentar a fiscalização do governo francês que teme que outras organizações sigam o seu exemplo e funcionem sem autorização. Mas, ninguém está disposto a cuidar daqueles jovens do jeito que ele faz. E ele deixa claro isso quando perde inúmeros encontros amorosos para dar atenção aos pacientes. Aqueles jovens especiais são sua prioridade de vida.
A direção de Eric Toledano e Olivier Nakache repete a leveza e delicadeza do maior sucesso deles “Intocáveis” de 2012, alternando momentos divertidos trazendo leveza ao drama do dia a dia dos cuidadores e autistas. Também há uma sensibilidade muito grande para colocar o espectador no ponto de vista da angústia de um autista sofrendo com sons e a luminosidade dando a exata impressão do terror que causa neles.
O bom longa traz uma reflexão importante sobre a dificuldade de socialização e de como é importante olhar esses jovens com mais amor e menos incompreensão. Num dos diálogos mais tocantes do filme a Hélène (Hélène Vincent), a mãe de Joseph, lamenta as dificuldades do filho já adulto de ter uma vida normal e diz que prefere que morra junto com ela a sofrer sozinho nesse mundo onde ele é excluído e incompreendido. Nada mais é incoerente do que se referir como “especial” e tratar como “pária”. O processo de inclusão é um processo de entendimento, de aceitação e principalmente de humanidade.