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É nítido que vivemos em tempos sombrios. Diferente das obras de ficção, nossos vilões não são monstros com dentes afiados ou bruxas com seu caldeirão mágico, mas sim medos trágicos que não acabam com uma flecha mágica ou um feitiço encantado. Os monstros do mundo real são mais sujos e impregnados em ideias em ideologias ao invés de um corpo físico. E são monstros que a cada dia se mostram mais fortes, mesmo que os já tenhamos tirado sua força anos e anos atrás.

Isso faz deles ainda mais fortes. E por mais que sua “morte” seja mais difícil de acontecer com armas físicas, é necessário ideias e coragem que os combatem, e esse poder está nas mãos das crianças.

Por mais que O Menino Que Queria Ser Rei adote uma narrativa infantil, suas ideias revolucionárias e de luta diante os maus do nosso mundo enchem os olhos infantis de vontade de mudar o mundo e combater aquilo que os impedem de crescer sem ignorância e maldade. Nisso, Joe Cornish escolheu a atemporal história de Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda para tratar de coragem, lealdade e um boa liderança.

No entanto, por mais que na teoria e nas entrelinhas Cornish tenha feito um bom trabalho, seu todo é cansativo e decepcionante – claro, para nós, adultos.

O cineasta britânico não teve vergonha de assumir uma narrativa direcionada claramente à criançada. O roteiro fácil e expositivo, junto com seu humor mais bobo, faz de O Menino Que Queria Ser Rei certeiro com seu público. Distante de conseguir dividir entre os mais novos e os mais velhos, como as obras da Pixar, o filme de Cornish abraça seu tema e segue até o fim, mesmo que desagradando um público mais velho.

O que, em partes, faz da obra um produto negativo e até insignificante. Sim, há seus discursos “fortes”, mas tudo feito de forma leve e muitas vezes, vergonhosas, devido às más atuações e das desnecessárias mais de duas horas de duração.

É preciso novamente frisar o quanto a obra de Cornish não é de toda ruim, porém mesmo com pontos específicos que funcionam é ainda um filme recheado de fraquezas e com um desenvolvimento cansativo. Há incompreensíveis extensões de cenas para um aumento de história que não existia, resultando em uma clara forçação do texto. Por mais que a trajetória de Alex e seus amigos – digo, cavaleiros – siga na linha do Rei Arthur, há um acréscimo de pontos mal desenvolvidos e extensos de forma exagerada, provando o quanto Cornish quis colocar tudo dentro de nada.

Tudo poderia ser mais limpo e rápido, porém, o britânico escolheu mais. Ainda que esta característica seja importante para outras obras, não encaixou bem na proposta de O Menino Que Queria Ser Rei.

A longa duração pesa ainda mais com o fraco elenco. Por mais que Louis Serkis consiga sustentar seu personagem, ficou nítida a necessidade do jovem ter mais aulas de expressões com o pai. Em relação ao resto da turma, só tristeza.

Patrick Stewart faz uma participação vazia como Merlin, enquanto Rebecca Ferguson passa vergonha com uma Morgana moldada no exagero e com movimentos de corpo tão embaraçosos quanto de Cara Delevingne, em Esquadrão Suicida (2016). Dean Chaumoo e Angus Imrie são os que mais chamam atenção pelo fraco trabalho. Mesmo que a má atuação seja justificada por ser o primeiro longa de Chaumoo e o segundo do Imrie, ainda é difícil defender a inconsistência dos dois diante seus personagens, principalmente de Imrie como o jovem Merlin, que só chama atenção pelo vergonhoso show off de mãos e braços, que aparece a cada cinco minutos de longa.

O roteiro também insiste na sua inconsistência, principalmente com personagens secundários. No caso, a relação entre Alex e sua mãe (Desine Gough) é o que mais incomoda, até pela tentativa de Cornish em trazer um drama familiar, mas sem qualquer força e que no fim das contas não entrega o que prometia. A inconsistência insiste também na personagem da jovem Rhianna Dorris, que, apesar de trazer uma evolução, não possui qualquer motivação coerente para estar presente na trama, diferente do parceiro Tom Taylor, que possui uma estrutura narrativa bem mais definida.

Por mais que a trama não encante tanto, há uma satisfação pelo visual, que contribui com efeitos especiais de qualidade, provando que na presença de um Serkis esse quesito técnico sempre será bom. São pontos negativos como esses citados que fazem de O Menino Que Queria Ser Rei uma decepção diante um potencial enorme, pelo exagero de ingenuidade.

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