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O quanto de ficção existe no cinema? Muitas vezes me faço essa pergunta e percebo que a ficção é o mínimo do cinema, onde a sétima arte sempre gostou de explorar acontecimentos da época e trazer questionamentos atuais, o que é a principal força de ‘Much Loved’. Com toques de ‘Taxi Teerã’ (2015), o longa de Nabil Ayouch apresenta uma realidade que o mundo sabe que existe, mas finge não prestar atenção, e como pano de fundo, apresenta questionamentos sobre uma realidade tão próxima quanto a câmera de Ayouch.

Com planos muito próximos das personagens o filme inteiro, Ayouch mostrou sua qualidade em direção de televisão, o que aqui em ‘Much Loved’ funciona muito bem quanto sua proposta de aproximar o espectador daquela realidade, mas que aos poucos se torna sufocante e cansativa, não deixando quem assiste se afastar das personagens para respirar.

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Crédito: Divulgação

A ideia da aproximação torna o filme mais documental, e com toda sua história muito próxima da realidade, o longa é transformado em algo muito humano e profundo. Trazer esse tipo de história é algo que chamamos no jornalismo de “protagonismo anônimo” e dar atenção para aqueles que não são vistos e descartados pela sociedade.

A proibição do longa no próprio país só demonstra, com força, o fechar de olhos para aqueles que estão ao nosso lado. ‘Much Loved’ cutuca a retrograda sociedade marroquina com a vara curta, e de propósito. Apesar de falhar na mensagem para o país, ainda consegue passar uma visão para o resto do mundo.

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Crédito: Divulgação

O objetivo de equilíbrio entre as personagens é fracassado. As três personagens principais, aos poucos vão se separando, com um núcleo de uma ganhando mais destaque que a outra, justamente tendo essa falta de equilíbrio entre elas. O terceiro ato acaba pecando mais por trazer muito em destaque personagens apresentados de forma rasa e muito rápida, tornando-os muito íntimos daquele núcleo, mas sem conseguir convencer de algo natural.

Sem muitas surpresas ou desenvolvimentos grandiosos para cada núcleo, ‘Much Loved’ consegue ser um bom filme. Sua história provocativa chama uma atenção inicial, mas perde forças com o passar dos minutos de longas cenas desnecessárias. É um filme para se analisar, mas analisar a sociedade em si, não só por apresentar questionamentos, mas também por trazer essa força da mulher tão abordada mais recentemente.

Cada drama dos arcos não atinge o público, e mesmo com uma câmera muito próxima, Ayouch não emociona, mesmo tentando com fortes acontecimentos. ‘Much Loved’ não surpreende, mas apresenta méritos para uma visibilidade, que infelizmente não será realizada por um grande público.

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Crédito: Divulgação




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