“Mulheres Armadas, Homens na Lata” é excessivo assim como a tradução de seu título

“Mulheres Armadas, Homens na Lata”, originalmente em francês “Rebelles” (“Rebeldes”, em tradução livre) apresenta três mulheres muito diferentes, mas que se encontram na mesma situação. Sandra (Cécile de France) ex Miss Nord-Pas-de-Calais volta a morar com sua mãe após os abusos sofridos pelo companheiro que ficou no sul, onde ela achou que iria ganhar o mundo, e acaba indo trabalhar na linha de produção de uma fábrica de sardinhas enlatadas, onde conhece Marilyn (Audrey Lamy) agitada e inconsequente mãe solteira já acostumada ao trabalho no chão de fabrica e Nadine (Yolande Moreau) uma mulher mais velha que sustenta o marido e dois filhos, os quais parecem sequer se importar.

A linha de produção, formada apenas por mulheres, é comandada por Jean-Mi (Patrick Ridremont) que aproveita da sua posição de chefia para assediar essas mulheres,  as quais, por estarem inseridas em uma região marcada pelo desemprego, acabam aceitando caladas seus avanços para manterem seus empregos, mas esse não é o caso de Sandra. Para o espanto de Jean-Mi ela o rejeita e enquanto tenta se proteger da tentativa de estupro do chefe acaba matando-o acidentalmente.

A sequência inusitada da morte de Jean-Mi é presenciada por Nadine e Marilyn, que quando chegam para averiguar o acontecido se deparam com uma mala cheia de dinheiro que pertencia ao capataz recém falecido, e entre a decisão de chamar socorro ou ficar com o dinheiro de procedência muito duvidosa e dar um fim ao corpo de Jean-Mi elas ficam com a segunda opção.

No início o longa parece caminhar para o que seria uma comédia social, mostrando as relações e condições de trabalho em uma cidade empobrecida, mas ele ligeiramente se volta para uma direção completamente diferente. Com um ritmo acelerado de situações excêntricas a lá Tarantino inseridas em meio ao cotidiano e a violência que vai aumentando cada vez mais, ele acaba gastando seus truques rápido demais e repete freneticamente rumo a sua conclusão.

Assuntos como machismo, maternidade e relações familiares servem apenas como ligações entre uma situação extrema e outra, sem parar tempo necessário em cada assunto ou personagem para desenvolve-lo com eficiência a trama se torna desordenada.

Sandra é quem se mantém em grande parte como o foco da história, e, portanto, tem suas relações um pouco melhores desenvolvidas, em alguns momentos Nadine e Marilyn se tornam meros acessórios. Um equilíbrio maior entre as três protagonistas é necessário, ainda mais que uma das vantagens do longa é o contraste entre a personalidade dessas mulheres muito bem interpretadas pelas atrizes. Cécile de France dá a Sandra um ar de superioridade e cinismo como se apesar de tão envolvida quanto as outras duas não pertencesse aquilo, ela vai ao trabalho de casaco de pele, inúmeros anéis e maquiagem completa. Já a Marilyn de Audrey é irreverente e sempre falante, e Yolande usa todo o corpo para entregar uma dona de casa que diz muito através da expressão.

“Mulheres Armadas, Homens na Lata” traz bons momentos dessas mulheres que decidiram se rebelar, como na sequência em que elas dão fim ao antigo chefe, mas a falta de aprofundamento nos mais variados temas, e a repetição de recursos fazem com que o filme se torne um alvoroço nem sempre divertido.

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