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O cinema sempre se mostrou recheado de surpresas. Premiações costumam concentrá-las em um só lugar, no entanto, há outras que só passam despercebidas pelo público por serem, bem, um tanto diferentes.

Calmaria, mesmo com um elenco formado por grandes nomes, como de Matthew McConaughey, Anne Hathaway e Jason Clarke – além de Djimon Hounsou, Jeremy Strong e Diane Lane – sequer está sendo citado pelos cinéfilos ou muito menos pelo público geral. E, por mais estranho que isso seja, é uma realidade comum. Muitos longas aleatórios, mas com grande produção, acabam muitas vezes passando despercebidos pelas telonas, dando vantagem para grandes filmes independentes.

No fim, todos ganham, afinal, não há nada que Calmaria acrescente de positivo durante um período pós-Oscar.

Apesar de grandes nomes por trás do filme, inclusive o de Steven Knight – marcado principalmente pela direção segura de Locke (2013) – não se engane. Calmaria, mesmo que ofereça uma proposta dramaticamente interessante de um pescador com um passado misterioso e com o objetivo em mente de pescar um atum que o persegue. Dentro disso, o novo longa de Knight traz um plot curioso e dentro daquilo que o diretor já trouxe com Locke e Redenção (2013), uma trama menor e nada tão exagerado, focado em uma história concentrada em um núcleo mais fechado.

Com Calmaria, o cineasta quebra esse ciclo, trazendo uma virada grandiosa para dentro de algo pequeno. Por mais que esse não seja o principal erro do longa, a construção do roteiro ganha uma primeira camada chamativa, mas todas as outras seguintes ganham o título de confusas e complexas.

O que faz da ideia do britânico algo corajoso, porém, que é destruída por um momento de exposição desnecessária, não deixando todo o mistério até então bem construído, desenrolar-se. Knight não deixa a interpretação na mão do espectador, o que enfraquece sua narrativa já confusa. A camada inicialmente apresentada está longe de ser a principal. Todos os personagens são, literalmente, meros peões para algo maior proposto. Todavia, a revelação das outras camadas e da então grande intenção da história, é feita de maneira pobre, fugindo da estrutura iniciada, fazendo do espectador também um peão.

A mesma trama na mão de um roteirista e diretor mais experiente poderia trazer bons resultados, já que a história de Knight trabalha muito bem com abuso, justiça e vingança.

O cineasta cria uma justificativa para deixar tudo muito superficial sobre os personagens coadjuvantes. No fim, apenas McConaughey possui um personagem mais aprofundado – apesar de seus exageros na interpretação. Clarke e Anne não evoluem aquilo que é mostrado inicialmente. Calmaria está longe de ser uma mancha na filmografia dos três, mas é um passo para trás, isso se o filme for, sequer, assistido.

Knight não conseguiu aproveitar o que tinha em mãos, apesar de ser nítida a tentativa dos três melhorarem a história e fazer do longa algo, pelo menos, consumível. O diretor também entrega uma direção, em certos pontos, bizarra. O cineasta se utiliza de movimentos de câmera fora do segmento, que são justificadas com a revelação do plot, porém, ainda assim se mostram gratuitas e mal realizadas. Por isso, ao mesmo tempo que o filme é corajoso com sua história, também é covarde em abraçar sua ideia até a conclusão.

A dramaticidade criada por Knight também não consegue convencer o espectador. A tentativa de repetir a estratégia dramática de Interestelar (2014) é nítida – até pela presença de McConaughey no elenco. Mas, além de forçar com o uso de uma trilha exagerada, a trama está longe de ter o mesmo trabalho técnico do Nolan. Isso faz com que Calmaria seja uma tentativa frustrada de ter uma narrativa bonita com um plot convincente. Mas o resultado, além de vergonhoso, traz um texto expositivo, confuso e nada acolhedor.

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