É, não deu para Kleber Mendonça e seu ‘Aquarius’. O representante brasileiro, que tentará concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017, será ‘Pequeno Segredo’, de David Schurmann. O anúncio foi feito nesta segunda-feira, pela comissão especial do Ministério da Cultura.
Para fazer a análise dos 16 longas-metragens inscritos, foi designada uma equipe com profissionais de várias áreas. Foram eles: Adriana Scorzelli Rattes, Bruno Barreto, Carla Camurati, George Torquato Firmeza, Luiz Alberto Rodrigues, Marcos Petrucelli, Paulo de Tarso Basto Menelau, Silvia Maria Sachs Rabello e Sylvia Regina Bahiense Naves.
Agora, resta esperar. Até dezembro, devem sair os semifinalistas, enquanto os participantes da cerimônia de premiação, que acontece no final de fevereiro, devem ser anunciados dia 24 de janeiro.
“A cara do Oscar”
Em entrevista ao Estadão no último domingo, o diretor de ‘Pequeno Segredo’ afirmou que tinha sim esperanças de ter sua obra escolhida, uma vez que “o filme nasceu naturalmente com DNA para o Oscar”. Além de fazerem parte da equipe nomes ganhadores e/ou indicados à maior premiação do cinema, a exemplo da diretora de arte Brigitte Broch, Schurmann disse que o filme foi muito bem recebido por distribuidores e produtores tanto no Brasil quanto no exterior, profissionais que inclusive caracterizaram a obra como forte concorrente ao Oscar.
‘Pequeno Segredo’ conta a história de Kat, uma criança portadora de HIV, que foi adotada pela família do diretor. Embora seja uma obra baseada em fatos reais, que inspiraram também o livro de Heloísa Schurmann, a sinopse deixa claro que se trata de um longa-metragem de ficção.
Foi golpe?
A escolha por ‘Aquarius’ era bastante improvável. Embora fosse um dos favoritos para representar o Brasil no Oscar e para levar a Palma de Ouro nesse ano, a equipe do filme estrelado por Sônia Braga, incluindo ela mesma, aproveitou o tapete vermelho de Cannes para fazer uma manifestação política clara, que envolveu o filme numa série de polêmicas.
Em cartazes, mostraram ao público como se posicionavam quanto ao processo de impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff: “um golpe está acontecendo no Brasil”.
Além de quebrar o protocolo do tapete vermelho, o elenco não agradou um dos membros da comissão criada pelo Ministério da Cultura: Marcos Petrucelli publicamente criticou o gesto e o diretor Mendonça Filho.
Depois de atribuírem ao filme classificação indicativa para maiores de 18 anos, começou-se a acreditar que ‘Aquarius’ poderia ser alvo de um boicote. Em apoio ao cineasta e à obra, Anna Muylaert e Gabriel Mascaro retiraram, respectivamente, ‘Mãe só há uma’ e ‘Boi Neon’ da disputa, uma vez que, segundo eles, tratava-se de um “processo seletivo de imparcialidade questionável”.
Por isso, há quem descredite a escolha da obra de Schurmann. Ainda assim, o filme de Mendonça Filho parece que superará o desempenho do longa anterior do diretor, ‘O Som ao Redor’. Na primeira semana, ‘Aquarius’ teve 95 mil espectadores. Na segunda, já com mais salas de exibição, viu o público lotar os cinemas. De Cannes para cá, não saiu da mídia. Ganhou prêmios, estreou bem na Contemporary World do Festival de Toronto, terá estreia solene no Angelika Film Center de Nova York e nas próximas semanas abre na Europa. Se a não-escolha do filme para representar o Brasil foi uma tentativa de boicote, o público está dizendo nos cinemas não ao golpe.