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Alguns autores possuem o dom de escrever livros que são capazes de estimular a nossa imaginação de diferentes formas, seja imaginando viagens fantásticas, cenários impossíveis e criaturas delirantes. Madeleine L’Engle certamente possuía esse dom, e suas obras viraram clássicos da literatura infantil. “Uma Dobra no Tempo”, publicado originalmente em 1962, é o primeiro de uma série de cinco livros e que agora foi adaptado para as telonas pela Walt Disney Pictures. A princípio, a riqueza da obra original associada com o histórico da empresa do camundongo nos faz pensar que o filme seria um sucesso, será?
Assim como citamos o dom dos autores de criar histórias que mexem com o nosso imaginário, também existe um valioso dom dos cineastas em adaptar as obras da literatura para as telonas, onde podemos citar brevemente Harry Potter, Senhor dos Anéis, Blade Runner, Tubarão, Jurassic Park e mesmo o mais recente Jogador Nº 1 como grandes obras que foram majestosamente adaptadas para o cinema. “Uma Dobra no Tempo” não teve essa sorte, e Ava DuVernay (Selma: Uma Luta pela Igualdade) não conseguiu entregar uma película que chegasse perto da exploração do imaginário impressa na obra original, com uma direção sem rumo que negligenciou o potencial dos astros envolvidos na produção.
O roteiro adaptado por Jennifer Lee (Frozen) e Jeff Stockwell (Ponte para Terabítia) não ajudou muito o trabalho da diretora, já que algumas das liberdades tomadas na história, com o intuito de facilitar o entendimento e talvez atualizar a obra para o século XXI, fizeram com que o filme subestimasse a inteligência de crianças de 08 a 12 anos, o suposto público alvo, criando uma experiência talvez tolerável para as crianças pré-escolares.
Assim como no livro, “Uma Dobra no Tempo” acompanha a história de Meg Murry (Storm Reid), uma menina que recebe misteriosas visitas de senhoras com pistas sobre o desaparecimento de seu pai que a conduzem para uma aventura inusitada por novas dimensões. A diferença crucial entre a obra original e a produção cinematográfica é a abordagem sobre as dimensões, onde a primeira se apoia no imaginário infantil e a segunda mal se sustenta num hipotético embasamento científico que culmina num desfecho emocional clichê.
Tais alterações impactaram significativamente no personagem Charles Wallace, irmão mais novo de Meg com papel crucial na trama, onde fica clara má direção do ator mirim Deric McCabe, que entrega um personagem sem carisma e extremamente forçado. O mesmo ocorre com a atuação de Storm Reid, que apesar de esforçada, não teve um bom direcionamento no set. Entre os atores mirins, o destaque fica para Levi Miller (Peter Pan, 2015) que, mesmo com um personagem coadjuvante e mal encaixado no roteiro, consegue transparecer veracidade em suas emoções.
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O elenco ainda conta com Oprah Winfrey, Reese Witherspoon e Mindy Kaling como as misteriosas senhoras que viajam pelas dimensões, entretanto as personagens são mal exploradas e mesmo com quase duas horas de filme, não é possível criar empatia com a atuação das atrizes e nem compreender as suas motivações. Também não é possível compreender o porquê da “cafonice” da maquiagem e figurino, em especial dessas personagens, que são alterados a cada cena, sem a menor necessidade. Por outro lado, entre tantos pontos negativos, ressaltam-se os efeitos visuais impecáveis do filme. Alguns momentos realmente encantam com tamanha beleza, que após alguns segundos de reflexão nos fazem pensar no tamanho desperdício de recursos gastos com história tão pobre e mal aproveitada.
Apesar do filme não dar brechas para continuações, é de se imaginar que com mais quatro livros a serem adaptados, a Disney já tenha cogitado essa possibilidade e só a recepção do público que vai nos dizer. Esperamos que, caso sigam com mais produções, ao menos troquem a equipe para que as próximas obras não sejam desonradas. “Uma Dobra no Tempo” certamente não é a opção número 1 desse feriado, mas caso a curiosidade sobre a trama fale mais alto, não perca tempo, e procure o livro que inspirou o filme, lançado aqui no Brasil pela Editora Harper Collins e numa belíssima edição em quadrinhos lançada pela Editora Darkside.
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