Em tempos como os atuais com um maior acesso a informação através da internet e das redes sociais não significa que as pessoas estão melhor informadas. O volume de dados compartilhados diariamente é imenso, mas o escopo de desinformação é grande. E há quem queira simplesmente se alienar. Viver no mundo mágico de uma rede social onde os corpos são perfeitos e os casais são felizes e só assistir coisas felizes na TV. Sim, o streaming é uma blindagem importante para nos afastarmos de uma realidade mais cruel do que qualquer serial killer da ficção.
Diante desse cenário, imagine o quão caótica seria a jornada de dois cientistas, ao descobrirem que em 6 meses um cometa se chocaria com o planeta, em tentar avisar a todos de um apocalipse iminente.
Esse é o ponto de partida da trama de “Não olhe pra cima” longa escrito e dirigido por Adam Mckay que serve de metáfora e crítica interessante para a pandemia de COVID-19, por mais que tenha sido idealizado antes dela, onde cientistas mundo afora tiveram que se desdobrar para levar informação sobre cuidados e vacinação e ao mesmo tempo lutaram contra descaso e desinformação motivados por interesses diversos.
Com um elenco estrelar, o longa é guiado pelo professor Randall Mindy (Leonardo Dicaprio) e sua aluna Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) que tentam convencer a presidente Orlean (Merryl Streep) e seu filho e chefe de gabinete Jason Orlean (Jonah Hill) da ameaça que pode dizimar a humanidade. Mas, eles têm outras prioridades e fazem pouco caso da descoberta. Diante da urgência, a dupla tenta ir à imprensa falar sobre o caso. Mas, competir com uma diva da música pop reatando um relacionamento em rede nacional não é tarefa simples. O mundo vai acabar e ninguém se importa.
Essa sátira funciona bem quando lembramos do caos de desinformação na pandemia (também chamado de infodemia) que ainda vivemos, e ainda temos pessoas completamente alheias a isso vivendo com suas máscaras no queixo como se a doença nem tivesse existido.
O roteiro bem humorado de McKay é bem conduzido pelo excelente elenco, porém explora pouco o gênero de filme catástrofe e, apesar de divertido e pertinente, não tem boas piadas. É uma comédia sem grandes gargalhadas apesar de um bom potencial para isso. Um bom exemplo, é o outro filme apocalíptico com o Jonah Hill no elenco “É o fim”, que não economiza nas piadas do início ao fim.
O burburinho do filme nas redes sociais e seu excelente elenco vai garantir o lugar da produção da Netflix nas principais premiações do cinema. Aliás, a Netflix nos últimos anos tem tido presença cativa e com favoritismo em várias categorias. Se firmando como uma das grandes distribuidoras.
“Não olhe pra cima” é um bom filme que diverte, mas deixa aquela sensação de que faltou algo a mais.