Desde sua origem, em 2012, o grupo Porta dos Fundos tem protagonizado uma série de polêmicas envolvendo política, religião e, mais do que tudo, humor. Do YouTube à Netflix, e agora conquistando seu espaço no Prime Video, as histórias criadas por uma das maiores produtoras de humor do país vão além das mais sinceras gargalhadas, propondo trazer críticas sociais e reflexões extremamente importantes para as telinhas de seu público – e uma vez às telonas, mas a gente pode fingir que esse filme nunca existiu.
Dentre os diversos personagens que marcaram história nas esquetes do Porta, um deles demonstrou claro potencial para protagonizar seu próprio filme – felizmente ganhou –, e é o caso do policial Peçanha. Interpretado por Antonio Tabet, o personagem é uma clara sátira aos policiais no melhor estilo “Loucademia de Polícia” e “Corra que a polícia vem aí”, demonstrando com muito bom humor as melhores qualidades e os piores defeitos da polícia brasileira.
Enquanto nas esquetes o personagem se limitava, na maioria das vezes, a ser esta grandiosa sátira galhofeira, em “Peçanha contra o Animal”, filme escrito pelo próprio Antonio Tabet e dirigido por Vinicius Videla, o policial ganha maior aprofundamento e leva suas críticas mais além. Dessa forma, Peçanha deixa de ser apenas “um policial” para ser um cidadão médio brasileiro, talvez o “melhor dos piores deles”, como descreveu Tabet na divulgação do filme. Um homem de meia idade branco, hétero, cisgênero e de classe média, que carrega consigo uma bagagem repleta de preconceitos enraizados, mas que sabe disso e se esforça para mudar – muitas vezes sem sucesso, mas é aí que está a graça.
Com piadas que alternam entre o sutil e o escrachado, a obra também se permite a rir de questões que vão além do mero universo policial, colocando em pauta brevemente, por exemplo, as mazelas da igreja como instituição. Ainda assim, de forma criativa e bem pensada, consegue manter sempre uma boa dosagem entre a crítica e o bom humor.
Não se levando a sério, o filme é bom o bastante para gerar algumas gargalhadas nos espectadores que já estiverem acostumados a saborear a comédia absurda no melhor estilo Porta dos Fundos. Além de Antonio Tabet, Pedro Benevides também brilha em seu papel no filme, interpretando a dupla do protagonista, Mesquita, que se mostra o clássico personagem sem noção que não muito entende das coisas. Os demais atores do filme, como Rafael Portugal, Evelyn Castro, Estevam Nabote e Fábio de Luca também estão ótimos em seus papéis, conquistando altas risadas do público com cenas cada vez mais aleatórias que abraçam o absurdo e o cômico.
“Peçanha contra o Animal”, portanto, não é uma produção para todos. Espectadores mais certinhos, que apreciam apenas humores mais pacatos e dentro da caixa certamente não gostarão do resultado final. Aqueles que se deixam levar pelo absurdo e conseguem reconhecer o ridículo como uma forma de humor, entretanto, terão neste filme uma ótima fonte de gargalhadas, as quais nos ajudam a reconhecer e aceitar a loucura deste mundo que, muitas vezes, nos forçam a recorrer ao humor para entendê-lo.