A diferença é que aqui o “DNA de 007” é legítimo! Afinal, o inglês Ian Fleming (1908-1964) criador de Bond na literatura foi um dos que colaboradores para o nascimento da série de TV original “O Agente da U.N.C.L.E.” (“The Man From U.N.C.L.E.) Um acrônimo em tradução livre para Rede de Comandos Unidos de Lei e Aplicação e que foi ao ar pela NBC nos Estados Unidos entre 1964 até 1967. Fleming, por exemplo, batizou os personagens principais de Napoleon Solo e Illya Kuryakin.
E a versão cinematográfica do também inglês Guy Ritchie (filmes “Sherlock Holmes” de 2009 e 2011) se passa exatamente no mesmo ano do início da série. E desde a primeira cena já é perceptível a qualidade e o capricho da produção. Figurinos, penteados, carros, objetos, enfim, todos os ambientes “te levam” a 1964. Uma decisão de fato arriscada, mas a melhor possível. Vide que um trabalho medíocre nestes aspectos poderia fazer com o público se perdesse em um ambiente visivelmente falso. Ao mesmo tempo em que uma adaptação ao século XXI não teria tanto apelo.
A trama conta as aventuras dos agentes Solo (Henry Cavill – Super Man em “Homem de Aço” de 2013) e Kuryakin (Armie Hammer – “O Cavaleiro Solitário” de 2013). Um americano e um russo respectivamente. Na cidade dividida de Berlim, na Alemanha, as duas nações em plena Guerra Fria (na vida real Estados Unidos e União Soviética disputavam uma briga por armamento) fazem um acordo de união para que juntas pudessem derrotar um inimigo maior: o Nazismo. Os fascistas italianos raptaram um importante cientista, com a intenção de construir uma bomba atômica. Napoleon Solo e Illya Kuryakin são enviados para resgatar o sequestrado, além, é claro, de pegar o arquivo com detalhes do projeto ao lado da filha deste: “Gaby” (Alicia Vikander – “O Sétimo Filho” de 2015).
Elegância! Esta é, sem dúvida, a palavra que poderia resumir o filme. Como citado, a adrenalina da ação submersa em um ambiente fino e educado em cada vírgula cria um clima instigante. Há as tradicionais cenas previsíveis para uma obra com este tema, como a perseguição de carros, troca de tiros, envenenamento, traições, sedução… Mas Ritchie dá um surpreendente frescor a tudo isso seja com a escolha de um posicionamento criativo de câmeras (destaque para as perseguições do início a ao final) ou em sutilezas como a constante presença de trilha sonora e que, às vezes, é interrompida de forma abrupta depois de um gesto mais chamativo de uma personagem.
As atuações também chamam atenção. Cavill passa quase as duas horas de U.N.C.L.E. com a mesma expressão facial. E isso não é uma crítica negativa! Esta unidimensionalidade se mantém com um leve sorriso cínico no rosto e uma tranqüilidade quase irritante a todo instante combina perfeitamente com a de Hammer. Ele faz o russo que quer se manter frio como o próprio país, mas na verdade é um “vulcão adormecido” esperando para explodir a qualquer provocação. Os sentimentos de ambos são muito bem transmitidos através de closes nos rostos evidenciando os olhos e as fisionomias expressivas.
Mas a característica superficial que mais cativa o público, provavelmente, é o humor. Bem trabalhado graças ao roteiro do diretor junto a Lionel Wigram. A rivalidade entre americanos e russos é colocado à prova constantemente. Indo de debates sobre a qualidade de chips transmissores a até gosto sobre moda. O riso vem com naturalidade e constantemente… Nada soa forçado (até nisso o filme é elegante). Muito diferentemente de algo de Rowan Atkinson na série de filmes “Jhonny English” com o tom infantil (que não é, de modo algum, ruim). Aqui há o que pode ser visto como “humor inteligente” ou no caso especialmente, “…de classe”.
Não há gritos mesmo sob tortura, xingamentos, corpos desnudos sem motivo, piadas de mal gosto… Apenas uma ótima mescla de humor e ação. E depois de tanta finesse o público aprende uma dica… “Não use um cinto Paco Rabanne com um vestido Dior… Não orna”.
Por Afonso Rodrigues
Trailer do Filme: