A personagem Bridget Jones nasceu em uma coluna de jornal escrita pela jornalista Helen Fielding, que a criou com a intenção de retratar os anseios da mulher moderna. Com muito humor, a coluna fez tanto sucesso que a escritora resolveu escrever um romance com a personagem, que se transformou numa série de livros e filmes. Assim, nasceu o livro ‘O Diário de Bridget Jones’ (1996), que ganhou o British Book Award de 1998, se tornou um “best-seller” vendendo mais de 2 milhões de cópias pelo mundo, figurou na lista dos mais vendidos dos EUA por várias semanas e foi publicado em mais de 23 países.
A obra ganhou uma adaptação para o cinema ‘O Diário de Bridget Jones’ (Bridget Jones’s Diary, 2001), dirigida pela então estreante Sharon Maguire, que gerou algum burburinho em sua produção, por escolher a atriz norte-americana Renée Zellweger, para interpretar uma personagem que “encarna” muitas das características típicas das mulheres britânicas. Com o lançamento do filme os pré-conceitos logo se esvaneceram e tanto o longa-metragem, quanto Zellweger agradaram a maioria dos espectadores mais temerosos, fossem as fãs dos livros ou as novas espectadoras, que nunca os leram. Provavelmente as críticas pré-filme foram superadas pelo ótimo desempenho da atriz e pelo fato de que Bridget Jones é uma personagem cosmopolita, que gera identificação com mulheres de diferentes regiões do mundo, não apenas do Reino Unido ou da Europa, tornando a nacionalidade da atriz irrelevante.
Já a continuação ‘Bridget Jones: No Limite da Razão’ (‘Bridget Jones: The Edge of Reason’, 2004), não teve o mesmo desempenho e não agradou nem o público, nem os críticos. Certamente seu fracasso nas bilheterias foi devido ao seu humor demasiado previsível, com piadas exageradas, que não favoreceram em nada a atuação da atriz recém vencedora do Oscar de Melhor Atriz por ‘Cold Mountain’ em 2004. Desta vez a direção coube a Beeban Kidron conhecida por ‘Para Wong Foo, Obrigado Por Tudo! Julie Newmar’ (‘To Wong Foo, thanks for everything! Julie Newmar’, 1995), que também não contribuiu com nada relativamente notável para a continuação.
Neste terceiro filme ‘O Bebê de Bridget Jones’ (Bridget Jones’s Baby, 2016), além da atriz principal Renée Zellweger, Colin Firth, Hugh Grant (numa participação simbólica, mas não menos engraçada) temos a inclusão de Patrick Dempsey de ‘O Melhor Amigo da Noiva’ (‘Made of Honor’, 2008). Na direção temos a volta de Sharon Maguire, que não dirigiu muitos outros trabalhos notáveis nestes quase quinze anos. Apesar de mais de uma década depois e de podermos questionar a necessidade de um terceiro filme, o reencontro com Bridget Jones é uma feliz surpresa, principalmente para quem apreciou o primeiro longa e talvez até o segundo, especialmente o público feminino e homens “mais evoluídos”.
A Bridget Jones mais madura, de uma Zellweger que tem aparecido em poucos trabalhos expressivos nos últimos anos, se não se destaca por falta de um texto e diálogos melhores escritos, pelo menos diverte satisfatoriamente. Ainda que algumas piadas sejam demasiadamente “forçadas”, muitas conseguem arrancar gargalhadas do público, o que sempre é um mérito de qualquer filme. Além do cativante jeito desajeitado da personagem principal, temos novamente Colin Firth interpretando o orgulhoso Mark Darcy, (personagem que é um dos grandes aspectos positivos da franquia, pela qualidade da atuação do ator escolhido, que evoluiu a cada filme e por sua referência intertextual com a obra de Jane Austen, um dos fatores responsáveis, também, pela popularidade da série de livros escritos por Fielding).
Claro que falta uma perspectiva mais relevante que justifique a existência deste terceiro longa-metragem. Não é uma continuação que vai dar um fôlego a mais para a franquia e impulsionar novos filmes. Perdeu-se a chance de fazer a personagem, que sempre tentou parecer “progressista”, evoluir de alguma forma mais representativa e empoderadora, talvez discutir mais pautas feministas. No máximo vai encerrar a trilogia de forma relativamente digna, entretanto, não notável, nem cinematograficamente ou socialmente relevante.
O maior mérito desta sequência está exatamente na interação do trio de personagens Bridget Jones (Renée Zellweger), Mark Darcy (Colin Firth), Jack Qwant (Patrick Dempsey), num triângulo amoroso que faz rir pelo constrangimento e o ridículo das situações. Mesmo o espectador que não tenha um gosto especial por este tipo de comédia, provavelmente vai se pegar rindo em muitas cenas. ‘O Bebê de Bridget Jones’ é uma continuação que chega tardiamente, não vai figurar entre as melhores produções do gênero, não vai ser tão marcante quanto o primeiro filme, porém vai agradar os fãs dos livros e quem for ao cinema em busca de duas horas de simples diversão.