“O Conto da Princesa Kaguya / Kaguya-Hime no Monogatari” de 2013 é dirigido por Isao Takahata de “Túmulo dos Vaga-Lumes / Hotaru no Haka” de 1988 e produzido pelo Etúdio Ghibli de Hayao Miyazaki. Baseado na narrativa folclórica japonesa “O Conto do Cortador de Bambu” é uma história belíssima tanto visualmente quanto em seu conteúdo. O triste é saber que um estúdio de animação que produz filmes com esta qualidade e figura em premiações como o Oscar quase todo o ano tem passado por dificuldades financeiras.
O enredo nos apresenta um camponês que encontra uma menina dentro de um bambu e a cria como filha. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da criança o pai encontra uma quantia de ouro no bambuzal e o utiliza para transformar a menina em uma princesa na corte japonesa. Como ela se torna uma linda jovem, muitos nobres, inclusive o imperador, aspiram desposá-la.
A última animação de Takahata, que já anunciou sua aposentadoria, não é trágico como seu mais conhecido “Grave of the Fireflies” (título em inglês), mas não é desprovido da mesma tristeza e melancolia. Se naquele o cenário era a segunda guerra mundial representada de uma forma espiritual, neste é o japão feudal e a fantasia oriental que não precisa de explicação, que nos deslumbram e causam uma boa estranheza. Kaguya vem para nos relembrar o que é realmente belo e importante na vida e o quanto a riqueza, a tradição e as formalidades podem nos afastar do objetivo final que é a felicidade. Aqui não temos a morte explícita, como fechamento de um ciclo, mas sim a transcendência espiritual fundamentada no Budismo e outras religiões do oriente.
Os traços animados lembram gravuras japonesas que serviram de inspiração para o impressionismo europeu. A cada frame vemos uma pintura viva frente aos nossos olhos, que por vezes podem ser mais eficientes em expressar emoção do que pessoas reais ou imagens de computação gráfica. Pode ser que seja o fato de sabermos que cada desenho passou pela mão de uma pessoa que acredita muito na sua criação ou mesmo por lembrar ilustrações que nós mesmos produzimos na infância com nossos gizes de cera. E é exatamente sobre crescer e amadurecer que a narrativa versa. Vemos isto na transição das imagens lúdicas no início, para algumas mais sombrias no meio e por fim outras religiosas.
No início de 2014 um erro de tradução fez com que a mídia e a internet anunciassem o possível fechamento do Studio Ghibli, gerando uma comoção dos fãs. Apesar de o engano ter sido esclarecido, o estúdio vai passar por uma reestruturação e um hiato produtivo por conta da aposentadoria de seu fundador e chefe criativo, somada a queda na arrecadação de suas produções. Isso não é menos injusto, já que seus filmes receberam aclamação mundial da crítica e do público. Em especial “Hotaru no Haka” de 1988, considerado um dos melhores filmes de guerra já feitos. Além disso ,”A Viagem de Chihiro” de 2002 é o único filme de língua não-inglesa a ganhar o Oscar de melhor filme de animação, e é considerado por muitos críticos um dos dez melhores filmes da história do cinema.
Trailer do filme: