Os únicos sobreviventes viajam a bordo de uma locomotiva chamada Snowpiercer. Nela, os mais pobres vivem em condições sub-humanas, enquanto a classe rica, que se comporta como reis, domina todo o funcionamento da máquina. Até o dia em que Curtis (Chris Evans), um dos miseráveis, resolve mudar o comando, alterando todo o funcionamento do local que o acolheu quando mais novo.
Projetada por um biliardário, a Snowpiercer é autossuficiente e forte o bastante para viajar por entre as rochas petrificadas e cortar o gelo presente em seu caminho. Ela se move há 18 anos sem parar e quando completa o seu trajeto, todos à bordo comemoram um novo ano. As cenas dessa comemoração vão de encontro às picuinhas tratadas no filme. Porém, trata-se de um momento de alívio em relação a todo ambiente de tensão criado desde o início do longa. Após algumas voltas é que o filme realmente começa.
Neste confinamento, a locomotiva representa a esperança de vida da humanidade. Na verdade, uma nova humanidade que se reproduz em uma “caixa de fósforos” e aguarda incansavelmente pelo amanhã. E assim como na vida há a distinção de classes, no filme não seria diferente. A locomotiva é composta por pessoas que não se importam com as outras, algo que acontece no mundo real. Contudo, se a classe rica era a maior e tratava a segunda classe como seres descartáveis, por que necessariamente ela deveria levar os mais pobres? Essa é uma questão que fica em aberto no filme.
Começamos, então, a entender o porquê de todo aquele povo estar concentrado e dividido em duas classes. A chefe da primeira classe, Mason (Tilda Swinton), é uma senhora desorientada e que quer “controlar” o maquinário. Para isso, ela anda escoltada por soldados armados que tentam impor a ordem, controlando a todos da segunda classe, que andam revoltados pelo tratamento inadequado que recebem. Tilda, como sempre, se dedica, passando veracidade e entregando-se ao personagem em questão. Além disso, ela é uma das peças principais pela conquista de Curtis (Chris Evans).
Ele, por outro lado, um líder nato. Ao lado de seu amigo Edgar (Jamie Bell), torna a segunda classe um lugar menos complicado de se viver. Com palavras de ordem, respeito aos mais velhos e uma carga pesada trazida na consciência, é impossível não torcer pelo personagem. Evans mostra mais uma vez a que veio. Ele entrega novamente uma atuação competente e convincente, transmitindo todos os conflitos que se passam na mente do personagem. Curtis é quase uma versão do Capitão América – também seu personagem – sem o uniforme azul.
Junto com Ed Harris, que encara Wilford – o engenheiro que projetou a máquina -, faz uma das melhores cenas do filme. Harris, mais uma vez, faz de sua atuação um grande destaque. Entretanto, dois personagens são muito importantes na trama: Namgoong Minsoo (Kang-ho Song) e sua filha, interpretada por Go Ah-sung. Eles são responsáveis por todo o esquema de abertura e fechamento dos vagões e são as chaves do sucesso de Curtis e sua turma.
Mesmo sendo um bom Sci-fi e mantendo toda a tensão até o terceiro ato, o longa dá uma desacelerada nas últimas cenas, não empolgando mais. Tudo o que o espectador assiste cai por terra logo no desfecho. Depois de assistir a punições severas, a submissão dos personagens da segunda classe, o final é a parte que mais merecia destaque por parte do diretor, o que não acontece.
Apesar disso, a direção ousada de Joon-Ho Bong fez toda a diferença. A mistura multicontinental entre o elenco e a equipe de direção agregou ao resultado final da produção, ofertando personalidade e um toque especial à trama. Apesar de algumas imagens desfiguradas, o filme é o retrato atual da sociedade em que vivemos. Vale muito a pena conferir!
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