Me parece que os dias de Apocalipse Zumbi no cinema acabaram e a Rebelião das Máquinas está de volta e com tudo! E percebam que eu nem estou falando de crimes cibernéticos, como vírus e roubo de informações sigilosas. A questão aqui é ainda mais perigosa. Há relatos e artigos que comprovam que grandes empresas, como a Microsoft, estão em estágio avançado no desenvolvimento da “inteligência artificial”, como por exemplo o projeto “Deep Learning”, no qual a empresa já afirma ter obtido melhores resultados nas respostas das máquinas do que dos seres humanos. Isso mesmo, está muito perto o tempo em que as máquinas serão mais inteligentes que nós…
Em 1950, o russo Isaac Asimov escreveu uma coletânea de nove contos sobre a evolução dos Robôs, desde o mais rudimentar deles até uma sociedade inteira controlada por máquinas superiores aos seres humanos – inclusive o filme “Eu, Robô” (2004), foi livremente adaptado de sua obra, sendo que neste filme conhecemos as Três Leis da Robótica, criadas pelo visionário escritor russo e utilizadas até hoje por escritores da ficção científica. E não foi só ele, Chaplin já havia alertado sobre os perigos da necessidade e dependência do ser humano pelas máquinas em “Tempos Modernos” (1936).
Após a Guerra Fria e a corrida espacial, o mundo – que esteve à beira do colapso – nunca mais seria o mesmo. E o Cinema obviamente seria influenciado. Depois da rebelião de Hal 9000 em “2001, Uma Odisséia no Espaço” (1968) e pouco tempo após Rick Deckard (Harrison Ford) caçar e eliminar andróides em “Blade Runner” (1982), o criativo cineasta James Cameron e sua esposa na época, a produtora Gale Anne Hurd, lançaram um filme que em pouco tempo se tornaria um clássico da ficção científica, contando uma espetacular história sobre homens e robôs. Para quem não está familiarizado com a franquia, farei uma breve retrospectiva: A Skynet , uma espécie de rede cibernética de alta inteligência envia um “cyborg” modelo T-800 (Arnold Schwarzenegger) do ano de 2029 para a Los Angeles de 1984, com o objetivo de matar Sarah Connor (Linda Hamilton). O motivo é que Sarah seria a mãe de John Connor, o jovem que conduziria os homens a triunfarem sobre as máquinas depois do Dia do Julgamento Final. Em 1991, Cameron voltaria com a sequência que para muitos superou o original (inclusive vencendo 4 Oscar). Com o fracasso de T-800 em eliminar Sarah, a Skynet decidiu desta vez acabar com John (Edward Furlong), que separado de sua mãe (internada em um hospício de segurança máxima) se tornou um garoto rebelde, enviando um novo modelo de cyborg de metal líquido praticamente indestrutível, o T-1000 (Robert Patrick). Mas eis que T-800 está de volta, só que desta vez com o objetivo de proteger John do novo super vilão. Este filme provou a Hollywood e ao mundo que um vilão feito através do CGI poderia ficar eternizado como um dos principais da década e da história dos filmes de ação. Se alguém achou complicado até aqui, saiba que os dois filmes subsequentes da franquia, dirigidos em 2003 por Jonathan Mostow e em 2009 por McG, tem a inclusão de outras máquinas – como a perigosa T-X – embora o objetivo seja sempre o mesmo: a guerra entre a Resistência e a Skynet. Estes dois últimos filmes foram menos elogiados pela crítica, dando claros sinais de que a franquia já estava muito desgastada.
Falando agora do quinto filme da franquia, intitulado de “O Exterminador do Futuro: Gênesis”, já vou avisando que é um filme que vai dividir opiniões. Conversando com algumas pessoas que viram o filme comigo, percebi que os fãs mais fiéis do clássico original ficaram um tanto decepcionados, entretanto, os amantes do entretenimento e dos filmes de ação, saíram da sala extremamente empolgados e satisfeitos. A verdade é que como muitos filmes bons, este “Exterminador” também tem seus defeitos. Dirigido por Alan Taylor, responsável pelos dois últimos episódios da primeira temporada de Game of Thrones (os melhores, na minha opinião), o filme mantém a qualidade visual que conseguiu aprimorar filme após filme, com destaque para a re-criação do Arnold Schwarzenegger de 1984. É verdade, quando ele aparece no início do filme – em uma espécie de remake da cena de 1984 – não há um fã que instantaneamente não recorde dos bons tempos vividos enquanto assistia o filme original. Nostalgico. O restante do elenco é muito bom também: Emilia Clarke (também da série GOT) como Sarah Connor, Jason Clarke (Planeta dos Macacos – O Confronto) como John Connor e Jai Courtney (Divergente) como Kyle Reese. Todos entregam atuações seguras, convincentes e efetivamente cômicas, no momento certo.
Como eu disse anteriormente, a trama de “O Exterminador” é bastante complexa. E principalmente os dois últimos filmes complicaram ainda mais. Então seria no mínimo injusto querer que o “Exterminador: Gênesis” milagrosamente juntasse todas as pontas soltas deixadas lá trás. E em momento algum o filme se propõe a isso. Aqui, estamos novamente em 2029, muito próximos de acabar com a Skynet. Só que mais uma vez, o inteligente sistema envia um poderoso cyborg para acabar com uma mais jovem Sarah Connor. Sendo assim, John decide enviar Kyle Reese na sua última tentativa possível de salvá-la mais uma vez. Porém, ao chegar em 1984, Kyle percebe que nada está como ele esperava. Isso é o interessante do filme, saindo de um remake que obviamente não superaria o filme original, o espectador fica na pele de Kyle, ou seja, sem saber o que esperar deste mundo totalmente novo. E uma vez que o espectador “embarque” nesta aventura ele só tem a ganhar, pois o filme é cheio de (boas) auto-referências, há uma tensão física interessante entre Emilia Clarke e Jai Courtney e principalmente, Arnold está de volta e com tudo (com tudo que um senhor de 67 anos conseguiria fazer, é claro).
Como nem tudo são flores, os fãs mais fervorosos, que acompanham a linha de raciocínio dos quatro filmes anteriores (sim, apesar de serem filmes de qualidade extremamente oscilantes em relação do primeiro ao último, eles seguem uma ordem cronológica) podem não aceitar que o terceiro e quarto filmes da franquia foram quase que completamente ignorados, e o filme parte do final de “Exterminador 2”. As escolhas dos roteiristas de utilizarem mais uma vez o envio do cyborg e o tema da viagem no tempo, já tão explorados – como em “De Volta Para o Futuro” ou “X-Men, Dias de um Futuro Esquecido” – também foram decisões “pobres” e pouco ousadas, mas nada que atrapalhe a real diversão que o filme proporciona. É só relaxar, e se deixar levar.
Existem algumas surpresas de roteiro também interessantes, apesar de não serem tão difíceis de prever. Mas é mesmo o carisma de Schwarzenegger, seja na tentativa de emular um ser humano ou no encontro cara a cara com seu “eu” anterior que tornam tão agradáveis e empolgantes as duas horas que “voam” enquanto o filme passa. Foi uma grata surpresa, pois apesar de não ser tão profundo ou inovador como seus dois primeiros filmes ou o recém-lançado “Ex-Machina” (de Alex Garland, que eu recomendo!), garante um entretenimento de qualidade e que conseguiu apagar o desgaste deixado por duas continuações que se levaram a sério demais e esqueceram a leveza e o humor que foram características marcantes em “O Exterminador do Futuro 2”. Está certo que faltou na trilha um pouquinho de Guns n’ Roses, mas isso dá pra relevar graças a inclusão na trilha de um pouco de Ramones. E o final ainda pode ter deixado em aberto uma possível continuação… De qualquer forma, “O Exterminador do Futuro: Gênesis” vale por si só, por não exigir conhecimento anterior da história e ao mesmo tempo, ativar na nossa memória momentos maravilhosos através da nostalgia das suas cenas e auto-referências.