Em 2004 os alemães riam de si mesmos no tocante ‘Adeus Lênin!’, uma “dramédia” cult que cutucava em tom quase de fábula as feridas do passado pós-queda do muro de Berlim e a abertura a democracia neoliberal. Agora chegou a vez da Itália, pois ‘O Funcionário do Mês’ arrecadou a maior bilheteria de todos os tempos em seu próprio solo. Esta produção dirigida por Gennaro Nunziante é uma sátira exagerada e hilária sobre as raízes e tradições italianas, e mesmo que cause discussões acaloradas sobre a mensagem exposta sobre a ridicularização das instituições, funciona maravilhosamente bem.
Zalone (Checco Zalone) representa tudo que de pior existe nos vícios do funcionalismo público. Trabalhando num departamento de pesca do estado, quase não faz nada a não ser carimbar autorizações regadas a privilégios e favorecimentos pessoais, e consequentemente sendo tratado como rei por sua posição e estabilidade, continua morando com os pais, mesmo estando acima dos trinta anos. Devido a uma reestruturação interna seu departamento quer realocá-lo de forma ostensiva até que ele peça uma indenização para abandonar definitivamente seu cargo. É nesta premissa que o filme se firma para mostrar todos os estereótipos possíveis da Itália tradicional, patriarcal e clientelista, pois Zalone representa um passado que o mercado globalizado não aceita mais.
Entre cenas impagáveis de trocas de funções constantes e o assédio moral sofrido por ele da assessora Sironi (Sonia Bergamasco), ainda existe uma grande sacada por parte do roteiro, também, de Nunziante de se apaixonar por uma idealista e moderna pesquisadora que o conhece no Polo Norte, tendo que aceitar seus três filhos de etnias diferentes e conviver com a polida população da Noruega.
A cultura do politicamente correto, consciência social e todas as teias do século XXI em sociedade são expostas de forma caricata, mas sempre funcional. O melhor de tudo está no fato da história ser uma alegoria da identidade do povo italiano de forma pop, regada a canções clássicas do “brega moderninho” na trilha, como ‘La Prima Repubblica’ cantada pelo próprio Checco. Só não é perfeito porque a edição peca pelo excesso de velocidade, não respeitando o tempo da piada, como a maioria das comédias de hoje, mas no fim das contas é um programão de fim de semana.