A inteligência de um homem pode ser sua salvação ou sua ruína. No filme ‘O Jogo da Imitação’, dirigido por Morten Tyldum (Headhunters), a genialidade de Alan Turing – um homem simples, considerado um gênio da matemática -, é tão importante quanto um dos principais eventos mundiais, a Segunda Guerra. O filme, que é uma adaptação da biografia “Alan Turing: The Enigma”, escrita por Andrew Hodges, estreia em 29 de janeiro nos cinemas de todo o país e concorre em oito categorias do Oscar 2015, dentre elas a de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.
No longa, o ator Benedict Cumberbatch interpreta o matemático e criptoanalista Alan Turing. O personagem principal se autodenomina “agnóstico sobre a violência”, mas aceita o desafio de decifrar os códigos da máquina Enigma, comandada pelos alemães durante a guerra. Desde cedo, Turing era habilidoso com cálculos, e, como qualquer gênio, era metódico e ponderado, mas possuía um intelecto de colocar inveja em qualquer um. Em meio aos seus rascunhos, o gênio da matemática cria um equipamento eficaz, capaz de decifrar os códigos, sendo considerado a partir de então, um cientista da computação. Homossexual, Turing é preso, processado pelo governo – pois era um crime ilegal na Inglaterra -, e castrado quimicamente, cometendo suicídio em junho de 1954.
Abordando um tema polêmico, o diretor entrega um filme edificante e desenvolve uma história exemplar, com nuances, ótimas atuações e um clima impressionante, sem esquecer-se em momento algum do real foco: a vida de um dos homens mais importantes do século XX, visto pela maioria das pessoas que o cercavam como perfeccionista, e, na maioria das vezes, com dificuldade de relacionar-se, mas completamente seguro de sua capacidade em desenvolver um método de desvendar códigos alemães que o governo inglês pensava ser inquebráveis.
É perceptível o imenso talento de Cumberbatch ao entregar-se ao personagem principal, que apesar de ter sofrido muita pressão durante o processo de quebra dos códigos, salvou muitas vidas. Mesmo um pouco contida, a atuação dele é eloquente e verossímil. A química com a atriz Keira Knightley, que vive a matemática Joan Clarke, é quase inexistente. Joan foi uma figura muito importante na vida de Turing, pois mesmo sabendo de sua preferência sexual, a moça esteve ao seu lado em todo momento e provou que realmente o amava, por meio de diversas atitudes. Além disso, Joan era a única mulher em um grupo formado por homens, confrontando a sociedade machista da época. O elenco composto também por Matthew Goode, Allen Leech, Matthew Beard, dentre outros, é muito bem aproveitado e segue à risca o roteiro proposto. Os parceiros de Turing foram peças importantíssimas no desenrolar da trama.
Mesmo o filme tendo um ritmo lento em algumas partes, a presença de bons diálogos compensa as falhas e segue o curso da obra de Hodges. A vida de Turing é dividida em três fases – a infância, a adolescência e a juventude – e, mesmo assim, o diretor não desvia a intenção em contrapor a vida do matemático com as cenas da Segunda Guerra Mundial. Contar a vida de Turing emociona e nos faz torcer para que ele consiga ser bem sucedido.
Além disso, a equipe de figurino, liderada por Sammy Sheldon, foi fiel aos trajes típicos dos personagens em questão. A parte estética e artística, utilizando a alfaiataria, desde os suspensórios aos sapatos, é original e remete à indumentária inglesa usada na época. Além disso, a fotografia do filme é algo surpreendente. As principais cenas foram gravadas em locais como a ex-escola de Turing, Sherborne e Bletchley Park, onde ele e seus colegas trabalharam durante a guerra.
A importância de Alan Turing é tão grande para a história que em 31 de janeiro, o elenco e os realizadores do longa receberão uma homenagem da Human Rights Campaing (HRC), organização que defende os direitos do público LGBT. O diretor da organização, Chad Griffin, reconheceu e destacou que Turing foi muito importante, que desenvolveu um pensamento revolucionário e determinante. Entretanto, sofreu muito por ser homossexual e não ter tido o direito de continuar suas pesquisas, levando-o ao suicídio.
Vivendo em um período difícil, o matemático antissocial, é uma “peça” essencial perdido dentro de um quebra-cabeça inglês, em um cenário em que o governo apenas soube chantageá-lo, cobrá-lo e levá-lo ao extremo, em troca de salvar vidas. Por isso, Alan Turing merecia maior reconhecimento, por ter sido uma figura essencial na história mundial.
Trailer do filme: