A história de ‘O Jovem Messias’ retrata Jesus saindo de Alexandria, Egito, a caminho de Nazaré. O filme aborda como José e Maria sustentam a situação de conviver com o escolhido por Deus, tendo que esconder os poderes do menino e não saciando todas as dúvidas de Jesus, que ao fazer seus milagres, fica sem compreender como e por quê eles ocorrem.
Sempre em época de Páscoa, filmes religiosos tomam as sessões dos cinemas à fim de satisfazer seus seguidores e admiradores contando histórias bíblicas. Em ‘O Jovem Messias’ a tentativa de contar a história da infância de Jesus não foi o bastante para obter um resultado positivo, nem mesmo a imponência de Sean Bean sustentou as falhas de roteiro e a fraca inspiração vinda dos livros de Anne Rice.
O filme é como o previsto, leve e com clichês vistos em todas as outras histórias já filmadas do gênero. Se você espera se surpreender com um olhar diferenciado sobre esses contos, esse com certeza não é o filme que você está esperando. Mas, se filmes como ‘Desafiando Gigantes’ e ‘Deus não está Morto’ te agradam, ainda existem poucas chances para o ‘O Jovem Messias’ na sua lista de promessas do ano. Com uma trilha de cantos líricos, arpas, tambores e violinos, o filme não se arrisca, e todo sentimento que ele quer dar é uma versão genérica do que deveria realmente ser. Com os piores antagonistas das últimas tentativas cinematográficas sobre a vida de Jesus, vemos um Diabo (Rory Keenan) numa caracterização de chacota, como se o ser da dúvida e da mentira fosse somente o príncipe da piada. Como um lobo que assusta crianças de até 13 anos, Lúcifer tem californianas no cabelo e uma barba muito bem-feita. E nem vamos lembrar do feito da maçã logo no início do filme, se aquela cena foi uma tentativa de maldade, pareceu mais uma cena que estamos habituados a vermos em ‘Chaves’ e sua turma à espera do Senhor Barriga, mas vamos pegar leve com o príncipe das trevas, pois Herod (Jonathan Bailey), o rei, é tão fraco e mal dirigido que nos assusta mais que o demônio, não da forma boa que deveria, mas pela sua péssima atuação e por vezes pecaminosa crise de não ser nada vilanesco, se tornando até cômico em alguns momentos. José (Vicent Walsh) e Maria (Sara Lazzaro) são as tentativas, mas não espere mais que isso deles, eles se esforçam, mas o material é muito superficial para o peso que deveria ser.
A direção de Cyrus Nowrasteh, edição e montagem, são muito mal executadas ao decorrer do filme, o descaso e a falta de envolvimento, em querer mostrar a história é visível. Pense, você tem o maior líder da história nas mãos, a criação desse ser é algo incrível, mas não, o filme fica perdendo tempo com milagres e não filosofias ou aprendizados. A repetição desse filme é degradante, o diretor repete atos diversas vezes, fazendo você se perguntar se aquilo é relevante ou se de fato ele acha que não temos a capacidade de entender que os poderes de Jesus curam e que a fragilidade de uma criança pode ser vista até no filho de Deus. A filosofia e os ensinamentos são pouco utilizados, uma das poucas partes em que o filme instiga interesse é nas duvidas de Jesus, numa abordagem que poderia ser desenvolvida brilhantemente, mas nunca se caminhava além disso. Ficamos estagnados em um garoto cheio de dúvidas para dois adultos que não podem responder, pois ambos não acham que o garoto suportaria a verdade, justificativa dada após José e Maria pedirem para o menino arquitetar um milagre.
Uma outra questão é que o “casting” de elenco do filme se preocupou tanto com a aparência de Jesus (Adam Greaves-Neal), que se esqueceu de averiguar algum talento no garoto, como se o personagem ser Jesus bastasse para você gostar dele e relevar toda a falta de emoção que o personagem carrega. Entretanto, o erro do filme é que o menino nunca cai na sua graça, e se o protagonista, o escolhido, o filho do dono, não faz você se preocupar com ele, é por que a construção do personagem é muito descuidada. Por outro lado, Severus (Sean Bean) tem imponência e presença, sendo o personagem mais relevante da trama, porém ele não tem muito material para atuar, fica sempre recebendo ordens de alguém que aparenta ter menos peso que ele, e em algumas cenas é visível que ele não queria estar ali. Os pontos fortes do filme são a fotografia muito bonita, com planos abertos enaltecendo sempre as paisagens, e o personagem do Tio de Jesus (interpretado por Christian McKay), pois ele é o pedaço mais agradável do filme, mas que levemente é esquecido conforme a história vai correndo.
‘O Jovem Messias’ é um filme preguiçoso, genérico, que não deixa seu público pensar, sempre coloca uma cena a mais querendo explicar o que houve, e quando não faz isso ele simplesmente vai manipulando como você deve se sentir a cada cena, e ele falha miseravelmente nisso. É um filme que fala sobre crença, mas o que ele menos tem é alma.