Um chefe sem graça metido a engraçadão, um trabalho monótono que demanda mais do seu tempo do que deveria, um relacionamento fracassado e já acomodado. Tudo isso é assunto mais do que conhecido por basicamente qualquer adulto da atualidade e são todas situações que Guilherme (Fábio Porchat) enfrenta em sua vida, até que num fatídico dia sua vida desaba quando ele é demitido do emprego por uma sacanagem corporativa e ao chegar em casa descobre que sua namorada Luciana (Letícia Lima) não só estava o traindo como decidiu sair de casa. Sem emprego, sem relacionamento e sem perspectiva, Guilherme chega no aeroporto do Rio de Janeiro e num súbito momento de espontaneidade, ele toma o lugar de um homem chamado Marcelo sem ter a mínima ideia de quem é esse.
É claro que Guilherme está apreensivo sobre sua decisão louca, mas quando ele conhece Denise (Dani Calabresa), a mulher que contratou Marcelo, muda de ideia e leva a loucura mais a diante. Denise contratou Marcelo para dar palestras motivacionais para os funcionários da empresa que ela herdou do pai, onde é odiada por todos e tenta usar o retiro num resort para aumentar sua moral. A partir daí você provavelmente já sabe o que vai acontecer.
“O Palestrante”, escrito por Fábio Porchat e Cláudia Jouvin e dirigido por Marcelo Antunez, não inventa a roda, mas qual foi a última comédia romântica que o fez? Considerando a quantidade de comédias produzidos pela indústria de cinema brasileira, podemos dizer até que “O Palestrante” é uma raridade, já que comédias românticas não aparecem tanto por aqui, ainda mais uma comédia romântica como essa, que segue bem o molde do gênero, com direito aos clichês que amamos. Aqui a diversão não está em reviravoltas ou finais surpreendentes, e sim em ver toda a jornada da história, com uma grande ênfase nos personagens que fazem um filme realmente especial.
Fábio Porchat e Dani Calabresa atuam juntos pela primeira vez e conseguem transformar sua intimidade de amigos da vida real em química romântica para seus personagens, nos fazendo torcer pelo casal desde o começo. É especialmente interessante ver Dani Calabresa fazendo um papel tão diferente dos seus usuais, Denise é uma mulher mais séria, passa por momentos dramáticos e Dani faz muito bem esse papel, provando ser uma atriz, além de uma comediante. No entanto, não é só dessas duas estrelas que o filme é feito – muito pelo contrário, o filme conta com um elenco composto dos melhores comediantes brasileiros nesse momento: Otávio Muller, Maria Clara Gueiros (ambos dando uma credibilidade maior ao elenco jovem, como eles mesmos comentaram durante a coletiva de imprensa), Antônio Tabet (que traz de volta a figura do Peçanha, que sempre fez tão bem e agora está ainda melhor), Letícia Lima, Débora Lamm, Miá Mello, Paulo Vieira, Rodrigo Pandolfo e até uma participação especial de Evandro Mesquita.
Nenhum personagem de “O Palestrante” está lá à toa, todos (graças à maestria do time de atores) são superengraçados e levam o roteiro simples, mas eficiente, a outro patamar. É evidente que muitas das cenas contêm improvisos, o que torna tudo muito mais divertido de se assistir. A direção de Marcelo Antunez deixa um pouco a desejar, optando pelas opções mais simplórias em praticamente todos os momentos, mas o carisma do elenco e a doçura da história acabam compensando.
O humor do filme também merece menção honrosa, mesmo tendo sido filmado em 2018, todas as piadas são atuais, engraçadas e em momento algum são ofensivas, mesmo quando tiram sarro da profissão de coach motivacional, que muitas vezes já é uma piada pronta. Todos podem assistir, todos podem rir e ter uma boa experiência nos cinemas.