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Em seu novo trabalho o diretor e roteirista estadunidense com descendência italiana, Abel Ferrara, consegue traçar contornos nos aspectos mais abrangentes e menos nocivos na figura de Pier Paolo Pasolini. Poeta, cineasta, marxista, homossexual, filósofo, brilhante e sem medo de falar o que pensava, ainda hoje é grande referência do cinema italiano. Ferrara é um versátil diretor (já dirigiu diversos gêneros como suspense, fantasia, ação), mas não dispensa o drama, coisa que não falta em sua filmografia.

PASOLINI 1

Pasolini tinha uma queda por temas escandalosos, tanto que seu último trabalho como diretor foi o controverso “Saló – Os 120 Dias de Sodoma” onde de maneira característica única, fez uma crítica bastante pesada sobre o abuso de poder do ser humano sobre a classe proletária com cenas chocantes. Mas, se deve admitir que é muito bem arquitetado. No entanto, seu filme “O Segundo Evangelho de São Mateus”, foi o único filme sobre Jesus Cristo que a Igreja Católica considerou como fiel à história como relatada na Bíblia.

PASOLINI 2

O filme mostra os últimos momentos de vida de Pasolini, assassinado há quarenta anos atrás em Roma, na estação ferroviária Termini, ponto de prostituição de pederastas. Antes de ser executado a golpes de pauladas, ele visitou a mãe, entrou em contenda com seus amigos mais próximos por aconselhá-lo a parar de afrontar o lado democrático cristão da Itália e foi entrevistado por seu trabalho recente “Saló”. Em 2 de novembro de 1975, Pasolini foi encontrado morto. Seu algoz, Giuseppe ‘Pino’ Pelosi, um michê de 17 anos confessou o crime, mas há diversas especulações de que a morte dele seria por conta de conspirações políticas ou religiosas. Na noite anterior por volta das 22 h e 30 min; Pier sai com seu carro, Alfa Rome,o para ir em busca de rapazes para diversão. Dessa busca, encontrou o jovem Pelosi que viria a tirar sua vida horas depois junto com outros garotos de programa. Os dois teriam ido a um restaurante, jantado e conversado. Ao saírem do restaurante, partiram para praia de Ostia, onde o assassinato ocorreu.

PASOLINI 3

Sem qualquer referência de que se trata de um mandato, Ferrara não se encarrega de tentar desvendar ou revelar o que de fato teria levado alguém a assassina-lo. Ao ser questionado sobre se ele iria escandalizar mais uma vez, eis que que ele responde com precisão ”eu penso que escandalizar é um direito. Ficar escandalizado é um prazer”. No fim de sua entrevista, observa-se Pasolini de modo donairoso sugerindo um título muito peculiar para uma peça “Estamos Todos em Perigo”. Nos diálogos, nota-se também que ele não se permite ser provocado. Ele permanece em um quarto de edição assistindo cenas e analisando seu último longa.

PASOLINI 5

Dafoe, um ator que não esconde sua atração por personagens fortes (exemplo disso é o Cristo que interpretou em “A Última Tentação de Cristo” de Martin Scorsese, que foi considerado uma blasfêmia e abominado pela Igreja e pela mídia italiana) e histórias intensas. Sua interpretação como Pier é impactante tanto pela semelhança física quanto pela forma gestual. Dafoe esteve em Roma para entrevistar amigos e familiares de Pasolini e com informações preciosas sobre ele, conseguiu uma atuação estonteante. Não bastasse isso, ainda filmou em locais onde o diretor passou seus últimos momentos e usou suas roupas e óculos concedidos pelos familiares. O resultado superou as expectativas. Mas, há uma cena memorável e comovente que fica sob a responsabilidade de Adriana Asti que interpreta a mãe de Pasolini, que é a reação dela quando recebe a notícia.

PASOLINI 6

Todos os que surgem são de fato pessoas reais. Não deixa de ser curioso a interpretação do ator veterano Ninetto Davoli. De origem italiana, era um dos atores que o próprio Pier Paolo Pasolini adorava trabalhar. Davoli desta vez interpreta Epinanio (que também ganha espaço seguindo uma estrela cadente em Roma até a cidade de Sodoma habitada e dividida entre gays e lésbicas que uma vez por ano fazem reuniões de orgias sexuais para procriar), enquanto Davoli é interpretado pelo também italiano Riccardo Scamarcio.

William Defoe sul set del film di Abel Ferrara sulla vita di Pierpaolo Pasolini

O espectador testemunha todo o ocorrido dos últimos instantes de uma mente magnífica e anseia para saber mais sobre os trabalhos, suas reflexões, quem era ele de fato. Ferrara consegue abstrair todos estes ângulos e realizar uma obra excelente. O filme consegue surpreender por ir direto ao ponto sem deixar com a impressão de que o público irá ser tragado por sequências maçantes. “Pasolini” é conduzido com pulso firme de cinema-verdade intervindo um universo “pasoliano” o qual muitos fãs adorariam explorar e conhecer com mais profundidade. Afinal, Pasolini era Pasolini e isso já basta.

Tralier do Filme:

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