Pimenteiros de plantão! Vamos dar início à essa terra desconhecida que não se encaixa nos grandes lançamentos. Daremos o nome de ‘Perdido nas Prateleiras’, aqui temos a intenção de falar sobre produções valiosas que passam despercebidas no nosso radar. Uma vez por semana (sexta-feira) falaremos sobre alguma obra não tão comentada quanto as mais festejadas, coisas que estão por aí e talvez você não conheça, e se você conhecer, compartilhe essas raridades que merecem a atenção de todos.
Nada mais justo que começar com uma história profundamente bela, que tem seus personagens implorando para serem percebidos ou ao menos reconhecidos como iguais pelo mundo, pelo que sentem e não pelo que são. Pegando onda no novo romance recém-lançado: ‘Como Eu Era Antes de Você’, traremos um dos mais espetaculares romances já feitos, um curta-metragem de um dos nossos diretores prediletos: Spike Jonze. Ok, vamos dizer que você não gosta de curtas, acredito que este é um bom motivo para você mudar de ideia, e um prato cheio para quem gosta do gênero ou já conhece o diretor dos excelentes: ‘Ela’ (2013), ‘Onde vivem os Monstros’ (2009), ‘Quero Ser John Malkovich’ (1999) e ‘Adaptação’ (2002).
Em 30 minutos, ‘Estou Aqui’ pincela lições sobre sentimentalismo que muitos filmes tentam em quase 2 horas e não conseguem. É uma história onde quem realmente sente são os robôs. Spike Jonze mostra através de Sheldon e Francesca que respirar ou ter um coração não nos torna iguais, mas sentir é o que nos faz melhores. Esses robôs transbordados com sentimentos humanos nos dão uma perspectiva diferente de doar-se pelo próximo.
Doar-se por alguém muitas vezes é explanado através da velha metáfora da metade da laranja. Mas Sheldon vai além, e nos dá outra percepção sobre esta história. Ele prova que não é preciso ser metade de nada ou de alguém, por mais forte que isso possa parecer no curta. Não acredite no que é escancarado, essa história é feita para interpretar, refletir e não apenas consumir. Sheldon nos explica com gestos que ser a metade é uma eterna espera para se tornar completo e nunca um alcance verdadeiro disso. Ser a laranja por completo e não metade, é como deve ser. Estar seguro do que sente não é perder suas peças, mas entregá-las para quem as mereça.
Spike Jonze domina a arte de nos mostrar laços e relações humanas da forma mais pura que se possa encontrar, sempre alcança o ponto certo e sem exageros. Seja através de uma relação entre robôs ou por conta de uma paixão de um homem por seu celular, a forma como ele aborda o quão danificados somos, nada mais é que um pedido de ajuda, já que vivemos esta eterna procura por algo ou alguém que nos entenda e seja parte de nós.