Alguns filmes são produzidos para um público bem específico, voltados para agradar uma faixa etária e gênero escolhidos. ‘Perfeita é a Mãe!’ (‘Bad Moms’) é um longa-metragem criado especialmente para mulheres, principalmente mães, ainda melhor para uma sessão onde os espectadores estejam acompanhados das próprias progenitoras, por isso seria um filme ideal para um entretenimento fugaz no dia das mães. Entretanto, as pessoas que estão fora deste público alvo e contexto, seja em idade ou gênero, provavelmente não vão ter a mesma satisfação ao vê-lo. É uma espécie de mistura de ‘Sex And The City’ com ‘Se Beber Não Case’ (‘The Hangover’), só que exclusivamente do universo materno. As personagens vivem experiências independentes e empoderadoras como no primeiro citado e se divertem insanamente como no segundo.
Não quer dizer que se trata de um longa-metragem que não pode ser apreciado por homens, mas vai exigir um maior poder de empatia, para que estes gostem. Será necessária uma imaginação mais elaborada, para que um público do sexo masculino o aprecie, eles vão precisar associar as personagens a uma amiga, irmã, mãe, esposa, para que entrem no clima e se divirtam com o filme. Porém, como a maior parte do espectador médio não está disposto a este tipo de envolvimento mais exigente é provável que eles não gostem.
‘Bad Moms’ é dirigido por Jon Lucas e Scott Moore de ‘Finalmente 18’ (‘21 & Over’) de 2013, que foi seu primeiro trabalho na direção, e ambos são roteiristas da já citada franquia ‘Se Beber Não Case’. Em ‘Finalmente 18’ eles já adaptavam os aspectos mais populares de ‘The Hangover’, para uma temática “jovem-adulta” universitária. Assim como em ‘Se Beber Não Case’, ‘21 & Over’ já se destacava por um elenco competente e bem escolhido, além de um roteiro com piadas que funcionavam com qualquer público, por utilizarem um humor físico e visual. O aspecto negativo sempre esteve no fato de as narrativas se apoiarem em um humor “politicamente incorreto”, beirando o vulgar e que vai se tornando familiar e cansativo, para um público intelectualmente mais exigente.
Agora em ‘Perfeita é a Mãe!’ a fórmula se repete, adaptando as piadas para uma realidade feminina e materna. Temos novamente as mais diversas situações constrangedoras onde as personagens fazem quase qualquer coisa em nome da “curtição”. Claro, que devido a temática, as piadas são mais leves, sem nudez, bebida e drogas. As circunstâncias satirizam os diferentes contextos que estressam as mulheres, esposas, mães (casadas ou solteiras) todos os dias. O longa brinca com as reuniões e eventos escolares, com as responsabilidades profissionais e domésticas do cotidiano.
O elenco do filme é muito competente e bem escalado. Mila Kunis interpreta de forma convincente a personagem Amy Mitchell, uma jovem mãe recém separada, que tem que lidar com o acumulo de responsabilidades deixadas pelo ex-marido ausente. Kristen Bell vive Kiki, a personagem mais “mãe padrão”, mas que se revolta com o marido autoritário, que a pressiona, mesmo com o fato de ela ser mãe de gêmeos. Kathryn Hahn encarna Carla Dunkler, a mãe de idade mais avançada, que tem um filho mais velho e que afoga as frustrações na bebida e num modo de vida mais desleixado, protagonizando os diálogos mais engraçados, por sua linguagem desbocada e sua ninfomania. Por fim temos Christina Applegate, interpretando a aparentemente “mãe perfeita” Gwendolyn James, que inferniza as outras exigindo uma “excelência materna”, fazendo com que elas disputem contra ela uma eleição escolar.
Tecnicamente o longa-metragem não traz nada significativo que o destaque, pois mesmo a sua intenção de desconstruir a maternidade não é muito bem-sucedida, por tentar fazê-lo com uma abordagem que não tem nenhum peso dramático. O roteiro escrito com um enredo desenvolvido num ritmo frenético, não deixa espaço para reflexão sobre as dificuldades dos acúmulos de funções femininas na sociedade moderna, outros filmes como ‘Não Sei Como Ela Consegue’ de 2011 e o nacional ‘Minha Mãe é Uma Peça’ de 2012, também comédias, fazem isso de forma mais eficaz. ‘Perfeita é a Mãe’ pode fazer algum sucesso com o público-alvo, porém é bastante limitado mesmo dentro do contexto que pretende atingir.