Pouco carisma e falta de personalidade prejudicam “O Assassino – O Primeiro Alvo”

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Você, espectador frequente ou casual do cinema, já deve ter percebido que um grande meio que os estúdios têm explorado é a criação de franquias, de diversos gêneros e estilos. 8 filmes do Harry Potter, 8 Jogos Mortais, 14 dos Transformers, 10 dos Velozes e Furiosos e por aí vai. O motivo? Alguns filmes – baseados em livros, por exemplo – realmente precisam de um começo, meio e fim da história como um todo. Mas, o cinema é uma das indústrias que mais movimenta dinheiro no mundo e seria ingenuidade não pensar que algumas franquias são pensadas especialmente para gerar bilheteria e, consequentemente, lucro.

Um dos problemas que eu enxergo nisso é a forma como os filmes são pensados. Tendo o conceito de franquia em mente, os estúdios parecem pensar mais em como “construir um universo” do que simplesmente contar uma boa história e, se o filme for bem aceito, pensar no passo seguinte. Recentemente, tivemos o exemplo de “Rei Arthur: A Lenda da Espada”.

Outro problema é quando o primeiro filme vai muito bem de crítica e público e os estúdios se acomodam, tentando superar o anterior com orçamento maior, mas não se preocupando com a história em si, caso de “Kingsman”, que explicarei melhor em outra análise. Eles se esquecem que, acima de tudo, cinema é sobre contar histórias interessantes para as pessoas.

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Favorecido pelos intermináveis conflitos políticos ao redor do globo, o thriller de espionagem é um subgênero frequentemente explorado dentro do cinema de ação. Essa semana estreia “O Assassino: O Primeiro Alvo” – péssima tradução para o original “American Assassin” -, dirigido por Michael Cuesta e estrelado por Dylan O’Brien (“Maze Runner”) e Michael Keaton (“Birdman”). O filme parece surfar na onda de outros “irmãos” de gênero, como “Operação Sombra: Jack Ryan” (2014) ou “Jack Reacher 1 e 2” (2012 e 2016, respectivamente).

Assim como os outros citados, “O Assassino” é baseado em uma série de livros, onde Mitch Rapp (O’Brien) é um agente anti-terrorismo que trabalha para a CIA. Os best-sellers, escritos por Vince Flynn, são extremamente bem-sucedidos, tendo vendido 20 milhões de cópias até 2015. A história é a seguinte: Mitch é um jovem traumatizado pela perda dos pais quando ainda era criança, e para piorar sua recém noiva é executada por terroristas em uma praia em Ibiza. Assim, ele decide ir atrás de vingança se infiltrando na célula terrorista, até ser recrutado pela chefe da CIA Irene Kennedy (Sanaa Lathan) para usar sua raiva por um bem maior, proteger seu país.

Claramente a ideia do filme era explorar a onda de atentados terroristas cada vez mais frequentes na Europa e transformar em algo maior, que pudesse se tornar um assunto de preocupação global. Entretanto, a ideia não é bem explorada, pois acaba caindo no clichê da ameaça nuclear, abrindo mão da boa premissa que foi estabelecida. A cena de abertura é visceral e cruel, impactando de cara o espectador. Naturalmente, esperava-se que o filme mantivesse esse mesmo tom “pés no chão”, mas ocorre o oposto, cada vez mais a trama fica burocrática e desinteressante, especialmente pelo patriotismo exagerado no discurso dos personagens – a frase “vamos destruir o imperialismo americano” é repetida até cansar.

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O maior problema do filme é a falta de personalidade. Lembrem-se que no cinema não importa tanto se a história já foi contada e sim a maneira como ela é contada. Filmes como “O Assassino”, “Jack Ryan” e “Jack Reacher” parecem sofrer dos mesmos problemas, não trazem nada de especial nas cenas de ação e as tramas normalmente são simples, mas intencionalmente burocratizadas para parecerem “inteligentes”, o que não são, não há necessidade de enganar o espectador. No caso de “O Assassino”, para piorar, Dylan O’Brien se mostrou um ator muito “verde” para esse tipo de papel, sem o carisma e vigor de Chris Pine ou especialmente Tom Cruise – protagonistas dos outros filmes mencionados. Sem um protagonista forte, esse tipo de filme é fadado ao fracasso.

Michael Cuesta já se mostrou um diretor bastante competente. Um dos meus pilotos de série favoritos, “Homeland”, foi dirigido por ele. No entanto, parece que ele domina a estrutura de uma narrativa política, mas não sabe desenvolver bem sequências de ação. Com um bom roteiro, como teve na série, seu trabalho se sobressai. Mas com o fraco roteiro deste filme, pouco pôde fazer.

Há elementos positivos, como o discurso de que o que é a Guerra senão explorar o ódio e a fragilidade das pessoas para transformá-las em soldados e lutar em combates para benefícios e interesses de governos – muitas vezes corruptos. Mas é incrível como o filme sempre busca soluções fáceis para resolver suas questões – incluindo o clímax final absurdo -, deixando o espectador sempre com a resposta “mastigadinha” no final das contas.

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É aí que entra a figura de Stan Hurley (Keaton), um oficial que treina soldados de alta performance. Os combates são cheios de testosterona, com sangue respingando na câmera, Keaton mostrando que ainda está em forma e até um ensaio de treino psicológico, com tecnologias modernas – ferramentas parecidas são realmente usadas nos treinamentos reais. Mas, no filme, tudo parece fabricado demais para funcionar com plausibilidade.

O filme tenta estabelecer uma relação mentor/aluno mais psicológica, fugindo do estereótipo do general sádico e durão, cheio de xingamentos (como no clássico “Nascido para Matar”, entre outros), trazendo um lado mais humano para os personagens. No entanto, a história do protagonista é muito fraca para sustentar todas as suas motivações em campo, e seu personagem poderia ter sido muito melhor desenvolvido.  A moral, por exemplo, deveria ser Mitch aprendendo que o foco na missão é mais importante do que a vingança pessoal, mas isso jamais fica claro. E não foi uma tentativa genial de subverter a mensagem deixando o protagonista ambíguo, foi pouco cuidado com o roteiro mesmo.

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Assim, quando uma grande quantidade de plutônio troca de mãos, o filme muda de tom e se foca na ameaça nuclear contra o oriente médio. Mitch continua no seu dilema de ser esquentadinho e deixar a emoção acima da razão enquanto Michael Keaton tem um momento overacting que deixaria o temperamental Nicolas Cage morrendo de inveja. Ah, Taylor Kitsch surge na trama em determinado momento, agindo por conta própria e há um agente “duplo” infiltrado – como não poderia faltar.

Concluindo, “O Assassino: O Primeiro Alvo” tinha potencial para mostrar como um assassino matador de “caras maus” é criado, como o slogan sugere, mas desperdiça essa ideia com sua mensagem de patriotismo escancarada, mesmo sem mostrar por que os EUA são os “mocinhos” na Guerra, deixando uma mensagem confusa e equivocada. Mas, além do discurso incorreto, o que decepciona mais é a falta de tensão e reviravoltas blasés, que deixam a trama bastante previsível.

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Poderia ter se levado menos a sério e pensado mais em divertir o espectador, mas pelo contrário, a atmosfera é muito sisuda e pouco convincente (onde o riso surge as vezes de vergonha alheia), as cenas de ação são simples e genéricas e o protagonista é bastante desinteressante, elementos que em um filme de ação, são fatais. Repetindo, o maior problema com o filme é a falta de personalidade. Fica para o estúdio a expectativa de uma possível sequência, embora eu considere bastante improvável.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!

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