“Relatos Selvagens/ Relatos salvajes” de 2014 é o escolhido pela Argentina, para concorrer ao Oscar 2015. Dirigido por Damián Szifrón e produzido por Pedro Almodóvar é um filme dividido em seis antologias. Apesar de ser uma comédia hilariante, que prende a atenção e causa gargalhadas em meio a cenas que deveriam chocar, o longa metragem não exclui a crítica social em seu discurso. Encontramos uma reflexão sobre a intolerância, as diferenças de classes, a burocracia do governo, as relações pessoais conflituosas, bem como um retrato de como o ser humano pode ser mesquinho e violento por motivos medíocres e fugazes.
Temos situações como a que várias pessoas descobrem que estão reunidas por um motivo em comum. Um personagem de ética questionável, que descobre como suas ações podem ter uma consequência fatal, quando menos se espera. A típica briga de transito, que geralmente é encorajada quando se tem a falsa sensação de segurança do automóvel. O cidadão que se estressa com os absurdos do estado burocrático. A discussão sobre o matrimônio, durante um casamento para lá de bizarro, que parece ser a única a acabar bem ou não. E por fim a família de classe média alta que tenta se safar utilizando seu dinheiro e despertando a ganância de todos ao redor.
Os contos lembram muito o estilo de Quentin Tarantino, com cenas violentas, mas engraçadas, tornando as narrativas tragicômicas. No elenco destaca-se Ricardo Darín, que cada vez mais tem sido alçado ao patamar de entidade do Cinema da Argentina. Aliás já faz muitos anos que os “hermanos” vem produzindo películas excelentes, como o recente ganhador do Oscar de Melhor Filme estrangeiro, “O Segredo dos Seus Olhos/ El Secreto de Sus Ojos” de 2009, incluindo-se comédias. Comparado ao Brasil é uma incógnita, como não conseguimos produzir filmes com o mesmo sucesso de público e crítica.
Szifrón dirigiu e roteirizou produções anteriores, em sua maioria para a televisão, como seriados e dois longas para o cinema “O Fundo do Mar/ El Fondo Del Mar” de 2003 e “Tempos Valentes/ Tiempo de Valientes” de 2006, com quase nenhuma projeção mundial, mas onde já se podia vislumbrar sua competência. Em Relatos Selvagens ele demonstra ser um diretor excepcional, pois não é fácil criar um longa-metragem dividido em seis narrativas, que consiga comunicar tanto em tão pouco tempo e prender a tenção de forma tão eficaz. Seu estilo difere até mesmo dos ótimos filmes do cinema argentino dos últimos anos, se tivermos que comparar com algo seria com produções de Tarantino e Robert Rodriguez como “Grindhouse” de 2007, mas sem perder a verve latino-sul-americana de ser.
Selecionado pela Academia para concorrer entre os cinco finalistas de melhor filme estrangeiro em 2015, não seria exagero afirmar que ele desponta como favorito. Aliás poderia até mesmo estar entre os dez concorrentes a melhor filme ou os cinco de melhor diretor. Cada uma das histórias deixa uma marca no espectador e dificilmente eles sairão da sala de cinema sem lembrar e comentar cada uma.
Trailer do filme: