Dirigido pelo baiano Aly Muritiba, o filme brasileiro “Deserto Particular”, vem fazendo barulho no exterior, onde foi ovacionado após sua exibição no Festival de Veneza, e até conquistando lá, o Prêmio do Público BNL 2021. Com estreia nos cinemas marcada para o dia 25 de novembro, ele foi o escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para representar o Brasil no Oscar 2022.
“Deserto Particular” conta a história de Daniel um policial que acaba cometendo um erro que coloca em risco sua carreira e sua honra. Quando nada mais parece o prender a Curitiba, ele vai até o sertão baiano à procura de Sara, uma mulher com quem ele conheceu virtualmente e começou uma relação amorosa.
A direção de Muritiba cria uma atmosfera intimista para a trama, ele consegue transmitir as relações dos personagens, mesclando os dramas românticos e familiares dos protagonistas Daniel e Sara. Além disso, o íntimo também aparece na singularidade de cada personagem e como o peso da sociedade interfere em suas vidas, conseguindo criar essas duas jornadas que procuram ter a sua libertação pessoal.
É criado um discurso muito poderoso sobre como os costumes sociais criam complexidades para os indivíduos entenderem o que sentem e por quem se apaixonam, e como devemos desconstruir a ideia do que é visto como o “jeito certo” pela sociedade. E isso é intensificado quando esse contexto é colocado nos tempos atuais, onde as pessoas se relacionam através das redes sociais.
O desenvolvimento dos personagens é também uma das melhores coisas do filme, durante todo o longa conseguimos entender os conflitos internos com interpretações memoráveis, principalmente, dos atores Antonio Saboia e Pedro Fasanaro, que conseguem transmitir os anseios de seus personagens através de gestos e atitudes, sem precisar de diálogos.
E muito dessa narrativa visual é também auxiliado pela ótima fotografia e direção de arte, que trabalham com iluminações vibrantes e cores quentes que constroem a atmosfera necessária para o enredo do filme.
“Deserto Particular” consegue ser muito rico em interpretações, o seu teor político sobre como é a situação atual de um país polarizado como o Brasil, é demonstrado de forma sútil por atitudes tomadas pelos personagens, principalmente, ao colocar como protagonista um policial, que se espelha no pai doente que um dia foi um militar cheio de honrarias. Sua visão tradicional é totalmente impactada por vivenciar um amor que nunca imaginou, criando um olhar empático, pois como o próprio diretor destacou em entrevista para a revista americana Variety, “‘Deserto particular’ pode levar Daniel a amar alguém que ele provavelmente nunca conheceria”.
Todo esse prestígio que o filme vem conquistando faz todo sentido quando a narrativa tem êxito em criar uma história profunda, mas que consegue se comunicar com o público sobre as formas de amor e evolução individual.