As Bestas
Director
Rodrigo Sorogoyen
Cast
Marina Foïs, Denis Ménochet, Luis Zahera
Writer
Isabel Peña e Rodrigo Sorogoyen
Company
Pandora Filmes
Runtime
137 minutos
Release date
25 de janeiro de 2024
“As Bestas”, filme do diretor espanhol Rodrigo Sorogoyen, começa com uma cena agoniante que mostra como homens imobilizam e matam um cavalo com suas próprias mãos, é uma cena curta, mas marcante, que fala diretamente com o título do filme e, como mais tarde podemos perceber, com os personagens e suas dinâmicas. O que se segue, é uma cena com clima igualmente sinistro, mas num cenário muito diferente. Um grupo de homens num bar conversam sobre trabalho e frivolidades, até que percebem a presença de Antoine (Denis Ménochet) e fica evidente que existem tensões entre eles. Em “As Bestas”, tudo é construído lentamente, mas as diferenças de Antoine e seus vizinhos e colegas de trabalho já estão consolidadas quando somos apresentados à essa comunidade rural na Espanha.
Inspirada num caso real, a trama segue o casal Antoine e Olga (Marina Foïs), franceses de classe média que se mudaram recentemente para essa pequena cidade e trouxeram consigo ideias para modernizar e revitalizar o local: novas técnicas de agricultura em sua horta, reformas de casas abandonadas para transformar em apartamentos para aluguel. O que pra eles é uma ação de boa-fé para com a comunidade, é visto pelos vizinhos como uma tentativa de gentrificação. A animosidade é ainda mais intensa por conta de um acordo que estava para ser firmado entre a comunidade e uma empresa de energia eólica, que oferecera uma boa quantia em dinheiro para que eles vendessem seus lotes, mas Antonie negou (dentre outros, poucos, vizinhos) e impossibilitou o andamento do negócio.
Por mais que os habitantes tivessem o direito de estar descontente com o casal, esse foi o estopim para acentuar problemas estruturais mais subjetivos: a xenofobia é latente, Antoine é constantemente referido como “o francês” em vez de seu nome, seu espanhol é criticado e ele e sua esposa são excluídos, com exceção de uma única família. “As Bestas” é um filme que cresce aos poucos, assim como a relação entre Antoine e dois vizinhos específicos: Xan (Luis Zahera) e Lorenzo (Diego Anido), dois irmãos que tomam ofensa pessoal nas atitudes de Antoine e passam a persegui-lo.
O filme é explicitamente dividido em dois atos, trocando de protagonista no segundo, quando Olga se torna nosso ponto de vista central. A história apresenta uma nova personagem, a Marie (Marie Colomb) filha do casal e as novas circunstâncias expandem a parte social do enredo, a xenofobia, a luta de classes e a gentrificação são um pano de fundo necessário, mas graficamente discretos quando um crime centraliza toda a atenção da trama e o cenário rural, fechado e escuro, presente desde o começo, vira o cenário perfeito para um suspense agonizante. A atmosfera que rodeia os personagens, até mesmo em suas relações mais leves e pessoais, é carregada de sentimentos conflitantes e faz da comunidade um ambiente hostil. Dentro desse propósito, o caminho mais fácil a ser escolhido seria o da ultra exposição, seja da violência, dos conflitos ou das discussões, mas Rodrigo Sorogoyen toma outra posição e prefere optar pela sutileza e pelo que não é dito, até mesmo em seu desfecho e, por mais que se possa argumentar que o clímax merecia um tanto mais de emoção, é indiscutível que ele conversa diretamente com tudo que foi, lentamente, construído até aquele momento.
Por Júlia Rezende