Estranho Caminho

O novo thriller brasileiro “Estranho Caminho”, dirigido por Guto Parente, finalmente chega aos cinemas brasileiros após estrear e ser premiado no Festival Tribeca. O filme se destaca por sua abordagem única dentro do cinema nacional, explorando temáticas atuais e um gênero fantástico não tão comum no Brasil.

A trama segue David (Lucas Limeira), um cineasta brasileiro residente em Portugal, que retorna a Salvador para a estreia de seu filme. Aproveitando a viagem, ele tenta se reconectar com seu pai, com quem não tem contato há mais de uma década. No entanto, a chegada do lockdown da Covid-19 o prende na cidade, forçando-o a enfrentar desafios emocionais e familiares.

Uma das maiores virtudes de “Estranho Caminho” é sua deslumbrante fotografia e coloração. Guto Parente, que pessoalmente cuidou da coloração, buscou referências meticulosas para criar uma narrativa visual impactante. O uso de uma luz clara e cores vibrantes mostra a beleza de Salvador, contrastando com a atmosfera mais sombria que permeia o filme. O uso do azul no início é crucial para definir a atmosfera que o diretor deseja transmitir.

A montagem é outro ponto alto, conversando perfeitamente com a narrativa e entregando momentos analíticos e sentimentais de forma coerente. As câmeras intimistas aproximam o espectador dos personagens, especialmente de David, permitindo sentir a claustrofobia e o desconforto de estar preso durante o lockdown. A relação de David com seu pai é tratada de maneira complexa, indo além do clichê de reconexão com um pai ausente, e explorando a verdadeira identidade dessa figura paterna.

O filme surpreende com um plot twist inesperado que mantém o espectador intrigado. Sem fornecer todas as respostas, Parente deixa espaço para interpretações, algo que se reforça na dedicatória ao seu próprio pai, esclarecendo parte da motivação por trás do filme.

As atuações são marcantes, com o ator Lucas Limeira, que interpreta David entrega uma performance sutil e verdadeira, especialmente nas cenas em que usa máscara, onde a expressividade de seu olhar é essencial. A cena do hospital, tocante e relevante, ressoa profundamente devido à recente pandemia, trazendo à tona memórias e sentimentos compartilhados globalmente.

“Estranho Caminho” é uma obra que se destaca não apenas por sua estética visual e narrativa bem estruturada, mas também por abordar temas universais e contemporâneos com sensibilidade e profundidade. É um filme que conecta o público com experiências pessoais e coletivas, reafirmando a capacidade do cinema de refletir e transformar a realidade.